Líder judaico iraniano critica fala de Ahmadinejad
Em um de seus últimos pronunciamentos, presidente do Irã diz se orgulhar por ter questionado Holocausto
O líder da comunidade judaica no Irã, Haroun Yashayaei, criticou o presidente Mahmoud Ahmadinejad por ter dito, num de seus últimos pronunciamentos antes de entregar o cargo, que se orgulhava de questionar o Holocausto.
Foi uma rara manifestação pública de repúdio por parte dos judeus iranianos contra a insistência de Ahmadinejad em contestar o extermínio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista alemão durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
"Até o fim de seu mandato, o presidente tripudia e chama o Holocausto de mito. É algo presunçoso [movido por intenções] de politicagem", escreveu Yashayaei, presidente da Associação Judaica Iraniana, em carta aberta publicada ontem no jornal "Shargh".
"O Holocausto não foi uma história inventada por sionistas ou grupos judeus. O Holocausto foi um plano organizado por fascistas pró-Hitler e executado por esquadrões da morte nazistas com a intenção de cometer um genocídio contra a existência judaica", afirmou.
"Casas de judeus em Berlim e Munique foram saqueadas simplesmente por pertencerem a judeus e porque seus proprietários haviam provavelmente sido mandados para dar uma volta' nos campos de concentração", afirmou ele.
O texto foi uma resposta a um pronunciamento no qual Ahmadinejad listou, no domingo, o questionamento do Holocausto como um dos destaques de sua gestão.
"Era um tema tabu que ninguém no Ocidente podia levantar (...). Questioná-lo permitiu quebrar a espinha dorsal do regime capitalista", afirmou o presidente, que disse ter tido "coragem" de trazer o assunto à tona.
POLÊMICAS
Desde sua chegada ao poder, em 2005, o presidente iraniano defende a realização de "novos estudos independentes" para apontar, segundo ele, inconsistências nos relatos históricos sobre a dimensão da tragédia.
Ahmadinejad também passou seus dois mandatos afirmando que Israel é um Estado ilegítimo fadado a desaparecer.
Essa retórica incendiária favoreceu partidários da linha dura contra o Irã nos países ocidentais e em Israel.
Conjugadas ao impasse no dossiê nuclear, as falas de Ahmadinejad abriram caminho para a implementação das sanções econômicas mais duras já impostas a Teerã.
O próximo presidente iraniano, o recém eleito clérigo Hasan Rowhani, rejeita com firmeza o "discurso do ódio" de Ahmadinejad, a quem acusou de ter levado o Irã "à beira da guerra". Rowhani assume no dia 4 de agosto.
Com cerca de 20 mil fiéis, o Irã abriga a maior comunidade judaica do Oriente Médio, depois de Israel. Há dezenas de sinagogas espalhadas pelas grandes cidades iranianas. Eram 80 mil antes da Revolução Islâmica de 1979.
Reportagem da Folha mostrou no ano passado que os judeus iranianos têm liberdade para praticar sua fé e vivem em melhores condições que nos países árabes. Mas enfrentam algumas restrições, como veto a empregos públicos ou acadêmicos.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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