quarta-feira, 31 de julho de 2013

Casa Branca responde com silêncio à matança de manifestantes egípcios

No domingo (28/07), novamente a resposta do governo Obama foi de silêncio, após o segundo assassinato em massa de manifestantes egípcios em três semanas. Enquanto os diplomatas ocidentais trabalhavam nos bastidores para acalmar as tensões, os congressistas manifestaram pouco apoio ao corte da ajuda dos EUA para o Egito.

Uma democrata importante, a senadora da Califórnia Dianne Feinstein que dirige o Comitê de Inteligência, disse que o Congresso deve considerar a suspensão da ajuda anual de US$ 1,5 bilhão (em torno de R$ 3 bilhões) dos EUA ao Egito, em resposta ao ataque no sábado pelos serviços de segurança egípcios que matou pelo menos 72 pessoas e deixou centenas de feridos. "Temos que repensar a concessão de ajuda", disse Feinstein ao programa da CNN "State of the Union". "A bola está com o Egito".

Outros parlamentares democratas e republicanos, entretanto, apesar de condenarem o segundo assassinato em massa de manifestantes após a derrubada do presidente Mohammed Mursi, não chegaram a sugerir o corte da ajuda ao Egito.

Porta-vozes do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca se recusaram a comentar no domingo. Em um comunicado neste sábado, o secretário de Estado, John Kerry, chamou a violência de "um momento crucial para o Egito" e exortou os seus líderes "a ajudarem o país para que não caia no abismo".

Kerry, que conversou por telefone com o vice-presidente interino e ministro das Relações Exteriores do Egito no sábado, acrescentou: "Neste ambiente extremamente volátil, as autoridades egípcias têm a obrigação moral e legal de respeitar o direito de reunião pacífica e de liberdade de expressão".

Também no sábado, o secretário de Defesa, Chuck Hagel, expressou sua profunda preocupação com a violência no Egito. Segundo um comunicado de um porta-voz do Pentágono, ele pediu moderação em um telefonema ao comandante do exército egípcio, general Abdel-Fattah el-Sissi.

O presidente Barack Obama, em sua primeira resposta punitiva à derrubada de Morsi, ordenou na semana passada a suspensão da entrega de quatro aviões de combate F-16 para a Força Aérea egípcia. Mas a Casa Branca enfatizou que a decisão não tinha implicações para a assistência de US$ 1,5 bilhão mencionada por Feinstein, que por hora não seria cortada.

O governo está reavaliando essa ajuda anual, mas evitou cuidadosamente referir-se à queda de Morsi como um golpe de Estado, pois isso poderia forçar legalmente a sua suspensão.

"Este é um ponto de definição para o tipo de Egito que emergirá", disse Feinstein domingo, acrescentando que estava enviando uma advertência à nova liderança civil do Egito e aos generais do Exército –o verdadeiro poder no país.

No domingo, os diplomatas tentaram acalmar a crise política no Egito, enquanto continuava o confronto entre defensores e opositores de Morsi. A violência eclodiu nos funerais de defensores de Morsi, mortos por forças de segurança egípcias no sábado, levando pelo menos a uma morte neste domingo.

Catherine Ashton, principal autoridade de política externa da União Europeia, foi ao Cairo em uma aparente tentativa de mediar o impasse entre as forças armadas e a Irmandade Muçulmana, a organização islâmica que apoia Morsi e exige sua reintegração.

Uma porta-voz de Ashton disse que ela iria se encontrar com El-Sissi, membros da Irmandade, líderes civis do governo interino e jovens ativistas. Ashton também pediu para ver Morsi, detido pelos militares desde que foi deposto, no dia 3 de julho. O exército recusou um pedido semelhante de Ashton há duas semanas.

A porta-voz não disse se Ashton trazia uma proposta concreta para acabar com o impasse.

Um porta-voz da Irmandade, Gehad El-Haddad, disse que não tinha conhecimento de proposta alguma, mas que o grupo estava aberto "a qualquer iniciativa patriótica".

O diretor de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, condenou fortemente o derramamento de sangue no Egito no domingo, advertindo que a violência política estava levando o país a um desastre.

Os líderes do Egito continuaram a culpar os manifestantes pelo derramamento de sangue de sábado, apesar de vídeos circularem pela Internet mostrando claramente policiais e atiradores à paisana atirando na manifestação. A promotoria pública disse que uma investigação preliminar descobriu que os manifestantes tentaram bloquear uma ponte central e entraram em confronto com os policiais que tentavam detê-los, de acordo com a mídia estatal.

Os promotores disseram no domingo que os confrontos levaram a mortes em ambos os lados e que 73 manifestantes pró-Morsi haviam sido presos e seriam acusados de assassinato. Isso pareceu contradizer as declarações do ministro do interior, que disse no sábado que alguns policiais haviam sido feridos, mas não mencionou nenhuma baixa.

Outros congressistas norte-americanos também disseram em programas de televisão no domingo que condenavam a violência no Cairo.

"Nós tivemos uma relação positiva entre os Estados Unidos e os militares egípcios", disse o senador Richard Durbin, de Illinois, segundo democrata no Senado, ao programa da ABC "This Week". "Mas deveríamos deixar claro ao Egito, como fizemos com a Líbia e a Síria, que disparar contra o seu próprio povo é inaceitável para qualquer governo".

O senador Saxby Chambliss da Geórgia, líder da bancada republicana no Comitê de Inteligência, repetiu os comentários de outros parlamentares nos últimos dias sobre a necessidade de cautela por parte dos Estados Unidos com seu antigo firme aliado no Oriente Médio.

"Temos que ter cuidado para não nos impormos demais na situação, porque isso provavelmente pioraria as coisas", disse Chambliss ao "This Week." "Mas também precisamos enviar uma mensagem muito clara e muito forte para os militares egípcios que não vamos tolerar, como nação amiga, o tipo de violência que vimos neste fim de semana". (colaborou Mayy El Sheikh, no Cairo)

Texto de Eric Schmitt, para o The New York Times, reproduzido no UOL. Tradutor: Deborah Weinberg

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