quinta-feira, 18 de julho de 2013

A ocupação e a crise de representatividade

Em política, a ordem dos fatores pode alterar o produto.
A Câmara de Vereadores de Porto Alegre esteve ocupada durante uma semana por uma única razão: os erros sucessivos da maioria dos edis.
Como andei pelo mundo um bom tempo, passei anos estudando sociologia como doutorando e pós-doutorando na Sorbonne e como ouvinte na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e no Colégio da França. Em Paris, tive alguns mestres fantásticos. Aprendi com Edgar Morin, Jean Baudrillard, Michel Maffesoli, Pierre Bourdieu, André Akoun, Alain Touraine e mais uma penca de feras, entre os quais filósofos políticos como Jacques Derrida e Cornelius Castoriadis.
Jean Baudrillard, que não lecionava mais em lugar algum, ensinou-me muitas coisas em bares de Montparnasse, onde ele bebia vinho e eu, abstêmio na época, enchia a cara de Perrier.
Um dia, Baudrillard me disse: o fim do social institucionalizado começa quando os representantes, embora eleitos, não convencem mais a maioria de que a sua representatividade é legítima.
Um representante é eleito por uma parte da sociedade. A democracia consiste em o restante, que não votou nesse representante, reconhecê-lo como tal e legitimá-lo na sua função. Quando os representantes não conseguem mais convencer a maioria de que agem pelo interesse de todos, embora sejam integrantes de partes, os partidos, abrem o flanco para a contestação de fato.
Baudrillard, que era um mestre da ironia e dos paradoxos, ensinou-me outra coisa: quando a indecência política é grande demais, pornográfica, a nudez do eleitor não é obscena, mas reveladora.
O rei está nu. Os vereadores estão nus. Os verdadeiros pelados da ocupação da Câmara de Vereadores foram os que não tiraram a roupa, mas se desnudaram na defesa dos interesses das empresas de ônibus e na incapacidade de ouvir e de entender o que a população está pedindo.
Alguns vereadores esganiçaram-se pedindo respeito aos formalismos. Mais uma vez, ficaram nus. Não entenderam que, quando há crise de representatividade e de legitimidade, a forma se esgota.
A crise é de conteúdo.
Na Câmara de Deputados, o mesmo poderá vir a acontecer.
Depois de uma ameaça de reforma política, tudo começa a estagnar.
Quem se sente realmente representado pelos deputados que fingem ouvir as ruas, anunciam medidas e, em seguida, começam a recuar fazendo a velha política nacional do caranguejo?
Os ocupantes da Câmara de Vereadores de Porto Alegre ganharam de goleada dos eleitos.
Foram, antes de tudo, mais equilibrados do que eles.
Como estamos numa democracia, a dissonância é legítima.
A direita estava acostumada a ganhar no grito e a ocupar todo o espaço da mídia amiga.
As redes sociais e os novos tempos acabaram com esses privilégios.
Os ocupantes agora também têm direito a falar.
Que belos tempos!


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