segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Cópias? Não, obras-primas falsas


Cópias? Não, obras-primas falsas

Reproduções enganam especialistas

Por PATRICIA COHEN

MADEIRA BEACH, Flórida - Durante quase três décadas, Ken Perenyi ganhou uma pequena fortuna falsificando obras de artistas muito procurados dos século 18 e 19, como Martin Johnson Heade, Gilbert Stuart e Charles Bird King.
Então, em 1998, dois agentes do FBI bateram à sua porta, curiosos sobre duas telas vendidas pela Christie's e Sotheby's, que pareciam ser do artista James E. Buttersworth, mas na realidade eram recriações meticulosas feitas por Perenyi.
"Percebi que a vida que eu conhecia e adorava tinha acabado", contou Perenyi, 63, falando de sua carreira de falsificador. Uma de suas telas falsificadas chegou a ser vendida por mais de US$ 700 mil; hoje ele vende um trabalho quase idêntico por apenas US$ 5.000.
Embora muitas empresas vendam reproduções de obras famosas, poucos se comparam aos trabalhos de Perenyi ou a seu passado interessante.
Ele conta que suas falsificações financiaram um estilo de vida extravagante que incluía viagens pela Europa, restaurantes caros, roupas de Versace e "liberdade total". Perenyi dá detalhes sobre suas façanhas em um livro de memórias a ser lançado em breve: "Caveat Emptor: the Secret Life of an American Art Forger". O livro está sendo promovido como uma confissão e Perenyi, ciente de que seus delitos já prescreveram, sente-se seguro.
Perenyi estima que centenas de suas falsificações continuem em circulação. "Sinto falta da emoção forte de enganar os especialistas", contou ele. "Isso vicia."
A Sotheby's se negou a comentar o assunto. Um representante da Christie's observou que um trabalho que Perenyi descreve como sendo seu, um quadro de dois beija-flores, atribuído a Heade, faz parte do "catalogue raisonné" do artista -o compêndio definitivo de sua obra. O autor do catálogo, Theodore E. Stebbins Jr., curador de arte americana no Museu de Arte de Harvard, disse que, se o relato de Perenyi for convincente, ele vai reexaminar a tela.
O falsificador britânico John Myatt, que passou quatro meses na prisão em 1999, também vende "falsificações legítimas" a galerias pertencentes a uma editora britânica. Artistas como Myatt e Perenyi podem receber valores relativamente altos por suas falsificações. Perenyi vende suas reproduções por valores que vão desde US$ 2.500 por um beija-flor pequeno que ele assina com o nome de Heade até US$ 30 mil por uma paisagem romana grande copiada de Giovanni Panini.
Na Galeria Trinity, em St. Petersburg, na Flórida, onde é vendido o trabalho de Perenyi, o proprietário Allan Abrams disse que seus compradores geralmente são "casais mais velhos, formados por profissionais liberais que durante todas suas vidas quiseram um quadro de determinado artista, mas sabem que isto é o mais perto que chegarão". Abrams exige que os compradores assinem um recibo atestando estar cientes de que estão comprando uma reprodução.
Perenyi disse que desenvolveu sua técnica artística sozinho e aprendeu os detalhes trabalhando para um restaurador e um fabricante de molduras. Com pesquisas e tentativas e erros, descobriu como simular os sinais do tempo nas telas. Ele diz que um de seus melhores trabalhos foi uma flor ao estilo de Heade vendida pela Sotheby's em 1994 como trabalho recém-descoberto, por US$ 717.500.
Diante de uma de suas reproduções de John F. Herring, ele apontou para o brilho na pelagem do cavalo e os detalhes claríssimos do rosto do jóquei.
"Não quero puxar a sardinha para minha brasa", falou, "mas acho que o próprio Herring se orgulharia de assinar seu nome nesta tela."



Nenhum comentário:

Postar um comentário