segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Milhões torcem por Carol Solberg, que será julgada após 'fora, Bolsonaro'

 Na terça-feira (6), a atleta de vôlei de praia Carol Solberg será julgada por ter encerrado uma entrevista mandando não um beijo para sua mãe, para seus filhos e para a Xuxa —mas um bem gritado “fora, Bolsonaro” ao microfone. Para não esquecer, ela disse.

Curioso é que a seleção masculina de vôlei inteira fez arminha com as mãos em 2018, mas a Confederação Brasileira de Vôlei nem tchuns. Jogador de futebol que mete gol e faz arminha nunca foi punido. Já Carol vai enfrentar o tribunal. Alguma coisa a ver com ela ser mulher e não apoiar o presidente? Sim, claro ou óbvio?

“Fora, Bolsonaro” não é saudade do PT, não é nostalgia do Lula, não é delírio esquerdopata, não é contra Deus e a família, não é uma conspiração comunista. “Fora, Bolsonaro” é apenas a reação ao fiasco que é esse governo, ao que não rolou, ao que está feio. Só não é uma anedota porque não tem graça nenhuma. Ou alguém consegue rir de um discurso tatibitatemente mentiroso na ONU?

Vamos supor que Jair Messias fosse a pessoa que é, pouco ilustrada, pouco polida, sem o menor apreço por essa frescurada toda de cultura, mas houvesse se cercado dos tais técnicos que prometeu na campanha.

Um professor no lugar de um pastor importado diretamente do século 18. Uma pragmática em vez de uma fanática. Um letrado, e não um coitado. Um chanceler no posto de um maluco qualquer. Um economista com as ideias e os nervos no lugar. Um médico em vez de um general. Um ambientalista no lugar de um operador de patrola.

Quem sabe, diante de escolhas melhores, as coisas fossem diferentes. Mas que nada. Bolsonaro inventou o avesso da meritocracia. Quem se destaca pelo atraso e pela ruindade está garantido no governo dele.

Sem falar naqueles filhos. Os rapagões são a prova de que Paulo Freire estava certo, sim. Olha o que a falta de uma educação humanizada produz.

Agora, diante de mais um escândalo envolvendo as contas da primeira-dama, os órgãos oficiais lançam desmentidos que serão desmentidos e desmentidos novamente —e logo os R$ 7,5 milhões desviados entrarão para o folclore, a exemplo dos R$ 89 mil, que hoje parecem tão irrisórios.

Enquanto isso, Carol Solberg vai ao tribunal. Dessa vez, com a maior torcida que jamais teve, milhares de Copacabanas lotadas à espera de comemorar a absolvição dela gritando na janela. Adivinhe o quê.


Texto de Claudia Tajes, na Folha de São Paulo

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