quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

‘Fazenda de conteúdo’ semeia respostas e colhe capitalização

Na última quarta-feira, 26, a Demand Media abriu seu capital na Bolsa de Nova York. Ao final do processo, o mercado avaliou a empresa em pouco mais de US$ 150 milhões de dólares.
É mais ou menos o que vale a empresa holding do New York Times, na mesma bolsa.
Empresas de internet estão procurando a bolsa para atrair mais capital já faz alguns meses. Os negócios são mais sólidos do que eram no tempo da corrida dos anos 1990. Mas, no caso da Demand Media, a polêmica não é pequena e envolve de forma profunda a maneira como a internet funciona.
No jargão do Vale, a turma da Demand faz uma ‘content farm’, criação de conteúdo no atacado, não raro de baixa qualidade.
Seu modelo é sofisticado tecnicamente mas é simples no conceito. Eles analisam buscas através de um software que criaram e que tenta compreender três elementos. Querem saber que tipo de informação as pessoas mais procuram quando digitam algo no Google. Não basta: de tudo o que é procurado, descobrem também aquilo que a internet menos oferece em conteúdo. Busca comum que tem muita resposta não vale, é preciso ser raro. Por fim, entra o valor do tema.
Porque o dinheiro, nesta brincadeira, está no AdSense, a propaganda do Google. Todo mundo que tem um site pode colocar um código na página que exibe publicidade servida pelo Google. O site de buscas fica com um naco do dinheiro e passa o resto para o dono do site. Esse dinheiro varia de acordo com a demanda de quem paga pela propaganda. Palavras pouco procuradas são baratinhas, outras têm o preço lá em cima.
O software da Demand Media responde o que é muito buscado, tem pouco na internet e rende mais em AdSense. Então, a empresa paga alguns tostões para um grupo de freelancers que escrevem artiguetes sobre o assunto. Eles têm muitos sites, o mais conhecido é o eHow.com. E, agora, o conjunto vale oficialmente US$ 150 milhões.
O site DailyFinance.com publicou uma lista com o tipo de artigo que a Demand publica: como vestir uma sunga, como calcular a idade de uma pessoa a partir de sua data de nascimento, tipos de chapéus para crianças, como comprar cerveja, o que desejam mulheres ucranianas.
Pois é.
O apelido ‘content farm’ não é um elogio. O conteúdo que publica é de má qualidade e, no entanto, aparece bem nas buscas do Google. É assim que se faz dinheiro. Apesar disso, o New York Times chegou a cogitar comprar a empresa. O negócio não foi fechado, hoje não dá mais.
Para a turma da Demand, o negócio é bom. E para o Google? Uma resposta é: 30% da receita do Google vem do AdSense e a Demand Media é seu maior cliente. Quanto mais a empresa faz sucesso, mais dinheiro entra no caixa do Google.
Só que não é bem assim. Quanto mais respostas chegam bem cotadas na busca via Demand, mais conteúdo ruim aparece como resposta sem ajudar o principal cliente do Google: seu usuário.
Assim como uma empresa jornalística, o Google tem uma divisão rígida entre Igreja e Estado. Quem faz propaganda não influencia os engenheiros responsáveis pela qualidade da busca. Estes engenheiros têm um chefe, Matt Cutts.
Cutts tem escrito em seu blog, nas últimas semanas, sobre as tentativas de combater as respostas lixo nos resultados de busca. Embora não diga textualmente, todos entendem que a abertura de capital da Demand tem a ver com o movimento do Google de mexer em seu algoritmo para derrubar as ‘content farms’.
Essa será uma briga boa.

 Texto do blog do Pedro Dória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário