segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cortes na Califórnia ameaçam reputação de universidades no Estado norte-americano


O tamanho das classes aumentou, cursos foram cortados e as anuidades aumentaram – várias vezes. Poucas faculdades estão oferecendo cursos de verão. Os administradores dependem cada vez mais do pagamento dos alunos de outros Estados. E há sinais de que isso pode piorar: funcionários dizem que se um aumento de imposto proposto pelo governador Jerry Brown não for aprovado este ano, eles serão obrigados a considerar cortes draconianos como eliminar escolas ou programas inteiros.
Durante gerações, o sistema da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, – que abriga instituições mundialmente renomadas como Berkeley e UCLA – foi amplamente reconhecido como talvez o melhor exemplo do que as instituições públicas podem ser. Junto com o sistema da Universidade Estadual da Califórnia e o vasto número de faculdades comunitárias do Estado, as opções de educação superior aqui foram por muito tempo motivo de inveja para outros Estados.
Mas depois de anos, e até décadas, de cortes orçamentários do Estado, essa reputação está cada vez mais ameaçada. Líderes da universidade, que costumavam responder aos primeiros cortes com garantias de que suas instituições continuavam em ótima forma, estão soando o alarme. Ao tentar angariar apoio, eles demonstram sua preocupação de que suas escolas não possam mais oferecer a educação de qualidade que ofereciam há uma década.
"Eu estaria mentindo se dissesse que o que oferecemos aos alunos não mudou e que não houve uma degradação no ambiente de aprendizagem", disse Timothy White, chanceler da Universidade da Califórnia, Riverside, que registrou crescimento nos últimos anos.
No ano passado, planos para inaugurar uma faculdade de medicina no campus foram engavetados depois de cortes orçamentários. Embora haja mais alunos do que nunca, o número de conselheiros acadêmicos caiu de 500 há alguns anos para 300, para mais de 18 mil estudantes de graduação. Os cursos que costumavam exigir quatro trabalhos escritos agora pedem apenas a metade porque os professores têm menos assistentes para ajudá-los a atribuir notas, coisa que outros campi também implementaram.
Embora ninguém esteja argumentando que cortar os gastos com o ensino superior é uma coisa boa, alguns dizem que a crise orçamentária do Estado torna isso necessário – e pode fornecer uma oportunidade para mudanças necessárias.
Jon Coupal, presidente da Associação de Contribuintes Howard Jarvis, que se opõe fortemente à proposta de aumento de imposto, disse que as faculdades deveriam fazer mais para mostrar que estão cortando gastos, como reduzir o pagamento dos altos administradores ou fechar programas que não beneficiam diretamente o Estado.
"Temos tido o luxo de proporcionar altos subsídios para as faculdades nos últimos anos", disse Coupal. "Mas como qualquer coisa na Califórnia, o ensino superior não é baseado no desempenho. Eles criaram novos campi e programas baseados em políticas e não na necessidade."
White e outros dizem que as preocupações com o orçamento não são apenas acadêmicas. Durante gerações, as universidades eram motores econômicos para o Estado, formando centenas de milhares de estudantes por ano. Em todos os níveis, as universidades estão recebendo mais candidatos do que nunca. Mas sem mais dinheiro do Estado, elas estão com dificuldades para acolher os estudantes aptos.
Nathan Brostrom, vice-presidente executivo de operações empresariais para a Universidade da Califórnia, disse que o sistema está em meio à pior crise financeira desde a Grande Depressão. No ano passado, o Estado cortou US$ 750 milhões do orçamento do sistema. Este ano, pela primeira vez, o sistema recebe mais dinheiro de anuidade do que de auxílio do Estado – mas isso cobre apenas cerca de um quarto dos cortes. No geral, o orçamento é o mesmo que era em 2007, quando havia 75 mil alunos a menos.
Nos últimos anos, muitos campi fizeram um esforço mais ordenado para recrutar estudantes de fora do Estado, que pagam uma anuidade maior. Mas alguns criticaram essa prática, e no mês passado um legislador entrou com um projeto de lei para limitar o número de estudantes de fora da Califórnia.
Parte do problema, dizem funcionários, é que a quantia de dinheiro fornecida pelo Estado tem sido imprevisível, tornando difícil fazer planos a longo prazo. "Se não tivermos algum tipo de mudança este ano, teremos imediatamente uma situação imprevisível que tem o potencial de mudar completamente a universidade", disse Brostrom.
O sistema da Universidade da Califórnia é composto de 10 campi, incluindo Berkeley e UCLA, ambos classificados pela U.S. News entre as 25 melhores universidades do país, públicas ou privadas. O sistema da Universidade Estadual da Califórnia, ou Cal State, com uma anuidade menor e acesso mais fácil, é ainda maior, com 23 campi e cerca de 425 mil estudantes.
Agora, todos menos sete dos campi da Cal State são considerados "impactados", o que significa que eles têm critérios mais rígidos de admissão para candidatos de fora da área. Há cinco anos, apenas cinco campi faziam tal distinção. Muitos estudantes que frequentam os campi da Cal State moram em suas casas para economizar dinheiro, o que normalmente significa que, se eles não conseguem encontrar um campus próximo, não se inscrevem na universidade.
O quadro ficará ainda mais grave se o aumento de imposto de Brown não for aprovado em novembro. O presidente da Universidade da Califórnia e o chanceler da Universidade Estadual da Califórnia estão pedindo pela aprovação do aumento, dizendo que mais cortes irão causar danos irreparáveis.
Como as coisas estão agora, as faculdades comunitárias não receberão o mesmo nível de financiamento que receberam em 2007 até 2014. Se os eleitores aprovarem a proposta de imposto do governador, eles devem receber US$ 300 milhões a mais este ano, mas perderão outros US$ 300 milhões se o aumento de imposto for rejeitado.
"Nós simplesmente temos que apoiar essa iniciativa", disse Jack Scott, chanceler das faculdades comunitárias que está se aposentando este ano, a seus colegas numa teleconferência no mês passado. "Não é o momento de ficar discutindo se a iniciativa do governador é exatamente o que deveria ser ou se a mudaríamos aqui ou ali."
Na rodada mais recente de cortes, "os campi apertaram tanto os cintos que não há mais como apertá-los", disse Lawrence Pitts, diretor acadêmico da Universidade da Califórnia. O sistema já "não está fornecendo o tipo de educação que oferecíamos no passado, em termos de amplitude e profundidade, e isso é algo que nos deixa terrivelmente preocupados."
Outro corte significaria contemplar coisas que costumavam ser sacrossantas, como fechar departamentos ou eliminar uma faculdade de engenharia de um dos campi.
"Ninguém quer pensar nessas coisas, mas passamos do ponto de tentar ser mais eficientes para compensar as perdas", disse Pitts.
Embora os alunos pobres ainda possam recorrer a auxílio financeiro, o aumento das anuidades significa que as faculdades do Estado podem deixar de ser a melhor escolha para a classe média, diz o vice-governador Gavin Newsom, que está no conselho de curadores dos sistemas da UC e Cal State.
"Estamos no código vermelho", disse ele. "Não estamos mais cortando músculo ou tecido, estamos cortando as artérias."
Numa reunião recente sobre o orçamento da Cal State, disse Newsom, alguns levantaram a possibilidade de fechar um dos campi, dizendo que isso poderia economizar entre US$ 44 milhões e US$ 134 milhões, mas a ideia foi rejeitada. O sistema teve que limitar o número de matrículas na Califórnia para lidar com os cortes.
"Não estamos substituindo os livros da biblioteca, não estamos fornecendo os serviços estudantis que deveríamos, não estamos fornecendo o tipo de assistência médica que deveríamos", disse Charles B. Reed, chanceler do sistema da Cal State que anunciou recentemente sua aposentadoria. "Esta deveria ser a força de trabalho do Estado. Se continuarmos nesse caminho estaremos diante de um terrível inverno russo para nossa economia."
Tradutor: Eloise De Vylder


Reportagem de Jennifer Medina para o The New York Times, reproduzida no UOL.

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