segunda-feira, 9 de julho de 2012

Viagem de Cabot tem seu mistério elucidado


Viagem de Cabot tem seu mistério elucidado

Livro-caixa de 514 anos revela passos de um explorador

Por GUY GUGLIOTTA

No começo de 1496, o navegador veneziano Giovanni Caboto apareceu sem dinheiro no porto inglês de Bristol levando uma ordem do rei Henrique 7°: para sair atrás de descobertas e comércio.
A Inglaterra o chamaria de John Cabot. De 1496 a 1498, ele zarpou três vezes para o Novo Mundo. Na segunda viagem, chegou à atual ilha Terra Nova (no Canadá) e reivindicou a América do Norte para a Inglaterra e o catolicismo.
Da sua terceira viagem, nada se sabia. Ele aparentemente sumiu.
A historiadora Alwyn Ruddock, da Universidade de Londres, que passou mais de metade da sua vida pesquisando Cabot, morreu em 2005, aos 89 anos, sem publicar um livro sobre esse assunto. Ela ordenou ao seu inventariante que destruísse suas pesquisas, e 78 sacolas com documentos foram incineradas, para perplexidade dos acadêmicos.
Agora, uma parte importante da charada de Ruddock foi desvendada.
Em 2010, uma equipe internacional de acadêmicos descobriu um conjunto de livros-caixa italianos com 514 anos de idade que Ruddock havia encontrado décadas antes e que haviam desaparecido. Eles mostram que, na primavera boreal de 1496, Cabot recebeu dinheiro da filial londrina de uma casa bancária florentina chamada Bardi.
Durante muito tempo, considerou-se que o explorador tivesse sido financiado por mercadores de Bristol. Mas as novas descobertas demonstram que ele foi bancado, ao menos em parte, pelos mesmos financistas italianos que ajudaram Américo Vespúcio, Vasco da Gama, Bartolomeu Dias e, naturalmente, Cristóvão Colombo.
Os livros também corroboram a afirmação de Ruddock de que ela teria encontrado 25 documentos sobre Cabot jamais vistos anteriormente por acadêmicos modernos. "Ela não estava inventando nada", afirmou Evan Jones, historiador marítimo da Universidade de Bristol.
Há quase sete anos, após a morte de Ruddock, Jones encontrou a proposta de livro que ela havia apresentado à editora da Universidade de Exeter.
Ali, ela delineava uma história incrível.
Ruddock havia descoberto que Cabot era muito ligado à influente comunidade de imigrantes italianos em Londres. Mas suas afirmações mais interessantes diziam respeito à terceira viagem, em 1498. Ela dizia que Cabot não sumiu e sim que deixou Bristol em cinco navios levando frades italianos que desembarcaram na costa da Terra Nova para implantar o primeiro assentamento cristão na América do Norte.
Cabot teria então navegado rumo ao sul acompanhando a costa norte-americana e reivindicando tudo o que via para a coroa britânica. Segundo Ruddock, ele teria sido o primeiro europeu a avistar os atuais Estados Unidos.
Cabot finalmente atingiu a América do Sul, onde esbarrou em um dos capitães de Colombo, provavelmente Alonso de Ojeda, que o alertou a ir embora. Cabot então recuou e chegou à Terra Nova no começo de 1500, dizia Ruddock, e então voltou a Bristol, onde morreu quatro meses depois.
Embora tudo isso seja plausível, muita coisa ainda está para ser documentada.
Em 2010, um colega contou a Jones sobre uma descoberta casual no site Amazon: o exemplar que pertencera a Ruddock de uma obra seminal sobre Cabot, publicada em 1962 por James Williamson.
Jones identificou a vendedora, Lisa Shanley, que havia adquirido a modesta casa de Ruddock em Hampshire e estava vendendo o conteúdo da sua biblioteca.
Ela conhecia a história de Ruddock e convidou Jones e sua colega Margaret Condon para uma visita.
O escritório de Ruddock estava intacto -incluindo as prateleiras que ela usava, com rótulos ainda afixados aos escaninhos.
Um deles dizia: "Firma Bardi, de Londres".
"Sabíamos pelas anotações de Ruddock que um banqueiro italiano havia patrocinado a viagem, mas não sabíamos quais", disse Jones. Agora já se sabia. Os registros da empresa foram encontrados nos arquivos da influente família florentina Guicciardini. Quando o livro-caixa relevante foi aberto, lá estava a confirmação:
"John Cabot, de Veneza, em 27 de abril [de 1496], está debitado em dez libras esterlinas, pagas em dinheiro (...), para que possa sair e encontrar a nova terra."



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