sexta-feira, 17 de abril de 2020

OMS alerta para pandemia de lives

Acossado pela multiplicação de lives, o jovem sorocabano José de Aguiar —conhecido como Aguiarzinho— foi internado nesta sexta de manhã. "É um caso grave de overdose de lives", diagnosticou o médico Túlio Pessegueira em uma live realizada no hospital Sírio-Libanês.
Aguiarzinho não é o único. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a proliferação de lives já se espalhou pelos cinco continentes. "Temos que nos preparar para os efeitos de uma nova pandemia", explicou Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em uma live no Instagram.
Além de casos de overdose como o de José de Aguiar, há também relatos de luxações e fraturas. "Acordei de manhã, fui desbloquear o despertador no celular e acabei atingido por uma live do Felipe Neto. Tive que pôr gelo no local por mais de duas horas", relatou, em uma live, a advogada Carolina Alcântara. "Não descarto passar álcool em gel nos olhos para evitar que a experiência se repita", completou, aos prantos.
No Alto de Pinheiros, um publicitário foi internado com síndrome de abstinência depois que seu cachorro comeu a live a que estava assistindo. "Foi desesperador! De repente, vi a pia cheia de louça, dois filhos pedindo comida e um javaporco fuçando o lixo da cozinha", desabafou, em uma live.
A pandemia de lives também pode provocar desequilíbrio emocional. "Toda noite eu sonho com uma live do Caetano Veloso, mas ele aparece num pesadelo comendo paçoca. Eu não sei mais o que é realidade, o que é sonho e o que é live", desabafou David Lynch.
Um dos efeitos colaterais mais desagradáveis, segundo a OMS, é a padronização das estantes de livros como fundo das lives de jornalistas. "O diagnóstico é claro: virou clichê!", cravou Drauzio Varella.
Para evitar a proliferação descontrolada de lives, os governos de São Paulo e do Rio de Janeiro, em parceria com operadoras de telefonia, vão bisbilhotar os celulares dos cidadãos de bem.
No final da tarde, Wilson Witzel e João Doria fizeram uma live para anunciar os resultados da operação. "Foi duro. Vasculhamos milhões de celulares para encontrar um brasileiro que não tenha feito ou visto uma live. Depois de cruzar informações e usar tecnologia de ponta, logramos êxito. Encontramos um cidadão que ainda não apareceu em nenhuma live", celebrou João Doria. Wilson Witzel completou: "O nome dele é Fabrício Queiroz".

Texto de Renato Terra, na Folha de São Paulo

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