sexta-feira, 29 de março de 2019

Como cedro

Passo a mão no meu cabelo branco
E relembro num suave tranco
Que eu já fui guri lá em Palomas

Passava noites ouvindo as bromas
De velhos e esquecidos tropeiros
Manhãs nos mais verdes potreiros
Soltando lindas pandorgas vermelhas
Sentindo a ranhura do vento nas orelhas

Passo a mão no meu cabelo branco
E relembro num suave tranco,
Como se a vida fosse uma poesia,
Que eu já fui guri lá em Palomas

Lembro das tardes passando pêssego
Do doce de figo borbulhando no tacho
Depois o mate correndo de mão em mão
A velha socando a canjica no pilão
A vida fluindo como um límpido riacho

Levo essas lembranças na mala de garupa
Basta a cada dia um estalo, um simples upa
Para eu me ver de novo, os pés descalços,
Galopando no meu petiço naqueles vastos espaços
Até abraçar o vento nas cordilheiras

Então tudo se ilumina no meu pensamento
Sou guri, pandorga, aragem no firmamento,
Um velho tropeiro sonhando ao relento

Passo a mão no meu cabelo branco
E relembro num suave tranco,
Entre um mate, um causo e um sonho,
Que eu já fui guri lá em Palomas.
Para onde voltarei como cedro.

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