domingo, 3 de setembro de 2023

As PMs fazem o que querem


Autorizado pelo ministro Cristiano Zanin, do STF, o ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal Fábio Augusto Vieira ficou em silêncio durante seu depoimento à CPI do 8 de Janeiro. Chefe da corporação na data dos ataques à praça dos Três Poderes, ele não conseguiu, contudo, esconder a cara de tacho.

Vieira —que está preso— é investigado pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e por infringir a lei orgânica e o regimento interno da PM. A Polícia Federal aponta que a PMDF se omitiu em relação aos ataques. Em mensagens de zap, oficiais em postos de comando espalharam desinformação sobre o sistema eleitoral e incitaram as invasões. Um grupo de policiais se escondeu no banheiro em meio à depredação do STF. Eis uma vergonha digna de se contar aos netinhos.

As investigações vão dizer até que ponto o governador Ibaneis Rocha e o ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres tinham conhecimento dos planos de seus subordinados. A sensação é de que hoje as PMs agem —no Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo e outros estados— com uma independência sem freios, um modelo próprio e brutal. A insubordinação não isenta de culpa os governadores. Estes quase sempre defendem e incentivam os policiais ou lhes passam a mão na cabeça.

O caso do Rio de Janeiro é exemplar. Um capitão da PM está sendo investigado por autorizar uma operação ilegal, com carro e drone particulares, na Cidade de Deus. O voluntarismo resultou na morte de um adolescente de 13 anos.

Um documento da Defensoria Pública do Rio indica que a PM vem tentando dificultar os registros das câmeras corporais, principalmente quando as ações acabam em mortes. As câmeras são desacopladas dos uniformes e as lentes, obstruídas. Imagens teriam sido manipuladas ou apagadas. Quem manda na polícia?


Texto de Álvaro Costa e Silva, na Folha de São Paulo

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