sexta-feira, 26 de julho de 2013

Heroína luta contra radicais islâmicos em série de animação paquistanesa

Heroína luta contra radicais islâmicos em série de animação paquistanesa
A Vingadora de Burca usa livros e lápis contra adversários da educação para garotas
DIOGO BERCITODE JERUSALÉM

Fugindo à regra geral dos super-heróis, que omitem a verdadeira identidade e há décadas usam roupas coloridas e colantes, a heroína que estreia neste domingo na TV paquistanesa se esconde por trás de uma burca preta, traje islâmico do país asiático. Apenas os olhos são descobertos.
A Vingadora de Burca foi criada pelo músico paquistanês Haroon como maneira de abordar questões locais com um personagem nativo.
O principal desafio: lutar contra islâmicos radicais que, entre outros malfeitos, impedem garotas de estudar.
A história lembra o caso de Malala Yousafzai, garota paquistanesa que foi baleada pelo Taleban em outubro passado, aos 15 anos, por sua campanha pelos direitos de meninas de sua idade.
"Os paquistaneses podem ter seu próprio modelo", diz Haroon à Folha. "Quis falar dos problemas sociais do país na nossa língua, com piadas típicas e o sabor tradicional."
No desenho animado, uma professora --disfarçada de Vingadora de Burca-- enfrenta os vilões arremessando livros e lápis contra eles, enquanto se esconde embaixo de suas vestes esvoaçantes.
"Não mexa com a moça de preto", diz a trilha sonora, cantada por Haroon.
Malala, após sobreviver ao atentado, mudou-se para o Reino Unido e se tornou uma celebridade global.
Há duas semanas, foi a estrela de um evento na ONU, em Nova York, ao qual compareceram personalidades como o secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, e o ex-premiê britânico Gordon Brown.

ROUPAGEM

A decisão de vestir a heroína com uma burca trouxe críticas ao programa, já que as vestes islâmicas são identificadas como instrumentos de opressão no Ocidente.
Mas o músico nota que, caso a vingadora se vestisse como a Mulher Maravilha (de shortinho de cintura alta), não seria bem recebida pelo público no Paquistão.
Além disso, a professora não usa burca ou mesmo um lenço islâmico enquanto não está no combate ao crime.
Haroon financiou ele próprio o projeto, desenvolvido pela produtora Unicorn Black. Há um doador externo que ele prefere não creditar.
A Vingadora de Burca, que começou como um aplicativo para iPhone e se tornou possivelmente a primeira animação infantil paquistanesa, já tem um álbum de música com a participação de outras estrelas do país.
O primeiro episódio estará disponível no site www.burkaavenger.com, com legendas em inglês.
Há a previsão de traduzir toda a série para outros idiomas, no futuro.


Reprodução da Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário