quinta-feira, 28 de abril de 2011

Inocentes estiveram detidos em Guantánamo

Prisão abrigou inocentes, diz WikiLeaks

Documentos sobre prisioneiros de Guantánamo mostram que EUA não tinham suspeitas contra muitos deles

Papéis ainda detalham diretrizes militares que tornavam praticamente impossível um detento comprovar inocência


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Um garoto de 14 anos vítima de sequestro. Um taxista que conhecia bem o Afeganistão. Um homem de 89 anos com demência senil.
Esses são alguns dos "perigosos" detentos que passaram pela prisão americana de Guantánamo, segundo arquivos secretos divulgados na imprensa anteontem.
Os 779 documentos, publicados por diversos jornais e pelo site WikiLeaks, mostram com detalhes inéditos até onde foi a arbitrariedade no trato com suspeitos de terrorismo pós-11 de Setembro.
Têm datas de 2002 a janeiro de 2009 (governo George Bush, portanto).
Revelam os manuais da CIA e outras agências americanas para classificar, interrogar e decidir o destino dos prisioneiros, com diretrizes que tornavam quase impossível a um inocente mostrar que não era extremista.
De 212 afegãos que passaram por lá, quase metade era de gente completamente inocente, forçada a trabalhar para o Taleban ou transferida para Guantánamo sem nenhum motivo que constasse nas fichas de avaliação das forças americanas.
Uma centena de prisioneiros foi diagnosticada com depressão, psicose e doenças similares.
Em alguns casos, o interesse dos EUA sequer era de obter informações sobre terrorismo. Um cinegrafista da rede Al Jazeera que trabalhara no Afeganistão, por exemplo, ficou detido por seis anos em parte para responder a perguntas sobre o funcionamento da TV árabe.
Foi mantido em Guantánamo até um cidadão britânico que, como já fora preso pelo Taleban, teria informações sobre como o inimigo faz interrogatórios.

TORTURA
Entre os arquivos secretos há fichas de quase todos os que já passaram pela prisão desde que ela foi aberta, em 2002. Seguem em Guantánamo hoje, mais de dois anos após o presidente Barack Obama ter ordenado seu fechamento, 172 detentos.
Ficou claro que agentes dos EUA usaram depoimentos obtidos sob tortura.
Um deles foi o de Khalid Sheikh Mohammed, acusado de planejar o 11 de Setembro. Ele afirmou que, se Osama bin Laden for preso, a Al Qaeda detonará uma arma nuclear escondida na Europa.
Os manuais de interrogatório revelam mais arbitrariedades. Agentes eram instruídos a tratar qualquer muçulmano que viajou ao Afeganistão após o 11 de Setembro como apoiador da Al Qaeda -"qualquer outro motivo fornecido [para a viagem] é uma mentira completa".
Se o detido falasse devagar ou de forma confusa, ou questionasse os interrogadores, isso seria indício extra de treinamento insurgente.
O Pentágono disse que os documentos, vazados para o site Wikileaks no ano passado e só agora divulgados, passaram por nova avaliação depois da posse de Obama.
Em alguns casos, as novas conclusões sobre os detentos diferem do que está nos arquivos expostos.

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