quarta-feira, 4 de agosto de 2021

O Brasil dos bozoafetivos


voto impresso, exaltado pela seita bolsonarista, é a porta de entrada para retrocessos muito mais pesados. Deve ser barrado pelo Congresso, mas a sua discussão é uma pequena amostra do mundo distópico e reacionário sonhado pelos minions. O Brasil seria uma mistura de perda de direitos individuais, falta de empatia, desigualdade, violência e mau gosto.

Um lugar cheio de gente de "bem", defensora da "família", que expulsa filho homossexual de casa, obriga filha a abortar em clínica clandestina, enquanto chama feminista de puta. Para esse pessoal, criança pode apanhar, pode trabalhar, mas educação sexual nem pensar.

No lugar da cultura, teríamos exaltada a ignorância. Armas mais baratas e livros mais caros. Museus queimados, artistas demonizados, teatros abandonados. Saem as manifestações populares, entram os passeios de motos movidas a testosterona vencida. Liberdade de expressão só para quem passa pano para rachadinha e para perseguir jornalistas.

Só "gente de bem", que reclama de corrupção, mas suborna guarda de trânsito, compra vacina falsificada, faz racha de carro, dirige embriagada, não usa máscara, dá carteirada e quer ser chamada de doutora. Adeus cotas, coisa de "gente preguiçosa". Tchau igualdade de gênero, palavra que será banida dos dicionários e das conversas. Mulher de valor é submissa, pelo que andei lendo.

No país dos bozoafetivos, bandido bom é bandido morto, menos empresário bolsonarista sonegador, militar que recebeu auxílio emergencial e a familícia. Quem não estiver contente que vá para Cuba ou que se acostume a comer leite condensado no café da manhã, vestindo calça de tactel e chinelo rider.

Primeiro foi a cloroquina e o remédio para piolho, agora são as urnas eletrônicas. Quase 600 mil mortes são detalhe. Os minions vão às ruas protestar contra uma tecnologia que deu certo, a favor de um governo que é todo errado. E de mau gosto.


Texto de Mariliz Pereira Jorge, na Folha de São Paulo

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