domingo, 26 de junho de 2011

Israelenses cada vez mais se resignam a uma vida sem paz


Israelenses cada vez mais se resignam a uma vida sem paz

Der Spiegel
Juliane von Mittelstaedt

Houve um tempo em que Israel estava ansioso para atingir um acordo de paz com os palestinos. Agora, entretanto, a maioria da população do país parece ter desistido da esperança. Enquanto os jovens árabes se rebelam contra regimes autocráticos na região, a apatia se alastra em Israel.

Panfletos dizendo “Masbirim Israel”, ou “Explique Israel”, são distribuídos no aeroporto de Tel Aviv há vários meses. Eles não são para os turistas, mas para os israelenses. O governo quer que eles façam uma campanha no exterior para angariar mais simpatia para seu país. A pequena brochura aconselha: use um mapa para explicar a vulnerabilidade de Israel! Mostre fotos de casa! Conte sua história pessoal! Surpreenda seus ouvintes com fatos como este: o pen drive, o Windows XP e os tomates cereja foram todos inventados em Israel, e o país está em primeiro lugar em número de patentes e abertura de novas empresas.

Isso se chama “hasbara” em hebraico. Os viajantes devem se tornar cidadãos embaixadores de seu país, explicando-o, fazendo campanha em prol dele, e, se necessário, justificando suas ações.

A explicação é urgentemente necessária. Israel e o resto do mundo se separaram nos últimos anos. Israel se sente isolado, criticado e incompreendido – e parece acreditar que isso não é um problema de conteúdo, mas sim da forma como é retratado.

O resto do mundo, entretanto, vê um país que aparentemente não tem pudores em violar a lei internacional, que continua expandindo seus assentamentos na Cisjordânia, impôs um bloqueio sobre uma região inteira e interceptou uma frota de ativistas pelos direitos humanos em alto mar. Israel também é visto como um país cujo ministro de interior agita a população contra “intrusos” da África, e no qual o ministro de exterior é um homem a quem 60% dos israelenses consideram responsável pelo “aumento do nacionalismo extremo e de tendências quase fascistas.”

Israel está numa crise de relações públicas, uma vez que o país enfrenta uma crescente falta de compreensão, principalmente na Europa, mas também em partes dos Estados Unidos, seu forte aliado. Quem é capaz de entender por que as revoluções nos vizinhos árabes fizeram Israel cair num estado de autismo político? Por que ele rejeita virulentamente todas as críticas? E por que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu discutiu na semana passada com o presidente dos EUA, Barack Obama, o homem mais poderoso do mundo, por conta de um conceito que está além de disputas há anos: a volta para as fronteiras de 1967 e a troca de territórios?

Histórico?

O discurso que Netanyahu deu no Capitólio na terça-feira foi anunciado previamente como um discurso histórico. O premiê supostamente tinha intenção de se aproximar dos palestinos e convencê-los de não levarem adiante seu plano de declarar independência unilateral em setembro.

Mas o que Netanyahu ofereceu apenas contribuiu para mais distanciamento. Ele falou de uma “oferta generosa” e “concessões dolorosas”, e ainda assim não houve um onde, como ou quando para suas promessas. Foi um discurso com o objetivo de unir a difícil coalizão em seu país e preservar seu poder, com um tom tão deliberadamente intransigente que depois do discurso os palestinos rejeitaram prontamente a ideia de negociar.

Não é apenas Netanyahu. Um grande segmento de seu país vive aparentemente uma existência paralela. Quando Obama falou à organização lobista de judeus norte-americanos AIPAC no domingo retrasado, homens e mulheres se manifestaram na orla de Tel Aviv com cordas em volta dos pescoços, gritando: “não nos enforque, Obama”. Um dia depois do discurso de Netanyahu, quatro ministros de gabinete, o porta-voz do Knesset e um ex-rabino chefe se reuniram para celebrar a conclusão de 60 novas unidades residenciais no leste de Jerusalém, no assentamento judeu de Maale Hazeitim no bairro de Arab Ras al-Amud, o que só esquentará ainda mais o conflito.

Pesquisas de opinião feitas no dia seguinte enfatizaram ainda mais a contradição: embora 57% dos israelenses disseram acreditar que o primeiro-ministro deveria ter respondido à proposta de paz de Obama, 51% disseram que estavam satisfeitos com o desempenho dele em Washington.

Fora de controle, mas admirável

Por que uma maioria de israelenses apoia uma política que aparentemente contradiz seus desejos, uma política que não tem a intenção de terminar o conflito e que prejudica os israelenses mais do que ninguém? A alternativa a uma solução de dois estados seria um estado binacional, no qual os palestinos tornar-se-ão a maioria num futuro não muito distante. O que está acontecendo neste país, que, apesar de ser do tamanho do estado norte-americano de Nova Jersey, domina a atenção do mundo inteiro de uma forma tão única? Um país que atualmente parece ter saído de controle, e ainda assim continua sendo tanto admirável quanto excepcional?

Esta é uma questão para Tom Segev, 66, o historiador mais conhecido de Israel; é imprescindível olhar para o passado para entender o Israel moderno. Segev recebeu seus convidados em seu apartamento no oeste de Jerusalém, que tem vista para dois muros, um velho e um novo. O muro antigo cerca a cidade velha, um lugar de peregrinação para três religiões mundiais, enquanto que o muro novo confina os palestinos dentro da Cisjordânia.

O grande intérprete da história israelense parece ter se cansado de seu papel – como se ele também não fosse mais capaz de entender seu país, ou como se o entendesse muito bem. “Pela primeira vez na minha vida, penso da mesma maneira que a maioria dos israelenses”, disse ele no começo da conversa. “Não vejo mais a possibilidade de paz.” Há dez anos, Segev descreveu a moderna sociedade israelense em seu livro “Elvis em Jerusalém”. Mas hoje ele diz: “Esqueça. Eu estava errado. Eu imaginava que as coisas só pudessem melhorar.”

Então qual é o motivo pelo qual Israel e o resto do mundo se estranharam tanto nos últimos anos? “Somos tão irracionais, porque este é um país louco. Tudo que fazemos vai contra nossos interesses, que é viver num estado judeu e democrático, em paz com nossos vizinhos”. E o motivo para isso, diz ele, é bem simples: “temos mais a perder nesse conflito do que os palestinos”.

Poder nuclear e um país de novas empresas

Até hoje, Israel é um país em estado de emergência. Metade de suas fronteiras ainda não estão determinadas, cada casa tem um cômodo de segurança e todo cidadão têm uma máscara de gás no armário. É um país em que homens e mulheres são convocados para o serviço militar, onde há em média um enterro para cada 17 soldados mortos e onde um soldado foi sequestrado pelo Hamas há cinco anos e foi mantido numa cela em algum lugar em Gaza desde então.

Israel também é um país que, por um lado, desenvolveu uma democracia liberal, mas, por outro, manteve seus vizinhos sob ocupação e coerção militar por 44 anos. É tanto uma potência nuclear e uma nação de novas empresas, que produziu mais laureados pelo Nobel do que todo o mundo árabe, mas também um país em que os teólogos definem a cidadania e onde não há casamento civil, constituição e direito a asilo.

Três eventos influenciaram profundamente o país, disse Segev, sentado em seu sofá com uma cópia da declaração de independência de Israel enquadrada e pendurada na parece acima de sua cabeça: a ocupação da Cisjordânia desde a Guerra dos Seis Dias em 1967, a imigração da antiga União Soviética nos anos 90 e o fracasso do processo de paz de Camp David em 2000.

A ocupação já dura dois terços da história do Estado de Israel, e em todos esses anos ela também mudou o ocupante, suas instituições e sua forma de pensar. Prisioneiros são maltratados, enquanto o governo apoia assentamentos ilegais e ignora as determinações do Supremo Tribunal israelense sobre a desocupação de assentamentos. Isso acostumou o público israelense a uma constante violação da lei, que precisa de uma justificativa. A justificativa fornecida é que a ocupação é essencial para a sobrevivência da nação israelense. Mas os israelenses esqueceram que David Ben-Gurion, o fundador da nação, foi contra a tomada da Cisjordânia, porque a viu como uma fonte potencial de desastre.

Uma vida sem paz é possível?

Os quase um milhão de imigrantes da antiga União Soviética trouxeram a obediência à autoridade para o país, o que apenas amplifica as consequências negativas da mentalidade de ocupação. Pesquisas mostram que os recém-chegados rejeitam os direitos iguais para os árabes e preferem ter um homem forte como líder. Como resultado, muitos deles votaram em Avigdor Lieberman, uma versão israelense do primeiro-ministro russo Vladimir Putin e chefe do partido direitista Yisrael Beiteinu (Isarel é Nosso Lar). Lieberman é ministro de relações exteriores de Israel há dois anos.

O fracasso do acordo de paz de Camp David, mediado pelo presidente norte-americano Bill Clinton, entre o ex-líder da OLP Yasser Arafat e o então primeiro-ministro israelense Ehud Barak, contribuiu em grande parte para a atual paralisia política. Quando Barak voltou para casa, ele anunciou que os palestinos rejeitaram sua “generosa oferta” e que “não eram parceiros para a paz”.

Isso foi aparentemente confirmado pelos anos de ataques suicidas que se seguiram, que só convenceram os israelenses de que eram eles que queriam a paz, enquanto os palestinos queriam o terror. Vários anos depois, a mesma crença foi reconfirmada quando os israelenses evacuaram seus assentamentos em Gaza e os palestinos responderam lançando foguetes em território israelense. 

Mas o que a mídia ignorou com frequência e o público israelense tende a esquecer é que Israel também cometeu erros, que a segunda Intifada foi em parte uma reação à violência israelense, e que nem a oferta israelense em Camp David nem a retirada da Faixa de Gaza foram particularmente “generosas”.

Um problema técnico

Os ataque suicidas também engendraram desapontamento, medo e ódio – e, acima de tudo, indiferença aos palestinos – também entre muitos liberais israelenses. Entretanto, a paz à custa do compromisso parecia necessária, uma vez que os ataques continuavam. Mas uma vez que eles terminaram, muitos israelenses preferiram a atual calma ao esforço e à incerteza associados a um tratado de paz. E desde que uma barreira de segurança foi erguida e o sistema de defesa anti-mísseis Iron Dome foi instalado, a falta de paz parece mais um problema técnico que pode ser controlado.

“Da perspectiva de Israel, uma vida sem paz agora é possível. Há pouco terrorismo, não há guerra, e não há grandes decisões que possam desencadear discussões na mesa do café da manhã”, diz Segev. “Netanyahu é tão forte, porque persegue uma política de não fazer nada quanto aos palestinos. E ele conseguiu transformar essa política num consenso.”

A sensação de estar num constante estado de emergência ajuda a reforçar esse consenso. Ninguém tem tantos inimigos quanto Israel, nenhum outro país foi ameaçado de ser varrido da face da terra pelo Irã, e em nenhum outro lugar do mundo existe o trauma tão profundamente enraizado do extermínio de um povo. Para uma nação que teme constantemente por sua sobrevivência, tudo que faz é auto-defesa. A direita, por exemplo, refere-se às fronteiras de 1967 como “as fronteiras de Auschwitz”, sugerindo portanto que o fim da ocupação da Cisjordânia colocaria em risco a própria existência de Israel.

“Os políticos estão usando o Holocausto cada vez mais para criar medo”, diz o historiador Segev. Isso, ele acrescenta, faz com que um político que acredita na paz e na coexistência parecer ingênuo e inelegível em Israel hoje – ou mesmo alguém que está traindo seu próprio povo.

O perigo real está aqui e agora”

Mordechai Kremnitzer, 62, conhece bem as consequências desse ciclo vicioso de paranóia. Vice-presidente do Instituto de Democracia Israelense, Kremnitzer alerta, quase diariamente, contra uma “democracia de dieta”. Ele diz: “o momento de perigo real é aqui e agora”.

Nos meses recentes, o Knesset, o parlamento israelense, adotou várias iniciativas dirigidas contra os árabes israelenses, que representam um quinto da população. Na peça mais recente de legislação, a lei Nakba foi aprovada no final de março, as escolas ou comunidades árabes que celebravam a fuga e expulsão dos palestinos depois da fundação de Israel podem ser penalizadas com a negação de financiamento do governo. Novos cidadãos precisam agora jurar um testemunho de aliança ao “estado judeu e democrático”. Pequenos vilarejos no deserto de Negev e na Galileia também receberam o direito de rejeitar novos moradores que não se “encaixam” na comunidade. Isso permitirá às comunidades judaicas rejeitarem os árabes no futuro sem violar o princípio de igualidade.

“Agora que o conflito é cada vez mais visto como uma disputa existencial entre dois projetos nacionais, os árabes israelenses são vistos como um inimigo internacional”, diz Kremnitzer. Uma distinção tão rigorosa entre amigo e inimigo divide a sociedade. Enquanto os assentados que atacaram soldados durante a retirada da Faixa de Gaza foram perdoados pela lei de anistia, os esquerdistas são enviados para a prisão por coisas tão pequenas como participar de protestos não-autorizados.

Categoricamente contra eles

A maioria da população não protesta. Isso, diz Kremnitzer, deve-se em parte porque os ultra-direitistas conseguiram tachar todos que discordam deles de desleais ou impatriota. De acordo com a atitude mental, cada vez mais aceita como conhecimento comum, as críticas não são simples críticas, mas em vez disso vêm de uma hostilidade fundamental. De acordo com uma pesquisa, mais da metade dos israelenses acreditam que o mundo está categoricamente contra eles, independente das políticas do país.

Por exemplo, Richard Goldstone, um juiz internacionalmente respeitado da África do Sul que foi nomeado para chefiar a missão de investigação da ONU sobre a guerra de Gaza, foi vilificado como um judeu que se odeia e é anti-sionista. No final de março, membros do Knesset debateram seriamente a questão de se o J Street, um grupo judeu lobista nos EUA que condena a construção de assentamentos, deveria poder se classificar como “pró-israelense”. Alguns críticos estão sendo proibidos de entrar no país, mesmo que sejam judeus proeminentes, como o linguista Noam Chomsky e o cientista político Norman Finkelstein.

O jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg perguntou recentemente: “e se Israel deixar de ser uma democracia?” Ele desenha um cenário que não é mais improvável.

“Digamos apenas, como hipótese, que um dia no futuro próximo, o governo do primeiro-ministro Lieberman (não ria, não é engraçado) propôs um projeto de lei que ecoa o pedido recente de alguns rabinos para desencorajar os judeus de vender suas casas para os árabes”, escreveu Goldberg. “Ou digamos que o governo de Lieberman anexe partes da Cisjordânia para incorporar assentamentos judeus, mas anuncia sumariamente que os árabes no território anexado são na verdade cidadãos da Jordânia, e podem votar lá se quiserem, mas não poderão votar em Israel. O que acontecerá então? Os tribunais virão resolver a situação? Espero que sim. O povo israelense resolverá a situação? Não tenho tanta certeza.”

Esperança para o futuro

Israel ainda é um país livre, com uma democracia dinâmica, uma imprensa livre e um judiciário independente. Mas basta dirigir de Tel Aviv a Jerusalém para ver que também há um mundo alternativo dentro de Israel, um no qual um em cada dez israelenses vivem. É o mundo dos judeus ultra-ortodoxos, de homens vestidos de ternos pretos e mulheres de perucas, segurando seus filhos pelas mãos. A maioria deles preferiria uma teocracia.

Quando uma foto do presidente norte-americano e seus conselheiros foi publicada depois da morte de Osama Bin Laden, não foi um jornal saudita mas um jornal israelense ultra-ortodoxo que usou o Photoshop para apagar a imagem da secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton – porque os homens ortodoxos são proibidos de olhar para mulheres não familiares.

Ao mesmo tempo, o conflito aparentemente intratável facilitou a mescla de religião e nacionalismo, com os judeus ortodoxas antes politicamente moderados tomando o lado dos assentados de direita. Líderes rabinos estão lutando contra os tribunais do governo e convocando o público a desobedecer ordens emitidas pelo exército. Representantes desse campo nacionalista-religioso detém posições-chave no parlamento, no exército e na sociedade. Um deles é o novo conselheiro de segurança nacional, por exemplo, que de acordo com o Ha'aretz, disse numa conferência que qualquer um que tentar interromper uma missão militar, mesmo um soldado, deveria ser morto.

Estranhamente sem resposta

Secularistas, nacionalistas e os religiosos estão lutando pelo caráter na nação, e sobre o quão judia ou democrática ela deve ser. Depois de 63 anos, essa questão continua estranhamente sem resposta, e, entretanto, o futuro de Israel e da Cisjordânia depende dela. Será que Israel pode ser democrático se continuar a ocupar os territórios ocupados? Por outro lado, será que Israel pode ser judeu se abrir mão das regiões bíblicas da Judéia e Samaria?

De forma alguma está certo que a democracia irá prevalecer. A conexão bíblica com a terra se juntou à narrativa secular da ocupação e é mais importante hoje do que eram em 1967. É por isso que faz perfeito sentido para um primeiro-ministro israelense usar as histórias de Abraão, Davi e Isaías para justificar a reivindicação de Israel pela Cisjordânia. Entretanto, os políticos se tornam mais irracionais onde a religião está envolvida.

No fim, a demografia provavelmente decidirá o resultado desse conflito. Os assentados e os ultra-ortodoxos são os que têm mais filhos. Israel tem uma taxa de natalidade mais alta do que a Líbia, e em algumas cidades até 64% dos habitantes são crianças.

E o que dizer as esquerda de Israel, seus ativistas pela paz, artistas, empresários e liberais? O que aconteceu com a maioria silenciosa e secular do país?

As velhas elites, que antes dominaram a política da paz, retiraram-se em grande parte do processo político. A maior parte foi para Tel Aviv, o enclave liberal onde os palestinos, assentados e judeus ortodoxos parecem igualmente distantes. Eles tem mais chances de se envolverem em causas ambientais do que nos partidos políticos. Tel Aviv também é o lar daqueles que desfrutam da expansão econômica e de seus benefícios, incluindo muitos restaurantes novos, spas e bares de vinhos que abriram nos anos recentes. A cidade efervescente, movimentada e agitada de Tel Aviv é sinônimo dessa fuga da política.

Mais esperto que os políticos

Isso em parte é resultado de uma sensação comum de que os partidos e os políticos são corruptos. Dificilmente um político proeminente não enfrentou um escândalo nos últimos anos. Netanyahu foi acusado de aceitar estadias em hotéis de luxo pagas por outros. O ministro Lieberman enfrenta um processo por desfalque e lavagem de dinheiro. E também há o caso de Moshe Kazaw, o ex-presidente, que foi condenado a sete anos de prisão por estupro.

Seria fácil chamar Israel de uma nação corrupta, mas não é tão simples, na verdade. “Há muito exagero no que diz respeito à corrupção”, diz Yossi Shain, cientista político da Universidade de Tel Aviv. “Caçar pessoas com acusações de corrupção se tornou o esporte nacional de nossa comunidade”. De acordo com a Transparência Internacional, servidores civis são menos suscetíveis a aceitarem propinas em Israel do que na França, e o país tem uma classificação mais favorável do que a Itália e a Grécia.

E se a corrupção não é tão comum quando parece à primeira vista, será que a obstinação ideológica não é tão dominante quanto parece?

A intransigência, o extremismo nacionalista e religioso pinta um quadro sombrio que na verdade não coincide com o clima otimista do país. Numa pesquisa sobre o quanto as pessoas estão satisfeitas com suas vidas, por exemplo, Israel ficou em nono lugar, bem na frente da Alemanha. Isso também faz parte do quadro que é tão difícil de entender fora de Israel.

É claro, ainda há esperança para o futuro, como outra pesquisa indica. Apesar de estar acostumado a um estado constante de guerra, e apesar de seu desprezo pelos palestinos, 67% dos judeus israelenses apoiam um plano de paz que inclui a divisão de Jerusalém e a retirada da Cisjordânia, mas apenas 47% dos membros do Knesset compartilham dessa visão.

O que isso demonstra, acima de tudo, é que por fim a maioria dos israelenses é mais inteligente do que seus políticos.


Tradução: Eloise De Vylder


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