Jurista liga Alckmin à ditadura e diz que seu discurso promove a violência
Para Wálter Maierovitch, Polícia Militar é voltada ao uso da força contra a população e não está preparada para o Estado democrático
Em entrevista ao Jornal do Terra, o jurista Wálter Maierovitch criticou duramente nesta sexta-feira a ação da Polícia Militar de São Paulo na repressão ao movimento de protesto contra o aumento nas tarifas do transporte público na capital paulista. Segundo o especialista, a PM não está preparada para a democracia e é insuflada por um discurso "belicoso" do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que se assemelha a práticas da ditadura militar e incentiva a violência contra a população.
"Um governador que chama e dá um sinal verde para empregar uma Tropa de Choque numa manifestação. É a doutrina da lei e da ordem, do rigor. E esse rigor que fatura politicamente em cima da violência", afirmou Maierovitch, que chamou Alckmin de "Erasmo Dias de sacristia", comparando-o ao militar que comandou a ocupação do campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1977. "Se a gente fizer uma leitura dos discursos do Alckmin, ele é, nos tempos atuais, nada mais nada menos que um Erasmo Dias. Um Erasmo Dias de sacristia, porque tem todo um discurso camuflado."
Segundo Maierovitch, as cenas de violência policial vistas na noite de quinta-feira na região central de São Paulo são reflexo de uma política equivocada de segurança pública, que prioriza a repressão em detrimento da investigação e prevenção. Para o jurista, a extinção da Guarda Civil e o investimento na Polícia Militar acabou por criar uma mentalidade de violência repressora, potencializada pelo discurso do governador. "Ele tem uma política militarizada de segurança pública. E segurança pública não significa só caçar bandidos. Significa dar tranquilidade social", criticou.
O jurista afirmou ainda que a PM mantém os mesmos procedimentos da ditadura militar e não está apta a conviver com o Estado democrático. "Eu acho que a gente tem que começar com uma radiografia onde se vê claramente que é uma polícia que já tem a 'militar' do lado do seu nome e não é preparada, não é educada para a legalidade democrática. Se nós temos esse tipo de polícia, que não é educada, não conseguimos romper aquela cultura da violência", analisou.
Segundo o especialista, essa mesma mentalidade permeou o Massacre do Carandiru e a recente repressão a manifestantes na ação de reintegração de posse na região conhecida como Pinheirinho. "Vem da ditadura, passa pelo massacre e continua. Continua pelo Pinheirinho, pela Tropa de Choque entrando no campus da USP por conta de um probleminha causado por um cigarrinho de maconha. (...) Que cultura é essa? É exatamente a mesma da ditadura militar", citou Maierovitch.
Segundo o especialista, o Brasil precisa se espelhar em outras sociedades para entender a importância das manifestações populares. "Eu vejo sempre com bons olhos, até pela experiência internacional, essas manifestações pacíficas em praças, onde tem a bandeira da cidadania e a participação popular. (...) No Japão, (os manifestantes) são cercados. São dados os caminhos. É uma polícia que está ali não para impedir a manifestação, mas para orientá-la."
O jurista afirma que a violência policial apenas faz crescer o apoio a minorias que estimulam atos de vandalismo e depredação dentro do movimento. E o que se faz em São Paulo? É uma polícia que entra para bater. Não é uma polícia que mantenha uma possibilidade de manifestação. (Existe) apenas para afrontar e criar essa guerra, que atende apenas àqueles que têm objetivos desvirtuados e que estão dentro deste movimento", disse Maierovitch.
Trecho de notícia no Terra.
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