terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os produtores, os recebedores e os fingidores


Os republicanos têm um problema. Durante anos eles conseguiram fazer calar no grito qualquer tentativa capaz de expor o quanto suas políticas favoreciam a elite, em vez dos pobres e da classe média. Tudo o que eles tinham que fazer era gritar “luta de classes!” que os democratas corriam para bem longe. Na eleição de 2012, no entanto, isso não funcionou: a imagem do Partido Republicano como uma agremiação de plutocratas grosseiros colou, apesar de os democratas terem se tornado mais abertamente populistas do que nas últimas décadas.

Como resultado, republicanos proeminentes começaram a reconhecer que seu partido precisava melhorar sua imagem. Mas aí há um problema: as propostas dos republicanos para reformular seu partido envolvem uma mudança na tática de vendas, e não no produto. Quando se trata de sua essência, o Partido Republicano está mais comprometido do que nunca com as políticas que tiram o máximo da maioria dos norte-americanos e repassam o resultado a um punhado de gente abastada.

Vamos considerar, a título de exemplo, como um discurso recente e amplamente divulgado proferido por Bobby Jindal, o governador da Louisiana, pode ser comparado a suas políticas reais.

Jindal colocou o problema de uma maneira que, acredito eu, seria impensável para um líder republicano até um ano atrás. “Nós não devemos”, declarou ele, “ser o partido que simplesmente protege os mais ricos para que eles possam manter os seus brinquedinhos. Nós temos que ser o partido que deve mostrar a todos os norte-americanos como eles podem prosperar”. Depois de uma campanha durante a qual Mitt Romney condenou qualquer tentativa de menção à luta de classes, como se falar sobre esse tema representasse um “ataque contra os bem-sucedidos”, essas palavras representam uma grande mudança retórica.

Mas Jindal não ofereceu nenhuma sugestão para que os republicanos pudessem demonstrar que eles não estão só interessados em fazer com que os ricos mantenham seus brinquedinhos. Ele apenas afirmou – em voz ainda mais alta do que antes – que suas políticas são boas para todos.

Enquanto isso, na Louisiana, Jindal está tentando aprovar um projeto para eliminar o imposto de renda estadual – que recai mais fortemente sobre os mais ricos – e compensar a perda de receita por meio do aumento dos impostos sobre as vendas, taxação que recai de maneira muito mais pesada sobre os pobres e a classe média. O resultado seria a geração de grandes ganhos para o 1% mais rico da população e perdas substanciais para os 60% mais pobres. Projetos semelhantes também fazem parte dos esforços de uma série de outros governadores republicanos.

Como a recente descoberta de que a percepção de ser o partido dos ricos é um problema, isso representa uma nova saída para o Partido Republicano – só que na direção contrária. No passado, os republicanos costumavam justificar os cortes de impostos para os ricos ao afirmar que eles mesmos pagariam por eles ou que eles poderiam compensar a perda de receitas por meio de cortes de gastos supérfluos.
Mas o que estamos testemunhando agora é uma tática explícita de Robin Hood às avessas: tirar das famílias comuns para dar aos mais ricos. Ou seja, até mesmo em um momento em que os republicanos buscam uma maneira de parecer mais solidários e menos radicais, suas políticas reais estão fazendo mais uma curva acentuada à direita.

Por que isso está acontecendo? E, em especial, por que isso está acontecendo agora, logo depois de uma eleição na qual o Partido Republicano pagou o preço por sua posição antipopulista?

Bem, eu não tenho a resposta completa, mas acho que é importante entender até que ponto os líderes republicanos vivem em uma bolha intelectual. Eles assistem às notícias na Fox e em outros canais tendenciosos, acessam as análises políticas realizadas por grupos de especialistas de direita financiados por bilionários e, em geral, desconhecem totalmente as provas em contrário ou como suas posições soam para os que estão olhando de fora.

Então, quando Romney fez seus infames comentários sobre os “47%” (percentual de norte-americanos que não pagam imposto de renda), em sua cabeça ele não estava dizendo nada de ultrajante nem de controverso. Ele estava apenas repetindo um ponto de vista que se tornou cada vez mais dominante dentro da bolha da direita.
Ou seja: que uma proporção grande e cada vez maior de norte-americanos não se responsabiliza por suas próprias vidas e está sugando as riquezas dos ricos trabalhadores.
O aumento das reclamações sobre a situação do mercado de trabalho demonstra preguiça, e não a falta de postos de trabalho; o aumento dos pedidos de benefícios previdenciários por deficiência ou invalidez representam simulação de doenças, e não problemas reais de saúde reais de uma força de trabalho envelhecida.

E, considerando-se essa visão de mundo, os republicanos acreditam que é totalmente adequado reduzir os impostos que incidem sobre os mais ricos e fazer, ao mesmo tempo, todo mundo pagar mais.

Mas os políticos que atuam na esfera nacional aprenderam no ano passado que esse tipo de conversa pega mal com o público –de modo que agora eles estão tentando esconder suas posições.
Paul Ryan, por exemplo, fez recentemente uma tentativa claramente desonesta ao afirmar que, quando ele falou sobre os “que só recebem” e vivem dos esforços dos “que produzem” – em um dado momento, ele disse que 60% dos norte-americanos pertenciam à categoria dos “que só recebem” –, ele não estava falando das pessoas que recebem benefícios da Previdência Social nem do Medicare (mas ele estava).

Mas, em estados de maioria republicana, como a Louisiana ou o Kansas, os republicanos são muito mais livres para agir de acordo com suas crenças – o que significa adotar medidas que têm como objetivo claro confortar os que já estão confortáveis e afligir os aflitos.

O que me leva de volta a Jindal, que declarou em seu discurso que “somos um partido populista”. Não, vocês não são. Vocês são um partido que trata com desprezo uma grande parcela dos norte-americanos. E o público já deve ter percebido isso.

 
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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