quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Aprender a morrer


Aprender a morrer


Maria do Carmo Ferreira


Olhar compadecido para as coisas
que nunca foram vistas, por se olhar
distraidamente, tentando-se adiar
o dom da vida que se faz presente

Olhar com os olhos, mas internamente.
Olhar com o coração, mais que os sentidos
que tudo captam e tudo dão ouvidos
salvo ao mistério que circunda a gente

Olhar como uma criança desarmada 
que no colo dos pais mais se abandona
ao fruir do instante que a contém e capta
toda a alegria de viver avante

Olhar intensamente para dentro,
mas com a sabedoria de quem sabe 
que não se nasce para morrer, mas sempre
se morre a cada instante em que se nasce

para ressuscitar gloriosamente
em outras dimensões que não nos cabe
viver antes que a morte nos frequente
a cada passo, desde a eternidade 

Na revista piauí, edição 182, novembro de 2021. 

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