Os jornais de ontem trouxeram em manchete a revelação de que os
Estados Uni- dos mantinham bases de investigação, via satélite, em
vários países, inclusive no Brasil, cujo governo, na época exercido por
militares, dera licença para que tais bases fossem instaladas.
Notícia velha, por sinal. Antes do advento da internet, os órgãos
secretos da CIA já conseguiam gravar conversas no próprio Salão Oval da
Casa Branca, cuja consequência final foi a renúncia do presidente
Richard Nixon.
E tem mais: no dia 29 de março de 1964, quase véspera do golpe militar
que derrubou o presidente João Goulart e deu início à ditadura, o
serviço secreto norte-americano conseguiu gravar e mandar para
Washington as conversas mantidas por JK e o general Jair Dantas Ribeiro,
ministro da Guerra de Jango, que se internara numa suíte do HSE
(Hospital dos Servidores do Estado, no Rio), com uma crise renal que o
afastara de Brasília.
JK estava preocupado com as notícias recebidas, de que tropas federais
de Minas atacariam a Guanabara para prender o presidente e instaurar a
ditadura. Alegando uma visita de cortesia, foi recebido pelo general,
que continuava despachando com sua equipe numa suíte ao lado. Na época,
JK era apenas o candidato do PSD para a sucessão de 1965, não tinha
qualquer poder, mas era rastreado dia e noite pelos serviços secretos
norte-americanos.
Há, na Biblioteca do Congresso (em Washington), o original da mensagem
resumindo a conversa entre os dois, que estavam sozinhos na suíte do
hospital. Uma simples visita de cortesia entre dois personagens à margem
dos acontecimentos daquele ano foi gravada pela CIA.
Publiquei, no livro "Memorial do Exílio" (Edições Bloch, 1983), a cópia
da mensagem em papel timbrado e assinado por agentes do governo dos
Estados Unidos.
Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo.
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