Neste mês de maio, devemos comemorar o centenário de nascimento de Mário Martins, um dos jornalistas e políticos mais importantes do seu tempo. Atuando sempre na oposição às duas ditaduras, a do Estado Novo e a do regime militar, foi preso várias vezes, resistiu fisicamente à invasão do prédio da UNE, chegando a ser ferido.
Vereador pela Guanabara, deputado federal e senador, foi acima de tudo o jornalista de texto limpo que se marcou pela luta contra a corrupção e o totalitarismo.
Cassado pelo AI-5, preso novamente, nunca deixou de lutar pelo seu ideal democrático, tornando-se um padrão de ética que os próprios adversários respeitavam. Fundou um jornal ("Resistência") e colaborou ativamente, durante os anos de chumbo, com artigos que desnudavam os donos do poder.
Apesar de amigo de Carlos Lacerda, rompeu com ele e, mais tarde, com a UDN, preservando uma coerência política e moral que marcou sua trajetória tanto no jornalismo como na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Quando, em 1964, fui processado pelo ministro da Guerra, general Costa e Silva, pela Lei de Segurança Nacional, fui obrigado a depor na 12ª Vara Criminal. Os jornais publicaram uma foto em que o juiz me obrigou a ficar em pé o tempo todo, como se condenado já fosse; não tive direito sequer a sentar no chamado "banco do réu".
O único jornalista que se manifestou publicamente a meu favor, em crônica no "Jornal do Brasil", foi Mário Martins. Seu artigo foi incluído no seu livro "Em Nos- sos Dias de Intolerância", que registra os atos e fatos daquele período de forma impecável, livro indispensável a quem procurar sa- ber como o golpe de 64 foi desfechado e oprimiu, por mais de 20 anos, o povo brasileiro.
Texto de Carlos Heitor Cony, para a Folha de São Paulo.
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