sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cidade do México muda sua estratégia na luta contra os traficantes de drogas


A cabeça de Joaquín Guzmán Loera, conhecido como "El Chapo" ("o tampinha")  foi colocada a prêmio - US$ 5 milhões (R$ 10 milhões) - pelo governo americano. Uma soma justificada pela crescente influência do narcotraficante mexicano sobre o maior mercado mundial de drogas, os Estados Unidos. Mas esse prêmio pelo elusivo chefe do cartel de Sinaloa – que em 2001 fugiu de uma prisão de segurança máxima – ilustra também o fracasso da luta regional contra o narcotráfico.
Em fevereiro, o "Chapo Guzmán" foi apontado como "inimigo público número um" pela Comissão do Crime de Chicago (Illinois). Desde Al Capone em 1930, nunca mais ninguém havia recebido esse título. A cidade americana seria o centro de distribuição das drogas nos Estados Unidos pelo cartel de Sinaola, o mais poderoso do México.
"Desde a morte de Bin Laden, o 'Chapo' passou a ser o criminoso mais procurado do mundo", observa Iliana Rodriguez, especialista em narcotráfico no Instituto Tecnológico de Monterrey. "No entanto, toda vez que as autoridades americanas ou mexicanas o encontram, ele some alguns minutos antes de ser preso graças à sua rede de informantes dentro de ambos os governos".
A "guerra contra o narcotráfico", lançada pelo ex-presidente mexicano Felipe Calderón (2006-2012, direita), que mobilizou 50 mil militares, mergulhou o país num banho de sangue. O confronto dos cartéis entre si e contra o governo fez mais de 70 mil mortos e 26 mil desaparecidos em seis anos.  
Para Edgardo Buscaglia, especialista em crime organizado na Universidade de Columbia, "a emenda saiu pior que o soneto". Ele explica: "Centrada na prisão dos chefes dos cartéis, a ofensiva do governo fragmentou as estruturas tradicionais das grandes máfias, levando ao surgimento de grupos criminosos regionais, que se tornaram incontroláveis. A corrupção das autoridades também disparou, com um fenômeno de contágio para os Estados Unidos". Do outro lado da fronteira, os cartéis teriam se estabelecido em 2.500 cidades americanas, segundo o Centro de Estudos contra as Drogas.    

"Não se combate violência com mais violência"    

Para retomar o controle, o presidente Enrique Peña Nieto propõe uma mudança estratégica. Segundo ele, "a violência não se combate com mais violência". Desde que ele assumiu o cargo no dia 1° de dezembro de 2012, o chefe do Estado prometeu uma queda nos homicídios. No início de janeiro, seu governo extinguiu o Ministério da Segurança Pública. O combate ao narcotráfico passou para as mãos do Ministério do Interior, que se tornou o único interlocutor das agências americanas. "Essa retomada de controle político, que restringe o acesso total dos americanos às unidades mexicanas de inteligência em vigor sob mandato de Calderón, cria tensões entre os dois governos", comenta Buscaglia.
Peña Nieto anuncia a futura retirada dos militares dando lugar a uma polícia nacional de 10 mil homens e de uma polícia única para cada Estado. Sua estratégia também se concentra em uma nova agência anticorrupção e em uma reforma da Justiça, nesse país onde 99% dos crimes permanecem impunes.  
Mas sua prioridade continua sendo a prevenção, baseada no combate à pobreza e na melhora do sistema de ensino. "A ideia é também contrapor a 'heroicização dos barões do tráfico, como o Chapo Guzmán", conta uma fonte próxima do governo. A polícia e o Exército foram convidados a apresentar à imprensa seus detentos sem armas pesadas nem uma encenação de guerra.
No dia 10 de abril, o governo anunciou uma queda de 17% no número de homicídios (4.249) desde a posse de Peña Nieto. "Ainda é muito cedo para ter uma atitude triunfalista", relativizou o ministro do Interior, Miguel Ángel Osorio Chong.    

Uma ajuda logística de US$ 1,9 bilhões dos EUA  

Uma semana mais tarde, nos Estados Unidos, ele oficializou juntamente com a secretária de Estado americana encarregada da segurança, Janet Napolitano, a nova etapa da Iniciativa Mérida. Esse plano de ajuda logística de US$ 1,9 bilhão foi aprovado em 2008 pelo Congresso americano para apoiar a luta do México contra os cartéis. "60% dessa soma foi alocada a equipamentos e treinamentos das forças de ordem", observa Iliana Rodríguez. "O novo governo quer que os 40% restantes sejam investidos na prevenção dos crimes".
O cartel de Sinaloa e seu principal concorrente, a gangue dos Zetas, se aliaram aos bandos centroamericanos, os "maras". No dia 20 de fevereiro, durante a cúpula do Sistema de Integração Centroamericana (SICA) na Costa Rica, os dirigentes do país da América Central anunciaram a criação de uma frente conjunta contra o crime organizado.
O cerco está apertando contra o "Chapo" Guzmán: na terça-feira (30), seu sogro, Inés Coronel Barreras, foi capturado no Estado de Sonora (noroeste), após uma série de prisões de outros colaboradores próximos nos Estados Unidos, no México e na América Central. Mas o chefe continua em fuga. Não há certeza de que a nova estratégia regional, ainda por ser definida, dará um fim à expansão criminosa do maior narcotraficante do continente.

Reportagem de Frédéric Saliba, para o Le Monde, reproduzida no UOL.
Tradutor:
 Lana Lim

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