quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O bacalhau e o segredo da existência da América

 Em busca de novas terras e riquezas, a partir do século 8 os viquingues fizeram diversas viagens marítimas para ocidente. Tinham aprendido a preservar o bacalhau, secando-o ao vento, e isso garantia alimentação nutritiva durante as longas viagens no mar.

Por volta do ano 1000, chegaram às costas do Canadá, onde se instalaram: foram encontrados vestígios de uma povoação nórdica na Terra Nova. Mas a presença durou pouco, e logo o segredo da existência da América se perdeu novamente para os europeus, até a chegada de Cristóvão Colombo em 1492. Ou será que não?

Na Europa da Idade Média, sujeita a inúmeras restrições religiosas ao consumo de carne de animais terrestres, havia forte demanda por carne de baleia. Os pescadores do País Basco, no norte da Espanha, foram os primeiros fornecedores comerciais, já a partir do século 7. Inicialmente, caçavam em seu próprio Golfo da Biscaia, mas foram expandindo o raio de ação. Desse modo, entraram em contato com os viquingues, com quem talvez tenham aprendido alguns truques.

Os bascos também usavam o bacalhau como suprimento de viagem, mas fizeram um avanço importante: além de secar, salgavam o peixe, o que melhora o sabor e aumenta a durabilidade. Os avanços na construção naval possibilitavam viagens cada vez mais longas.

Com a demanda por bacalhau crescendo na Europa, os bascos tornaram-se seus maiores fornecedores. Muitos outros o pescavam, sobretudo no Mar do Norte e nas costas da Islândia, mas ninguém via os bascos por lá. Onde tinham acesso a tanto peixe? A suspeita é que conhecessem os ricos bancos de bacalhau do Canadá, mas teriam guardado o segredo ciosamente.

Meus ancestrais portugueses também tinha bom faro nessa matéria, claro. Embora mais ocupados com o Atlântico Sul (África, Brasil), na busca do caminho marítimo para a Índia, fizeram explorações ao norte. Em 1473, o navegador João Vaz Corte-Real (1420-1496) foi enviado pelo rei Afonso V à Dinamarca para participar numa expedição que visava reestabelecer a ligação do país com a Groenlândia, quebrada no início do século, com o abandono das colônias viquingues. A partir daí, teria organizado expedições à costa da América do Norte, em particular “descobrindo” a Terra Nova.

Outro que chegou logo depois, em 1497, foi o italiano Giovanni Caboto, a serviço do rei da Inglaterra. Mas um mapa de 1502 aponta a ilha como domínio do rei de Portugal, e muitos lugares lá têm nomes originalmente portugueses (“Cape Spear” era “Cabo Esperança” etc). Aliás, o nome completo, dado por Corte-Real, era “Terra Nova do Bacalhau”, e isso diz tudo...


Texto de Marcelo Viana, na Folha de São Paulo

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