sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Se Bolsonaro der o golpe, como serão os primeiros dias no Brasil sob esse ditador atípico?


Dia 1: A família é a célula mater da sociedade. Por isso, Jair Bolsonaro vai derrubar todos os pesos e contrapesos que impedem sua família de ser o Estado. O ponto mais urgente será atacado no primeiro dia —seus filhos investigarão, julgarão e punirão os esquemas de corrupção de seus filhos. STF, Polícia Federal, imprensa e todos os entraves para rachadinhas, trocas de favores, compra superfaturada de vacinas e negociação de imóveis em dinheiro vivo serão detonados.

Dia 2: Protegida por seu exército, a família Bolsonaro controlará a distribuição de gás, o fornecimento de gasolina, a luz elétrica, o transporte de massas e o gatonet. Paramilitares baterão de porta em porta para coletar as tarifas e, a fim de garantir a liberdade de cada comunidade, cobrarão uma tarifa.

Dia 3: Para acabar com a concorrência, Bolsonaro destituirá governadores e prefeitos.

Dia 4: Com os filhos protegidos e um esquema financeiro de pirâmide estatal montado, Bolsonaro passará o resto de sua vida como sempre quis, sem fazer nada. Vez ou outra fará uma ameaça, visando a continuidade da cultura do medo.

Dia 5: Para acabar com as fraudes nas eleições, Bolsonaro acabará com as eleições.

Dia 6: Para acabar com chantagens do Congresso, Bolsonaro acabará com o Congresso.

Dia 7: Bolsonaro andará de jet ski, comerá camarão com leite condensado e descansará.

Dia 8: Dada a alta da inflação dos alimentos, Bolsonaro tomará uma atitude drástica  —exigirá que a população compre alimentos somente de sua família. Eduardo fritará hambúrgueres a R$ 670, Flávio venderá chocolates e Carluxo assumirá a feira. De tarde, Bolsonaro jogará peteca com Malafaia.

Dia 9: A contragosto, Bolsonaro irá inaugurar uma loja da Havan com uma estátua sua.

Dia 10: Os indicadores serão péssimos. Inflação incontrolável, desemprego altíssimo, fome batendo recordes. Milícias rivais tentarão tomar o controle do Estado. Milhares morrerão diariamente por causa de doenças que seriam evitadas por vacinas. Em reunião de emergência com seus filhos, Bolsonaro resolverá agir —nomeará governadores para cada um dos estados brasileiros. Em seguida botará a culpa da crise neles.


Texto de Renato Terra, na Folha de São Paulo

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