China cria lei que obriga contato entre filhos e pais idosos para evitar abandono
MARCELO NINIODE PEQUIM
Os filhos desnaturados que se cuidem. Uma lei que entrou em vigor ontem na China exige que os cidadãos do país visitem seus pais idosos regularmente, ou ao menos mantenham contato com eles, sob risco de processo.
A medida foi recebida com ceticismo e até deboche por muita gente, que rejeita a intromissão do Estado em assuntos de família e duvida que a lei possa ser aplicada.
Para outros, essa emenda à lei de proteção aos idosos serve de alerta para os desvios que a urbanização acelerada impôs à tradição chinesa de unidade familiar.
Somam-se a isso a política de filho único e o rápido envelhecimento da população e o resultado é um número cada vez maior de idosos abandonados.
Ninguém parece saber muito bem como a nova lei irá melhorar a situação, já que ela não especifica a regularidade com que os pais devem ser visitados nem a punição que será aplicada aos que a ignorarem.
Especialistas criticam o conteúdo vago da lei, observando que ela errou o alvo, já que a responsabilidade de assistência social deve ser dividida com o Estado. Segundo números oficiais, 45% dos chineses não têm plano de aposentadoria.
"O foco deveria ser assegurar aposentadorias e benefícios sociais adequados aos idosos, algo mais fácil de implementar", disse ao jornal estatal "Global Times" o sociólogo Yu Shaoxiang.
Casos recentes de abandono e maus-tratos a idosos causaram choque. Um dos mais comentados foi o de um agricultor da província de Jiangsu (leste), que manteve a mãe de 100 anos morando num chiqueiro.
Ainda assim, para muitos parece absurdo usar a lei em nome da unidade familiar.
"Cuidar dos pais é uma obrigação moral. Se isso vira uma lei, é sinal de que a situação é grave", lamenta Bai Yu, 32, que trabalha numa firma de relações públicas em Pequim.
Natural de Helongjiang, província no extremo norte do país que fica a mais de 1.000 km da capital, ela diz que simplesmente não tem tempo nem dinheiro para visitar os pais regularmente. "Eles entendem isso", diz.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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