quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Imigração mudou identidade sul-coreana


Imigração mudou identidade sul-coreana

Por CHOE SANG-HUN

SEUL, Coreia do Sul - Jasmine Lee percebe o quanto ela tornou-se coreana quando começa a falar a língua ao telefone com a mãe, que é filipina e não compreende uma palavra do que ela diz. Mas ela é lembrada dos limites da assimilação quando os coreanos, impressionados por sua fluência, comentam: "Você parece mais coreana do que os coreanos".
Lee, 35, que nasceu Jasmine Bacurnay nas Filipinas, virou notícia em abril quando se tornou a primeira cidadã naturalizada -e a primeira coreana não étnica- a conquistar um assento na Assembleia Nacional da Coreia do Sul. Sua eleição refletiu uma das mais significativas mudanças demográficas na história moderna do país. Uma mudança que, segundo ela, "os coreanos entendem com o cérebro, mas ainda precisam abraçar com o coração".
Apenas uma década atrás, os livros escolares ainda diziam para os sul-coreanos se orgulharem de ser etnicamente homogêneos. Se a população de origem estrangeira ainda é pequena, comparada com a de países com uma tradição imigratória, ela é suficiente para desafiar como os sul-coreanos veem a si mesmos.
"Está na hora de redefinir o coreano", disse Kim Yi-seon, pesquisador chefe de multiculturalismo no Instituto de Desenvolvimento das Mulheres Coreanas, financiado pelo governo. "Tradicionalmente, ser coreano significava ser alguém que nasceu na Coreia, de pais coreanos, que fala coreano e que tem uma aparência e uma nacionalidade coreanas. As pessoas não pensam que alguém é coreano só porque tem a cidadania coreana."
Entre os fatores que conduzem essa tendência, está a entrada de mulheres do Sudeste Asiático que vieram casar com agricultores sul-coreanos, que têm dificuldades para atrair mulheres coreanas dispostas a adotar a vida rural. O número de migrantes por casamento cresceu para 211 mil, no ano passado, contra 127 mil, em 2007. A maioria dos imigrantes é constituída por mulheres do Vietnã e de outros países asiáticos mais pobres.
Nas cidades industriais, rapazes de Bangladesh e do Paquistão desempenham funções recusadas pelos coreanos como sujas e perigosas. Eles oferecem a mão de obra barata que a economia sul-coreana, voltada para as exportações, precisa para competir com a China. O número desses trabalhadores mais que duplicou, de 260 mil, em 2007, para 553 mil, no ano passado -sem contar os que têm visto expirado e trabalham ilegalmente.
Um em cada dez casamentos na Coreia do Sul envolve um cônjuge estrangeiro. Embora o número total de escolares na Coreia do Sul esteja em declínio (de 7,7 milhões, em 2007, para 6,7 milhões, neste ano), em consequência de um dos menores índices de nascimentos do mundo, o número de estudantes multiétnicos vem crescendo cerca de 6.000 por ano.
"Uma sociedade cultural não está apenas chegando. Ela já está aqui", disse Lee, que é membro do partido Saenuri, no governo.
Mas, depois da eleição de Lee, ativistas anti-imigração advertiram que "ervas venenosas" do exterior estavam "corrompendo a linhagem coreana" e "exterminando a nação coreana". Eles pediram que os partidos políticos se "purifiquem" expulsando Lee da Assembleia Nacional.
O primeiro-ministro Kim Hwang-sik condenou esses surtos de xenofobia como "patológicos" e pediu que os sul-coreanos assumam a transição para uma sociedade multicultural "não como uma opção, mas como um imperativo".
Mas o próprio governo é acusado de promover a xenofobia, ao exigir que estrangeiros que chegam à Coreia do Sul para ensinar inglês passem por testes de HIV, enquanto não exige o mesmo de sul-coreanos nos mesmos empregos.
"Em 1995, as pessoas me adoravam por dizer 'Olá' e 'Obrigada' em coreano", disse Lee.
"Mas, por volta de 2000, as pessoas começaram a olhar para mim com suspeita. No ônibus, perguntavam: 'Por que você está aqui?'"
Lee acha que a Coreia do Sul ainda tem um longo caminho a percorrer. "Em um recente programa supostamente destinado a promover a harmonia multicultural, os organizadores dividiram os participantes em um ônibus para coreanos e outro para 'famílias multiculturais'", disse.
"Eu imagino uma sociedade que não precise de um rótulo como 'multicultural'."


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