terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pappé conta a história dos palestinos de Israel e golpeia “etnocracia” israelense


Pappé conta a história dos palestinos de Israel e golpeia “etnocracia” israelense

Em novo livro, historiador israelense lança reflexão sobre bases étnicas do Estado judeu

Os trabalhos feitos até hoje, diz Pappé, concentraram-se em aspectos de vida específicos desse grupo, mas “o que a maioria desses trabalhos não conseguiu fazer – não por falha de qualquer um deles – é traduzir seu interesse acadêmico para um foco mais geral e político. Para o mundo lá fora, e para aqueles que engajam-se energeticamente na questão palestina, os palestinos em Israel têm sido um enigma por um longo tempo”.

Ele oferece uma visão geral do que foram os últimos 63 anos para esse grupo. Isso torna a obra especialmente importante porque sabemos muito sobre os palestinos dos Territórios Ocupados e sobre a Ocupação em si. Há poucos sinais de que vá acabar e há uma conivência da comunidade internacional em relação a ela. Mas relatórios de departamentos da ONU, jornalistas e ativistas estrangeiros produzem um grande inventário sobre o que se passa nos Territórios.

O historiador nos oferece uma linha do tempo em que traça a vida dos palestinos em Israel. Mostra, entre outras coisas, como, depois de 1948, até 1950, muitas vilas ficaram cercadas e então os palestinos conheceram a palavra gueto. Como Israel manteve até 1966 um regime militar estrito apenas aos palestinos e em 1967 todo esse aparato do regime militar foi transferido para os Territórios Ocupados.

O que Pappé faz nesta obra não chega perto de seu “Limpeza Étnica da Palestina”, uma obra de fato impactante. Lá, o historiador foi um garimpeiro, mergulhou nos arquivos abertos do governo israelense (não foi o primeiro, mas com certeza o mais notório) e fez uma obra destrutiva. Talvez o golpe mais pesado sobre a versão oficial para a criação de Israel.

Desde que foi lançado, virou uma espécie de apoio científico para defensores da causa palestina. Por alguns, chega a ser citado à exaustão. Por outro lado, virou um grande incômodo para aqueles que defendem o sionismo e o atual Estado “judeu e democrático”. Não à toa, na crítica que o editor do Haaretz faz do último livro de Pappé, o chama de “o bad boy dos ‘novos historiadores’ israelenses”.

“The Forgotten...” não é um trabalho de pesquisa como “Limpeza...”, um quebra-cabeça que se apoia na reconstrução de fatos – dentro dos limites em que o historiador pode realizar a tarefa –, uma junção de versões que permitem olhar para, no caso, os acontecimentos que levaram e culminaram com a expulsão de centenas de milhares de palestinos para que Israel pudesse manter uma maioria judaica. “The Forgotten...” parte de um limbo a partir do qual a quantidade de arquivos do governo disponíveis é menor, e, já entrando na década de 50, são quase inexistentes.

Assim, Pappé constrói a sua obra a partir de arquivos históricos, mas muito mais tendo como fontes jornais e estudos acadêmicos sociológicos desenvolvidos por israelenses e palestinos dentro de Israel. E, claro, por sua própria experiência, como um israelense vivendo em Israel. Pappé faz mais do que qualquer coisa um registro social e político desse grupo “esquecido”.

Mas o livro também é uma grande reflexão sobre o país. Israel foi construído em bases étnicas, que estruturam o conflito e impedem qualquer tipo de solução. Mas no epílogo, Pappé diz que definir Israel como uma “etnocracia” não basta, e desenvolve o conceito de “Estado opressor”. A melhor analogia são os Estados Mukharabat (de Serviço Secreto árabes). O Estado só pode sobreviver com absolutos controle e vigilância sobre sua população (os palestinos, claro). Pappé estica a linha do tempo que traçou até os dias atuais, até as políticas de “controle demográfico” de Lieberman e Eli Yishai.


Texto visto no Opera Mundi.




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