terça-feira, 9 de julho de 2013

Espiões que saíram do frio

Os jornais de ontem trouxeram em manchete a revelação de que os Estados Uni- dos mantinham bases de investigação, via satélite, em vários países, inclusive no Brasil, cujo governo, na época exercido por militares, dera licença para que tais bases fossem instaladas.
Notícia velha, por sinal. Antes do advento da internet, os órgãos secretos da CIA já conseguiam gravar conversas no próprio Salão Oval da Casa Branca, cuja consequência final foi a renúncia do presidente Richard Nixon.
E tem mais: no dia 29 de março de 1964, quase véspera do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e deu início à ditadura, o serviço secreto norte-americano conseguiu gravar e mandar para Washington as conversas mantidas por JK e o general Jair Dantas Ribeiro, ministro da Guerra de Jango, que se internara numa suíte do HSE (Hospital dos Servidores do Estado, no Rio), com uma crise renal que o afastara de Brasília.
JK estava preocupado com as notícias recebidas, de que tropas federais de Minas atacariam a Guanabara para prender o presidente e instaurar a ditadura. Alegando uma visita de cortesia, foi recebido pelo general, que continuava despachando com sua equipe numa suíte ao lado. Na época, JK era apenas o candidato do PSD para a sucessão de 1965, não tinha qualquer poder, mas era rastreado dia e noite pelos serviços secretos norte-americanos.
Há, na Biblioteca do Congresso (em Washington), o original da mensagem resumindo a conversa entre os dois, que estavam sozinhos na suíte do hospital. Uma simples visita de cortesia entre dois personagens à margem dos acontecimentos daquele ano foi gravada pela CIA.
Publiquei, no livro "Memorial do Exílio" (Edições Bloch, 1983), a cópia da mensagem em papel timbrado e assinado por agentes do governo dos Estados Unidos.



Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo

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