terça-feira, 9 de julho de 2013

Na Flip, como na Copa


Durante entrevista na Festa Literária Internacional de Paraty deste ano, Gilberto Gil criticou as "esbranquiçadas" arquibancadas dos estádios brasileiros em jogos da Copa das Confederações.
Poderia ter dito o mesmo sobre a plateia da Tenda dos Autores, para a qual ele e mais de 40 outros se apresentaram. A audiência da Flip lembra muito a dos eventos Fifa: classe média alta paulista, carioca, branca.
No ano passado, o escritor americano-nigeriano Teju Cole já havia mostrado seu espanto por ser um dos poucos negros presentes no evento literário, seja na plateia ou no palco --neste ano, aliás, Gil foi o único negro convidado da tenda principal.
Na Flip, como nas Copas por aqui, pobre e negro só aparece "como prestador de serviço", para citar uma quilombola que participou de um protesto em Paraty, anteontem.
Como lembrou outro dos convidados da festa literária, o mexicano Juan Pablo Villalobos, esse cenário é "um espelho do que é o Brasil".
O que falta ao país são mais eventos como a Flupp, a Festa Literária das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que acontece hoje e amanhã na Penha, zona norte do Rio. Nela, sete autores estrangeiros que estiveram em Paraty irão falar, gratuitamente, para o público de uma das áreas mais pobres e violentas da cidade --a UPP da Penha é daquelas que ainda não fazem jus a seu último P.
Quem viu a primeira edição da festa literária das favelas no ano passado, organizada com o apoio da Flip, pôde notar como a interação da plateia com os autores é tão viva quanto aquela vista em Paraty.
Não por acaso, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, que assistiu à primeira Flupp, afirmou que o sucesso da pacificação depende tanto de eventos como este quanto da presença da polícia. Resta torcer pelo dia em que o público das duas festas se mesclará naturalmente, tanto nelas quanto nos estádios.


Texto de Marco Aurélio Canônico na Folha de São Paulo

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