terça-feira, 26 de julho de 2011

Grécia: Da dinastia Papandreou, generosidade e dívida

Da dinastia Papandreou, generosidade e dívida

Por LANDON THOMAS Jr.

ATENAS - Na fundação que leva o nome de seu pai em Atenas, Nick Papandreou avaliou a tarefa que seu irmão George tem pela frente: desmontar o sistema de bem-estar social grego, erguido principalmente por seu pai, Andreas Papandreou.
"Este é o momento dele", disse Nick, um economista de 54 anos, sobre o atual primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou. "Apesar de ocorrer no pior momento da história grega".
É uma história de muitas maneiras definida por três gerações de premiês Papandreou. O primeiro, George, morreu em 1968, em prisão domiciliar imposta pelos militares. Depois veio Andreas, o carismático economista que estudou nos EUA.
Ele se tornou um herói com a redistribuição de riqueza que supervisionou nos anos 1980. Mas também aumentou muito a dívida grega -que era de 20% do PIB quando se tornou premiê e inchou para 80% em 1989. E finalmente há George Papandreou, que está sendo obrigado a impor um regime de austeridade que poderá reverter ganhos sociais conquistados por seu pai.
Muitos analistas políticos de Atenas questionam se o atual primeiro-ministro conseguirá vender ao público os cortes que os líderes financeiros da Europa estão exigindo.
A história da família Papandreou é cheia de ambiguidades. Andreas Papandreou, que morreu em 1996 depois de três mandatos, seria um agitador socialista que usou o dinheiro do governo para expandir a classe média e dar aos gregos uma maior sentimento de orgulho?
Ou foi um demagogo inclinado a escândalos, cuja noção do Estado como um banco de empregos ilimitado explica em grande parte a atual condição de quase falência do país? Não se discute muito que a onda de empréstimos começou sob Andreas. Nick Papandreou lembra dos dias áureos do povo no poder do início dos anos 1980, quando seu pai abriu o governo: o dono de uma lanchonete em Nova York se tornou ministro do Turismo, um encanador foi nomeado para dirigir um cargo oficial dos Transportes.
"A dívida cresceu, mas havia um benefício", disse Nick. "As pessoas ascenderam, no sentido da renda e da esperança".
Mas não é difícil encontrar pessoas que ponham a culpa pelos atuais problemas em Andreas.
"Andreas Papandreou corrompeu a psique grega e deu aos gregos uma cultura do 'eu posso' baseada em sua existência, e não em sua capacidade de trabalhar e assumir riscos", disse Jason Manolopoulos, administrador de um fundo de investimentos.
Nick, George e seus dois irmãos mais moços cresceram nos EUA, Canadá e Suécia, em um período em que seu pai foi um proeminente economista e ativista político fora da Grécia. Em seus textos, Nick descreve o pai como distante, muito ausente, e às vezes até abusivo.
Mas a vida de seu pai, diz Nick, foi marcada pelo conflito, pela paixão e pela suprema capacidade de se comunicar com o povo.
George, 59, é mais tímido. "Ele me disse muitas vezes que não queria ser premiê", disse.
Ainda assim, Nick diz que seu irmão pode fazer o que a Grécia precisa hoje. "Andreas poderia ter vendido o plano melhor no início", disse. Mas "George não vai ceder nessas reformas". Outros não têm tanta certeza.
Alguns dizem que o primeiro-ministro não tem o desejo de executar as enormes reformas econômicas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional e a União Europeia.
Alguns também questionam se ele tem a capacidade de comunicação -o grego é sua segunda língua- para explicar por que o país não pode mais manter o Estado que seu pai construiu.
"Andreas tinha a capacidade de sentir o clima do público", disse Louka T. Katseli, até recentemente ministro da Economia.
Mas nem todo mundo lembra dele com tanto apreço. Theodore Stathis, que foi membro de seus governos, lembra o excesso da década de 1980, quando o salário mínimo quase duplicou.
"Ele queria construir um Estado com salários e serviços melhores", disse. "Construímos um Estado tão grande que tivemos de continuar emprestando só para pagar suas despesas. Foi um erro terrível." Stathis hoje trabalha para uma pequena firma financeira nos Estados Unidos.
Ele disse que em 1993 Andreas Papandreou havia começado a aceitar que o Estado não podia viver só de empréstimos. Mas ele não poderia dizer o mesmo sobre o atual primeiro-ministro.
"George é uma pessoa ética e honesta", ele disse, cuidadosamente. "Mas ele perdeu tempo."



Comentário: Eu gosto desses textos do New York Times. Eles são honestos. Sempre que alguém reclama do bem-estar geral que os gregos chegaram a desfrutar, em parte conseguido através de empréstimos, esse alguém é ligado a instituições financeiras.

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