segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Derrota de Gutenberg


Derrota de Gutenberg

A ascensão dos livros eletrônicos vem transformando mais do que os hábitos de leitura. Os Kindles e Nooks transformaram o setor das editoras, e o ramo que ensina pessoas como ingressar no setor das editoras também está se adaptando.
Um curso de seis semanas na Universidade Columbia, em Nova York, que prepara universitários recém-formados para uma carreira no ramo editorial, se manteve em grande medida igual por décadas.
Neste verão, porém, o curso está diferente. O Curso de Edição da Columbia ofereceu palestras de executivos do setor editorial que explicaram como dominar o "e-marketing". Especialistas digitais falaram sobre a publicação eletrônica de formato curto. O jornal "The New York Times" acompanhou.
Tudo isso resulta em incerteza. "Este é um momento assustador para se ingressar nesse ramo", disse ao "Times" o agente literário Douglas Stewart. "Quando olhamos para aquele mar de rostos interessados, ficamos pensando 'será que eu deveria estar fazendo isto, neste momento?'"
Mas nem todos ficarão desapontados se menos livros forem publicados. Bill Keller, editor-executivo do "Times", se pergunta por que seus jornalistas se dão ao trabalho de escrever livros, considerando que as vendas de livros impressos nos EUA vêm caindo desde 2005.
Quando um repórter jovem e bem conceituado revelou que ingressaria nas fileiras dos autores, a reação de Keller foi pessimista: "Sim, ele pode escrever um livro. Mas por que gostaria de fazer isso? Na realidade, por que qualquer pessoa gostaria?"
Se os livros desaparecerem, haveria "conteúdo" para tomar seu lugar, como escreveu James Gleick no "Times". A Biblioteca Britânica anunciou em junho que está trabalhando com o Google para digitalizar 40 milhões de páginas de livros, folhetos e periódicos que datam desde a Revolução Francesa. A Biblioteca Digital Europeia, a Europeana.eu, colocou on-line mais de 10 milhões de "objetos" no ano passado, incluindo um manuscrito búlgaro de 1221, escrito originalmente sobre pergaminho, e a pedra rúnica Rok, da Suécia, que data aproximadamente do ano 800.
Alguns temem que a facilidade de acesso on-line possa amesquinhar o trabalho dos estudiosos. Tristram Hunt, historiador e deputado inglês, se queixou do "tecno-entusiasmo". "Quando tudo pode ser descarregado no computador, o mistério da história pode se perder", escreveu. "É com o manuscrito em mãos que o significado real do texto se evidencia."
James Gleick, que se recorda do assombro que sentiu ao ver o primeiro caderno de anotações de Isaac Newton, de 1659, discorda: "Acho isso sentimentalismo, até mesmo fetichismo", ele escreveu no "Times".
"Isso guarda relação com a fantasia de que aquilo que amamos nos livros é a tessitura do papel e o cheiro da cola."
Mas, se Bill Keller ver seu sonho realizado, mais de nós seremos poupados do que vem acontecendo com Bryan Burrough, que escreve resenhas de livros de negócios. "Bons autores fazem um esforço para contar grandes histórias de negócios", ele escreveu. "Mas, da massa de livros que se espalham sobre minha mesa, uma parte grande demais é feita de livros que simplesmente não são muito bons."


TOM BRADY



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