quarta-feira, 28 de julho de 2021

Brasil dominaria Olimpíadas de Várzea, com pipa e carrinho de rolimã


Já vou logo avisando: não entendo nada de esporte. O leitor já deve ter percebido que não é o assunto que domino. Minha ignorância é renascentista —abrange todas as áreas de conhecimento humano. Mas de todas as áreas em que nunca me aprofundei, o universo do esporte se destaca porque faz muito tempo que tenho me especializado em não estudá-lo.

Por isso, considero-me apto a comentar as Olimpíadas. Caso entendesse minimamente, não me atreveria a incomodá-los com a opinião enfadonha de um especialista.

Enquanto leigo, me parece que existe uma conspiração mundial visando nos prejudicar. Explico: o Comitê Olímpico Internacional boicota todos os esportes nos quais somos imbatíveis. Tenho a impressão de que o critério que usam pra incluir um esporte parece ser o fato de que ele não é muito popular no Brasil.

Não faz sentido nenhum ter hóquei na grama, mas não ter futsal. Aposto que tem muito mais gente no mundo jogando futebol de salão do que batendo com uma bengala numa bola de tênis. Aliás, não faz sentido o tênis de mesa valer medalha, mas o futebol de mesa não. Qual o preconceito com o nosso pebolim?

Nas Olimpíadas tem cinco tipos diferentes de ciclismo. Nada contra. Mas defendo que tenha pelo menos oito tipos de futebol —futebol de campo, soçaite, de salão, de praia, de mesa, futevôlei, gol a gol e, é claro, altinha, também conhecida como futebol artístico. E não vou nem falar no clássico porém letal porradobol, aquela mistura de pelada com taekwondo —praticada com maestria no Brasil por Felipe Melo. Taekwondo que, por mim, podia muito bem ceder seu lugar ao jiu-jítsu, ao MMA ou à capoeira.

A entrada do skate nos garantiu umas medalhas, mas imagina se incluíssem também o body-board e o jacaré, também conhecido como bodysurfe. Trata-se de um esporte sem idadismo, onde o ouro cairia, aposto, nas mãos de um septuagenário de Copacabana. Mesma coisa pra sinuca, um esporte onde você poderia torcer pro seu avô.

Acabo de perceber que vamos muito bem em todos os esportes que não precisam de muito investimento do poder público. Sugiro que a gente crie uma competição paralela, as Olimpíadas de Várzea. Imagina se empinar pipa valesse medalha. Enquanto as Olimpíadas de Inverno tem o bobsled, as nossas teriam o carrinho de rolimã.

Rapidinho traríamos pra casa todo o ouro que nos foi levado.


Texto de Gregorio Duvivier, na Folha de São Paulo

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