terça-feira, 16 de junho de 2020

O shopping é o lugar ideal para quem deseja adquirir o novo coronavírus

O fim de semana foi marcado pela reabertura do comércio e dos shopping centers em algumas capitais do Brasil, justo quando o país ascendeu ao segundo lugar no ranking mundial de mortos e infectados pela Covid-19. O timing não poderia ser melhor para uma liquidação —da população brasileira, no caso.
Médicos, epidemiologistas e outros especialistas da área de saúde insistem que seria necessário achatar a curva de contágio antes de flexibilizar a quarentena. Mas, se olharmos com atenção os gráficos do avanço da pandemia, veremos que a curva do Brasil já foi achatada e se transformou numa linha reta, que aponta para o alto e avante.
Para chegar ao pico da pandemia e ao topo do ranking mundial de vítimas do novo coronavírus, o Brasil optou pela escada rolante. As autoridades estão fazendo a sua parte para que a população esteja vestida apropriadamente para a ocasião. E quem paga a conta, é claro, é o consumidor.
O pagamento pode ser feito em dinheiro, débito, crédito e/ou com a própria vida. A última opção é a menos valorizada e não paga nem uma blusinha de loja de departamento. O melhor a fazer é parcelar as compras a perder de vista, já que a probabilidade de sobreviver até a próxima fatura do cartão é menor do que os juros.
Os registros de filas quilométricas e aglomerações em ambientes fechados não deixam dúvidas: o shopping center é o lugar ideal para quem deseja adquirir o novo coronavírus. O consumidor pode ganhar a Covid-19 de brinde, de forma inteiramente gratuita, e ainda pode compartilhar o mimo com seus entes queridos.
Nos templos do consumo, os rituais agora se adaptam ao novo normal. Distanciamento de dois metros, uso obrigatório de máscaras, triagem com termômetro infravermelho, higienização de produtos e sacrifício de funcionários e consumidores como oferta ao deus Mercado.
Os provadores estão fechados por medidas de segurança, mas isso não impede o consumidor de escolher um look matador. Até porque, com o caixão lacrado, não vai fazer a menor diferença.

Texto de Manuela Cantuária, na Folha de São Paulo

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