domingo, 18 de março de 2012

Morreu o papa copta no Egipto Shenuda III

As causas da morte não são conhecidas. Shenuda III tinha problemas de saúde há vários anos – a agência estatal MENA refere que sofria de insuficiência hepática e de um tumor nos pulmões – e na semana passada já fora obrigado a anular a sua celebração semanal.

A morte do carismático líder da Igreja copta, cargo que ocupava desde 1971, como 117.º sucessor do evangelista S. Marcos, acontece numa altura em que o frágil processo democrático no Egipto continua ameaçado depois de um ano de sucessivos ataques violentos contra os coptas e de confrontos confessionais, após a queda do antigo Presidente Hosni Mubarak.

Líder carismático, mas também polémico, Shenuda III conduziu com mão-de-ferro a comunidade copta no país, que hoje representa 10% da população, e foi uma voz a favor da unidade entre as igrejas e os fiéis.

Nazeer Gayed nasceu a 3 de Agosto de 1923. Licenciou-se em História na Universidade do Cairo em 1947, foi professor de Ciências Sociais e Inglês, e falava com fluência árabe, copta e francês.

Apelidado o “papa de Alexandria e patriarca da Sé de S. Marcos”, viria a ser o primeiro papa copta a visitar os Estados Unidos e, no interior do Egipto, passaria do confronto à conciliação com o poder, num país maioritariamente islâmico.

Nos últimos anos teve de enfrentar uma escalada de violência contra os seus fiéis. A sua morte acontece num momento de particular tensão sobre a transição política.

Em Outubro, a poucas semanas do início das eleições, uma manifestação pacífica de coptas, que protestavam contra o incêndio de uma igreja no Sul do país, foi reprimida a tiro pela polícia militar. Morreram 24 pessoas. Activistas coptas e muçulmanos acusaram o Exército de ter disparado a matar contra manifestantes pacíficos para criar divisões entre os egípcios.

A queda de Hosni Mubarak, em Fevereiro de 2011, veio agravar o sentimento de marginalização da comunidade copta e, com isso, aumentar a insegurança no país. Antes, em Janeiro do ano passado, um atentado matou 23 pessoas e deixou feridas 79, a maioria das quais cristãs que saíam de um igreja copta em Alexandria, depois da missa de Ano Novo.

Já depois de a revolução popular fazer cair Mubarak, 13 pessoas foram mortas, a 8 de Março do ano passado, em confrontos entre muçulmanos e coptas no Cairo, onde cerca de mil cristãos protestavam contra um incêndio no Sul da capital. Em Maio, confrontos entre muçulmanos e coptas resultaram em 12 mortos e mais de 200 feridos na capital, depois de um ataque a uma igreja e o novo incêndio.

Shenuda III incentivou a comunidade copta a votar em massa nas primeiras eleições legislativas pós-Mubarak. Os resultados preocuparam alguns coptas, com o partido da Irmandade Muçulmana a sair vencedor - seguidos dos islamistas radicais salafistas. Em terceiro lugar ficou o Bloco Egípcio, que reúne vários liberais e conta com muito apoio entre os cristãos coptas.


Notícia do Público.

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