terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cuba lidera combate ao cólera no Haiti

Cuba lidera combate ao cólera no Haiti

Por RANDAL C. ARCHIBOLD

MIREBALAIS, Haiti - Desde outubro de 2010, quando uma missão médica cubana detectou o primeiro caso de cólera no Haiti, a doença já atingiu mais de 476 mil pessoas -quase 5% da população- e causou 6.600 mortes, no que a ONU considera ser a maior incidência mundial da moléstia.
A missão cubana tem sido elogiada por permanecer na linha de frente do combate ao cólera, e por realizar um esforço ainda mais amplo para reconstruir o combalido sistema haitiano de saúde.
Paul Farmer, representante-adjunto da ONU no Haiti e cofundador da ONG Parceiros na Saúde, disse que os cubanos ajudaram a mobilizar autoridades dessa área e a reduzir a mortalidade por cólera. Mais do que isso: como o auge das mortes aconteceu em dezembro, e a atenção mundial se dispersou para outros assuntos, "metade das ONGs já foi embora, e os cubanos continuam lá".
Os médicos cubanos trabalham no Haiti desde 1998, quando cem deles chegaram depois de um furacão. O trabalho é parte de um programa do governo cubano que há cinco décadas envia missões médicas ao exterior.
Desde então, Cuba já trabalhou com o Haiti, a Venezuela e, mais recentemente, o Brasil, a Noruega e outros países, construindo, equipando e fornecendo pessoal para dezenas de pequenos hospitais e clínicas comunitários.
O envio de médicos cubanos ao exterior é, desde a década de 1960, uma forma de "diplomacia médica", que leva profissionais a áreas remotas de países pobres, principalmente na África, e também a países aliados, como a Venezuela, segundo Katrin Hansing, professora do Baruch College, de Nova York, que escreve um livro sobre a ajuda internacional cubana.
"Isso lhes dá muito capital político no mundo em desenvolvimento, para manter aquela imagem heroica de Cuba contra os Estados Unidos, de que apesar do embargo eles ainda lutam pela ajuda aos países menos desenvolvidos", afirmou a pesquisadora.
As missões são também uma importante fonte de divisas para Cuba, cujo rendimento anual com a exportação de serviços médicos, incluindo os cerca de 37 mil profissionais da saúde no exterior, está estimado em mais de US$ 2 bilhões. O salário dos médicos gira em torno de US$ 500 por mês.
A missão médica cubana foi um dos maiores contingentes internacionais de ajuda na reação ao forte terremoto de janeiro de 2010 que atingiu o Haiti, matando milhares de pessoas e deixando 1,5 milhão de deslocados.
E, desde o início da epidemia de cólera em outubro do ano passado, os cubanos já trataram mais de 76 mil casos da doença, com apenas 272 vítimas fatais - 0,36% dos casos, proporção bem inferior à média do Haiti, que é de 1,4%.
"Trabalhamos muito na educação da população", disse o médico Lorenzo Somarriba, chefe da missão médica cubana. "Enviamos pessoas às vítimas, as educamos sobre a doença e lhes damos tabletes para limpar a água."
Muitos dos médicos são recém-formados, e vários deles se dizem felizes com a oportunidade de praticar o que só conheciam pelos livros didáticos.
"Conhecíamos o cólera da escola, mas foi difícil de acreditar e vê-lo aqui, porque o Haiti não havia tido a doença antes", disse o médico Robert Pardo Guibert, 29, que dirige uma clínica na localidade vizinha de Hinche. "Mas é fantástico, porque tratamos de tudo aqui, a cada dia há diferentes tipos de casos."
Os haitianos não parecem se importar com a nacionalidade dos médicos que lhes tratam. "Eles prestam um bom serviço", disse Mercidieu Desire, 33, que chegou à clínica com diarréia. "Cheguei, me trataram, e já me sinto bem melhor."

Texto do New York Times, reproduzido na Folha de São Paulo, de 21 de novembro de 2011

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