Na manhã de 18 de outubro de 1994, Evandro de Oliveira, 22, o Japeri, foi arrancado de sua casa, no Complexo do Alemão, por policiais. Horas depois, corpos de 13 jovens estavam enfileirados em uma viela, no que ficou conhecido como a chacina de Nova Brasília. Japeri estava entre eles.
As mortes foram o resultado de uma ação policial numa semana daquelas que nós, moradores da cidade, esperamos nunca mais testemunhar.
Quatro dias antes, policiais haviam matado quatro supostos tra-ficantes da favela; no dia seguin- te, a delegacia do bairro foi metralhada. Naquele fim de semana, as praias tiveram reforço de poli- ciamento, já que se temia o ata- que de criminosos.
Na primeira versão sobre o que aconteceu na favela, os jovens tinham trocado tiros com os agentes da lei. Laudos periciais, no entanto, mostraram que ao menos dez das vítimas receberam tiros na cabeça. Japeri morreu com dois tiros, que atingiram seus olhos. Testemunhas disseram ter ouvido de um policial, momentos antes dos disparos, que não queria "garanhão de olhos verdes" na área.
Mesmo com todos esses indícios, as investigações da chacina de Nova Brasília foram arquivadas. Ninguém foi punido. Ao menos por enquanto.
No dia 19 de julho, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) vai se reunir para analisar o caso.
Se concluir que houve demora injustificada nas investigações e desrespeito aos direitos das vítimas, a história de Japeri e dos outros 12 moradores da favela Nova Brasília será encaminhada à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Pela primeira vez, o Brasil poderá responder na OEA por violência policial. E, quem sabe, quase 20 anos depois, os autores da barbárie sejam responsabilizados por ela.
Texto de Cristina Grillo, publicado na Folha de São Paulo.
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