quinta-feira, 6 de maio de 2021

Viver a maternidade na pandemia é como estar na sequência de 'Rambo'

 

A babá eletrônica chia, emitindo um som de balbucio.

Vem aquele pensamento: sou eu ou ele? Por favor, seja a vez dele. Se for, posso me virar para o lado e usufruir daquela última hora de sono. Mas, sim, é a minha vez de acordar às seis da manhã. Começa a maratona diária que é cuidar de dois bebês na quarentena.

Minha maternidade tem exatamente o tempo da pandemia, um pouco mais de um ano. É um mix de vários testes de resistência do Big Brother. A maternidade de primeira viagem. A maternidade de bebês gêmeos. A maternidade na pandemia.

Às vezes, me sinto numa sequência de “Rambo”. “Rambo – Ela Estava Grávida de Gêmeos.” “Rambo - O Inimigo Agora É Outro: A Pandemia.” “Rambo - Eles Começaram a Andar.”

Ao criar dois bebês em quarentena, eu e meu marido desenvolvemos um dialeto próprio. Consiste numa série de códigos que garante uma comunicação eficiente e um pouco mais divertida.

“Desovar”: significa levar um bebê dormindo para o berço.

“A bomba explodiu”: o bebê chorou antes de chegar até o berço.

“Bilhete premiado”: quando o bebê chora de madrugada e não é a sua vez de levantar.

“Barata voa”: os dois bebês começam a chorar ao mesmo tempo.

“Quem sabe faz ao vivo”: o bebê fez cocô durante a troca de fralda e todos assistem ao fenômeno.

“Boa noite, Cinderela”: mamada fora de hora para fazer o bebê dormir.

“Demoníssima Trindade”: quando o bebê faz xixi, cocô e regurgita durante a troca de fralda, tudo ao mesmo tempo.

“Quatro cavaleiros do apocalipse”: a mesma coisa da trindade, com acréscimo de choro.

Alguns pais falam que melhora com o tempo. Outros dizem que piora. Aqui, eles já começaram a andar, escalar e tentar atingir um único objetivo: sofrer um acidente. Mas, por enquanto, só experimentei um pouco mais de um ano de maternidade na pandemia.

Para todas as mães que enfrentam dificuldades de criar filhos em quarentena, meu sincero apoio. Somente nos resta acreditar naquelas palavras mágicas que todos falam, e eu repito tanto para mim mesma, “vai passar”.

Feliz Dia das Mães.


Texto de Flavia Boggio, na Folha de São Paulo

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