Após se aposentar de seu emprego como guarda de segurança em 2011, os dias de Wahid Ali se tornaram uma luta contra o tédio. Falando um inglês apenas limitado e com poucos amigos, ele tinha pouco o que fazer e passou a permanecer grande parte do tempo em casa, um pequeno quarto alugado em um apartamento ilegal em um porão em Coney Island.
Mas a luta mais difícil foi financeira. Ali, 78 anos, contava com parcas economias e sua esposa não trabalhou desde que emigraram do Paquistão para os Estados Unidos em 2006. Assim, o casal depende de seu cheque mensal do Seguro Social de menos de US$ 600.
"Foi extremamente difícil", ele disse, especialmente para colocar comida suficiente na mesa.
Como acontece no restante do país, os moradores da cidade estão ficando mais velhos. Mas um novo estudo, divulgado na quinta-feira, revela que os imigrantes são a força motriz por trás dessa tendência, apresentando desafios enormes para as agências de governo locais e organizações de serviços sociais.
De 2000 a 2010, o número de imigrantes na cidade com 65 anos ou mais aumentou cerca de 30%, enquanto a população nativa correspondente caiu 9%, segundo o estudo do Centro para um Futuro Urbano, uma organização de pesquisa independente em Nova York.
Os nascidos no exterior atualmente representam 46% da população da cidade com 65 anos ou mais, uma proporção bem maior do que o percentual deles entre a população geral da cidade (37%).
"Eu acho que é a maior tendência demográfica da qual ninguém está falando", disse Jonathan Bowles, o diretor executivo do centro.
Além de ser um dos grupos demográficos que mais cresce, os imigrantes mais velhos também estão entre os mais vulneráveis. "Muitos nesse grupo não apenas estressarão a rede de segurança social, como também não serão protegidos por ela", disse o estudo.
Em média, os imigrantes mais velhos possuem rendas bem mais baixas e economias de aposentadoria bem menores do que os moradores que nasceram no país, além de receberem bem menos benefícios de programas como o Medicare (o seguro-saúde público para idosos e inválidos) e o Seguro Social. Quase 24% de todos os imigrantes mais velhos na cidade vivem na pobreza, em comparação a 15% de seus pares nascidos no país, disse o estudo.
Além disso, barreiras de linguagem conspiram com a falta de educação e barreiras culturais para impedir muitos imigrantes mais velhos de descobrir e buscar a ajuda de agências do governo e grupos de defesa comunitários.
No ano passado, Ali encontrou alguma ajuda para suas dificuldades na Organização Conselho dos Povos, um grupo comunitário voltados para muçulmanos do Sul da Ásia, que abriu um centro para idosos em sua sede em Coney Island. Ele agora passa seus dias lá, fazendo refeições gratuitas, amizades e assistindo programas de televisão paquistaneses por satélite, ele disse por meio de um tradutor. O centro também ajudou ele e sua esposa a pedirem assistência adicional ao governo e a obter ajuda médica.
O diretor executivo da organização, Mohammad Razvi, disse que o centro abriu no ano passado, depois que clientes começaram a perguntar se podiam ficar com parte dos alimentos enlatados doados para ajuda a desastre no Paquistão. Tamanho desespero e o grau de pobreza dentro de sua própria comunidade pegaram Razvi desprevenido.
"Eu fiquei chocado", ele disse.
O centro para idosos, ele disse, foi o primeiro da cidade voltado especificamente para muçulmanos. A organização agora está ampliando o prédio para acomodar a demanda por serviços para idosos.
Com suas extensas redes de transporte público, concentração de centros de atendimento de saúde, diversos enclaves de imigrantes e proliferação de grupos de serviços para imigrantes, NovaYork pode ser um dos melhores lugares para os imigrantes envelhecerem.
Mas em entrevistas, os defensores dos imigrantes idosos dizem que as necessidades da população em envelhecimento estão longe de serem atendidas e que mais financiamento, tanto de fontes públicas quanto privadas, é necessário para atender a demanda atual e especialmente a futura.
Essa é uma preocupação destacada no relatório do Centro para um Futuro Urbano, que notou que os recursos do governo para moradias e serviços para idosos caíram significativamente nos últimos anos, incluindo uma queda de 20% no financiamento municipal para serviços para idosos desde 2009.
Atualmente há pelo menos 463 mil imigrantes com 65 anos ou mais vivendo em Nova York, a maior população de imigrantes entre qualquer cidade nos Estados Unidos, segundo o relatório, que se baseou em parte em dados do censo.
O crescimento é em grande parte atribuído ao envelhecimento das pessoas que chegaram aos Estados Unidos nos anos 80 e 90, décadas que viram um aumento acentuado na imigração, disse Bowles.
Entre os vários desafios agora enfrentados por esses imigrantes, a pobreza pode ser o maior; cerca de dois entre três idosos em Nova York que vivem abaixo da linha de pobreza são imigrantes, disse o estudo.
Vários fatores colocam os imigrantes mais velhos sob maior risco de pobreza do que as pessoas mais velhas nascidas no país. Os imigrantes tendem a ganhar significativamente menos ao longo de sua vida de trabalho do que a população nativa, portanto recebendo menos benefícios do Seguro Social, além de muitos não se qualificarem para o programa ou não terem se inscrito, disse o estudo. Em consequência, 31% dos imigrantes mais velhos não recebem benefícios do Seguro Social, em comparação a 18% entre a população mais velha de nascidos no país, segundo o estudo.
Kit Fong Lee, que é voluntária em um centro para idosos na baixa Manhattan administrado pela Hamilton-Madison House, disse que os clientes do centro, a maioria imigrantes chineses, recebem benefícios do Seguro Social em torno de US$ 600 por mês em média, aproximadamente metade da média nacional. Alguns clientes se viram catando latinhas de refrigerante na rua, ela disse, ou dependendo de parentes.
"A vida não é fácil", disse Lee, 74 anos, uma especialista em tecnologia da informação da IBM aposentada.
A barreira mais significativa que impede os imigrantes mais velhos de recorrerem aos serviços sociais da cidade é sua incapacidade de se comunicarem com os provedores de serviços em uma língua que conheçam, afirmou o estudo: cerca de 60% dos imigrantes mais velhos contam com proficiência limitada em inglês e mais de um terço vive em lares onde ninguém com mais de 14 anos consegue falar inglês muito bem.
"Quando vou para Manhattan, às vezes eu me perco", disse Soon Kim, 88 anos, por meio de um intérprete. "Quando adoeço, não consigo descrever o que estou sentindo." Por 26 anos, Kim frequenta regularmente o centro para idosos no Queens, dirigido pelos Serviços Comunitários Coreanos da Nova York Metropolitana.
A barreira de linguagem pode levar ao isolamento social, dizem os defensores, o que acaba levando a doenças mentais e suicídio. O problema é agravado em muitas comunidades de imigrantes por se falar pouco sobre problemas de saúde mental.
"Mesmo se for reconhecido, eles não estarão prontos para tratamento por causa do estigma associado a ele", disse Sudha Acharya, diretor executivo do Conselho Sul-Asiático para Serviços Sociais, em Queens. "Eles não pensarão que é algo sério."
Reportagem de Kirk Semple, para o The New York Times, reproduzido no UOL. Tradutor: George El Khouri Andolfato
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