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sexta-feira, 21 de junho de 2013

E, em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. Literalmente


Os atos contra o aumento nas tarifas dos ônibus trouxeram centenas de milhares às ruas. Que defendiam a ideia e discordavam da violência com a qual manifestantes e jornalistas haviam sido espancados e presos pela Polícia Militar. Uma massa heterogênea, descontente, sob um guarda-chuva de uma pauta bastante concreta e objetiva. Que  foi atendida.
A manifestação de segunda, gigantesca, acabou por mudar o perfil dos que estavam protestando em favor da tarifa. O chamado feito pela redes sociais trouxe as próprias redes sociais para a rua. Quem não percebeu que boa parte dos cartazes eram comentários de Facebook e Twitter?
Portanto, nem todos os que foram às ruas são exatamente progressistas. Aliás, o Brasil é bem conservador – da “elite branca” paulistana à chamada “nova classe média” que ascendeu socialmente tendo como referências símbolos de consumo (e a ausência deles como depressão). É uma população com 93% a favor da redução da maioridade penal. Que acha que a mulher não é dona de seu corpo. Que é contra o casamento gay. Que tem nojo dos imigrantes pobres da América do Sul. Que apoia o genocídio de jovens negros e pobres nas periferias das grandes cidades. Ou seja, não é porque centenas de milhares foram às ruas por uma pauta justa que a realidade mudou e vivemos agora em uma comunidade de Ursinhos Carinhosos.
E dentre os conservadores, temos os que radicalizam. Seja por ignorância, seja por opção.
Desde que o quinto ato contra as passagens foi anunciado, grupos conservadores se organizaram na internet para pegar carona no ato. Lá chegando, foram colocando as mangas de fora com suas pautas paralelas. Na convocação do sétimo ato, isso ficou bem evidente. Estavam aos milhares na Paulista e arredores, mas ainda minoria em comparação ao total de participantes. Mas uma ruidosa, chata e violenta minoria. Com um discurso superficial, que cola fácil, traz adeptos. Parte deles usava o verde-amarelo, lembrando os divertidos e emocionantes dias com os amigos em que se pode ver os jogos da Copa do Mundo.
Nesta quinta (20), esse grupo sentiu-se à vontade para agir em público exatamente da mesma forma que já fazia nas áreas de comentários de blogs e nas redes sociais, mas sob o anonimato. Com isso, parte desse pessoal começou um ataque verbal e físico a militantes de partidos e sindicalistas presentes no ato.
Engana-se, porém, quem diz que essa era uma massa fascista uniforme. Havia, sim, um pessoal dodói da ultradireita, que enxerga comunismo em ovo e estava babando de raiva e louco para derrubar um governo. Que tem saudades de 1964 e fotos de velhos generais de cueca na parede do quarto. Essa ultradireita se utiliza da violência física e da intimidação como instrumentos de pressão e que, por menos numerosos que sejam, causam estrago. Estão entre os mais pobres (neonazistas, supremacia branca e outras bobagens), mas também os mais ricos – com acesso a recursos midiáticos e dinheiro. A saída deles do armário e o seu ataque a manifestantes ligados a partidos foi bastante consciente
Mas um grupo, principalmente de jovens, precariamente informado, desaguou subitamente nas manifestações de rua, sem nenhuma formação política, mas com muita raiva e indignação, abraçando a bandeira das manifestações. A revolta destes contra quem portava uma bandeira não foi necessariamente contra partidos, mas a instituições tradicionais que representam autoridade como um todo. Os repórteres da TV Globo, por exemplo, não estão conseguindo nem usar o prisma com a marca da emissora na cobertura – e não é só por conta de militantes da esquerda. Alckmin e Haddad, que demoraram demais para tomar a decisão de revogar e frear o caldo que entornava, ajudaram a agravar a situação de descontentamento com a classe política. “Que se vão todos”, pensam esses jovens. “Não precisamos de partidos para resolver nossos problemas”, dizem outros, que não conhecem a história recente do Brasil. “Políticos são um câncer”, que colocam todo mundo no mesmo balaio de gatos.
Elas não entendem que a livre associação em partidos e a livre expressão são direitos humanos e que negá-los é equivalente a um policial militar dar um golpe de cassetete em um manifestante pacífico. Dito isso, creio que foi um erro de análise de militantes de partidos estarem presentes no ato empunhando bandeiras. Direito eles tinham, mas não era a hora.
Conversei com muitos deles que pediam “abaixo os partidos políticos”, pauta que comecei a ouvir na segunda (17), quando aquele perfil diferente de manifestante engrossou os atos (lembrem-se, eu sou o #chatodepasseata, adoro cutucar). Perguntei o porquê dessa agressividade. Depois de cinco minutos, eles mesmos percebiam que não sabiam me responder a razão. Compravam um discurso fácil guiado pela indignação.
Dentre esses indignados que foram preparados, ao longo do tempo, pela família, pela escola, pela igreja e pela mídia para tratarem o mundo de forma conservadora, sem muita reflexão, tem gente simplesmente com muita raiva de tudo e botando isso para fora. O PSDB tem culpa nisso. O PT tem culpa nisso. Pois, a questão não é só garantir emprego e objetos de consumo. Sinto que eles querem sentir que poderão ser protagonistas de seu país e de suas vidas. E vêm as classe política e as instituições que aí estão como os problemas disso.
Aí reside um problema. Porque não se joga a criança fora porque a água do banho está suja. E não se expulsa políticos ou partidos do processo democrático por vias autoritárias – por mais que o sangue suba à cabeça.
Muitos entre os mais jovens desconhecem o valor das lutas que trouxeram a sociedade até aqui – e não fizemos questão de mostrar isso a eles. Muito menos como os mais velhos foram protagonistas dessas lutas. Eles não precisam ser mitificados (não gosto de heróis), mas também não podem ser desprezados. Pois, se daqui em diante, novos caminhos podem ser trilhados é porque alguém abriu uma estrada que nos trouxe até aqui.
É claro que os grupos conservadores mais radicais estão se aproveitando desse momento e botando lenha nesse descontentamento, apontando como culpados a classe política que está no poder e suas instituições. Flertam com ações autoritárias e, é claro, adorariam desestabilizar as instituições.
Não temos uma prática de debate político público como em outros lugares. Se, de um lado, vamos ter que aprender a conviver com passeatas conservadoras sem achar que vai rolar uma nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade nos moldes daquela que nos levou à Grande Noite, de outro, os reacionários extremistas vão ter que aprender a ser portar com decência – coisa que, nas redes sociais, já provaram que são incapazes de fazer.
O desafio é que, diante de comportamentos questionáveis e pouco democráticos desses jovens conservadores, externamos o nosso desprezo e nossa raiva. Podemos ignorá-los, enquanto crescem em número. Ou podemos conquistá-los para o diálogo e não o confronto.
Até porque, precisam compreender, por exemplo, que “o povo não acordou” agora. Quem acordou foi uma parte. Outra parte nunca dormiu, afinal não tinha cama para tanto. No campo, marchas reúnem milhares de pobres entre os mais pobres, que pedem terra plantar e seus territórios ancestrais de volta – grupos que são vítimas de massacres e chacinas desde sempre. Ao mesmo tempo, feministas, negros, gays, lésbicas, sem-teto sempre denunciaram a violação de seus direitos pelos mesmos fascistas que, agora, tentam puxar a multidão para o seu lado.
Enfim, o grosso do povo mesmo vai acordar no momento em que a maioria pobre deste país perceber que é explorada sistematicamente. Quando isso acontecer, vai ser lindo.
Uma vez, posto em marcha, um movimento horizontal, sem lideranças claras, tem suas delícias – como o fato de ser um rio difícil de controlar. E sua dores – como o fato de ser um rio difícil de controlar. Temos que aprender a não se assustar com isso.
Muitos desses jovens estão descontentes, mas não sabem o que querem. Sabem o que não querem. Neste momento, por mais agressivos que sejam, boa parte deles está em êxtase, alucinada com a rua e com o poder que acreditam ter nas mãos. Mas ao mesmo tempo com medo. Pois cobrados de uma resposta sobre sua insatisfação, no fundo, no fundo, conseguem perceber apenas um grande vazio.
O fato é que há um déficit de democracia participativa que vai ter que ser resolvido. Só votar e esperar quatro anos não adianta mais. Uma reforma política, que inclua ferramentas de participação popular, pode ser a saída. Lembrando que aumentar a democracia participativa não é governar por plebiscito – num país como o nosso, isso significaria que os direitos das minorias seriam esmagados feito biscoito. Como deu para ver em alguns momentos, nesta quinta, na avenida Paulista.
O momento é de respirar, ter calma, dialogar. Mas não abandonar o bom debate.

Reprodução do Blog do Sakamoto

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Hipóteses sobre as manifestações


O pensamento radical – aquele que busca chegar à raiz das coisas – precisa andar na contramão e ousar algumas hipóteses e perguntas incômodas.
1) A ideia de que algo inexplicável está acontecendo e que “ninguém está entendendo nada” é tipicamente midiática. Uma “novidade” espetacular no espaço hiperespetacular da necessidade diária de algo extraordinário.
2) As manifestações são muito compreensíveis, inserem-se no contexto do imaginário internacional atual das redes sociais e da internet e foram inspiradas nos indignados europeus, turcos e americanos.
3) Os protestos, que incluem manifestantes sem partido e adesões, espontâneas, são organizados, fomentados e articulados, principalmente, pelo PSOL. No desgaste atual dos partidos, é estratégico negar isso e sustentar que não há líderes nem organizações indutoras ou organizadoras.
4) Sustentar que o PSOL é o principal fomentador não significa negar a sua legitimidade, mas identificar um protagonista que procura se dissimular.
5)  Parte da grande mídia, com seus formadores de opinião conservadores, é outro fomentador dos protestos que agora a engolfam. Durante uma década, tem dito que está tudo errado no país. A mensagem chegou ao destino.
6) E se extrema-esquerda e extrema-direita estiverem, por razões obviamente opostas, unidas nessas manifestações contra a “roubalheira geral”, contra a política do “todos no mesmo saco” e da falência completa do sistema?
7) E o se o PSOL e seus jovens justamente indignados forem usados pela direita que só deseja tirar Dilma, Lula e o PT do poder para liquidar o bolsa-família, as cotas e outras políticas ditas assistencialistas?
8) E se, como em 1964, há quase 50 anos, a explosão social for canalizada para Marchas da Família com Deus pela Liberdade em nome do conservadorismo?
9) O PT, com sua política cínica de governabilidade, é o grande fomentador involuntário dos protestos, pois, ao ir para a cama com o inimigo, parir,  acobertar seus mensaleiros e abandonar o seu discurso pretensamente ético, abriu caminho para a insatisfação geral e para um substituto apto a retomar os melhores slogans, ao menos, enquanto não estiver no poder, o PSOL.
10) A desigualdade social num país de colossal desigualdade social é o grande fomentador direto dos protestos. O discurso neoliberal desandou. A promessa, jamais cumprida, de igualdade de oportunidades não engana mais. Contemplar as imagens da miséria esperando que, um dia, tudo se arranjará por força da “mão invisível” do mercado não convence nem os tolos, ainda mais que os empresários falidos pedem ajuda à mão visível do Estado.
11) Os políticos e seus partidos cínicos, infames, filisteus, claro, lideram o ranking dos fomentadores indiretos da indignação geral. Só eles não entenderam ainda que a opinião pública está de volta para cobrar a conta. Mas será ela capaz de puni-los não os reelegendo em 2014?
12) Empresários corruptores e agentes públicos corrompidos, de braços dados nas articulações consagradas do tipo “eu financio a tua campanha e tu me descolas uma obra pública”, atraem o ódio dos sacaneados cotidianos.
13) A farra da copa do mundo e o aumento das passagens de ônibus serviram de bons estopins para a explosão da indignação contida por muito tempo. Até que ponto isso poderá sustentar uma revolta de longo prazo?
14) Os lacerdinhas da mídia, com a revista Veja à frente, ajudaram, voluntária ou involuntariamente, a criar grande parte da indignação de direita e de esquerda. Poderão capitalizar a explosão de indignação, com vêm tentando fazer, ou serão esmagados pela fúria libertária das manifestações?
Uma única coisa não é hipótese: as manifestações juntam jovens anarquistas ou esquerdistas. A direita, que não sai de casa, quer parasitar os protestos, embora se sinta obrigada a condenar o vandalismo e o trânsito trancado.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Nos EUA, polícia dispersa núcleos do 'Ocupe Wall Street' e prende 78

Nos EUA, polícia dispersa núcleos do 'Ocupe Wall Street' e prende 78

Acampamentos começam a ser removidos após mortes de ativistas 

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Ao menos 78 manifestantes foram presos e quatro acampamentos do movimento "Ocupe Wall Street" encerrados após ações da polícia americana no fim de semana.
A polícia dos EUA começou no sábado a tentar desmontar tendas em diversos Estados americanos alegando falta de segurança e de higiene.
As ações acontecem logo após um manifestante ter sido assassinado a tiros em uma briga no acampamento de Oakland (Califórnia), um veterano de guerra ter cometido suicídio em uma tenda em Vermont e um homem ter sido achado morto, sem ferimentos, no acampamento de Salt Lake City (Utah).
Em St. Louis (Missouri), 27 manifestantes foram algemados enquanto gritavam: "Nosso amor pela liberdade é mais forte que a sua prisão".
Outras 19 prisões ocorreram na desocupação do acampamento em um parque no centro de Salt Lake City e mais 17 no núcleo de Denver (Colorado).
Em Portland (Oregon), ao menos 15 pessoas foram presas após confrontos. Os manifestantes resistiram a uma primeira investida policial no sábado, mas cederam ontem.
A situação em Oakland era indefinida na noite de ontem.
O "Ocupe Wall Street" começou em setembro, em Nova York, para protestar contra abusos do sistema financeiro e se espalhou por diversas cidades e países.

Notícia publicada na Folha de São Paulo, de 14 de novembro de 2011.