terça-feira, 27 de agosto de 2013

Existe vida sexual no casamento?

Com o sugestivo título "Casamento indissolúvel ou relação sexual duradoura?", Wilhelm Reich provocou seus leitores a pensarem sobre suas vidas sexuais e amorosas.
Para ele, a maior dificuldade em uma relação permanente está no conflito entre o enfraquecimento do desejo sexual e o crescimento da ternura entre os parceiros.
Em quase todas as relações, mais cedo ou mais tarde, surgem períodos de fraca atração sexual ou até mesmo de ausência total de desejo, o que pode ser temporário ou, em muitos casos, definitivo.
Muitos homens e mulheres que entrevistei reclamaram de uma vida sexual "insatisfatória", "medíocre", "sem tesão", "rotineira", "burocrática".
A dura realidade é que, por mais que se ame o parceiro, a atração sexual não se impõe à força. Não adianta nada cobrar o interesse sexual do outro ou buscar solucionar o problema com truques e regrinhas de sedução. Na maior parte das vezes, a cobrança excessiva prejudica ainda mais o desejo sexual.
A situação pode ser ainda mais complicada quando o enfraquecimento do desejo ocorre em apenas um dos parceiros. O outro, que ainda sente atração, se sente rejeitado, desprezado, humilhado.
A existência de outros tipos de envolvimentos --como filhos, dependência econômica, medo da solidão-- podem tornar o sofrimento do casal ainda maior.
Homens e mulheres estão constantemente expostos a estímulos sexuais provenientes de fora do casamento. Quando a relação sexual se torna um dever ou um hábito, podem ser criadas situações de irritação ou até mesmo de ódio do parceiro, pelo fato de ele frustrar a realização do desejo sexual.
Mesmo assim, muitos casais permanecem juntos, tanto por acreditarem que se amam, quanto por dependências familiares, sociais e psicológicas. A relação conjugal pode se tornar, então, uma verdadeira tortura recíproca e prolongada.
É o que tenho observado em muitos casais que pesquiso. Eles estão insatisfeitos, frustrados e infelizes, mas não conseguem se separar. E, mais ainda, cobram a fidelidade do parceiro, mesmo quando já não sentem qualquer desejo sexual por ele.
Como conciliar amor, desejo sexual e fidelidade nos casamentos duradouros?
Eis a questão.


Texto de Mirian Goldenberg, na Folha de São Paulo

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