É perturbadora a tolerância da esquerda norte-americana para com Barack Obama no caso do fechamento de Guantánamo.
Na campanha de 2008, ele prometera acabar o quanto antes com a prisão militar, que simboliza a negação do Estado de Direito por parte do país que mais contribuiu para criar este conceito. Quatro anos depois, o campo permanece em pleno funcionamento e Obama continua falando em desativá-lo como se fosse candidato da oposição, não o comandante-chefe das Forças Armadas.
Pior, Washington acaba de despachar para lá mais médicos para alimentar à força os prisioneiros que fazem greve de fome. O procedimento de introduzir nutrição contra a vontade da pessoa é tido como violação ética pela Associação Médica Mundial, mas gerou apenas um tímido protesto da Associação Médica Americana.
A situação dos prisioneiros é insustentável. Eles são mantidos encarcerados --alguns há 11 anos-- sem nenhuma acusação formal. Numa democracia, ninguém pode ser privado de sua liberdade apenas por ser considerado perigoso. Ou o Estado prova que essa pessoa cometeu um crime ou o sujeito é inocente.
A argumentação jurídica que sustenta tal aberração é de um cinismo que faria Stálin corar: uma vez que os detidos são estrangeiros e não estão em território norte-americano --Guantánamo fica em Cuba--, eles não têm direito às proteções da Constituição dos EUA. Se prisioneiros capturados por militares norte-americanos, sob custódia de forças dos EUA, numa base que ostenta a bandeira do país não estão sob jurisdição americana, cabe indagar qual entidade metafísica os mantém atrás das grades.
É verdade que foi Bush e não Obama quem criou essa situação, mas que ela tenha sido tolerada por um presidente supostamente liberal e que ainda por cima foi professor de direito constitucional da prestigiada Universidade de Chicago depõe contra a esquerda e a academia dos EUA.
Texto de Hélio Schwartsman para a Folha de São Paulo. Destaque do blogueiro.
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