quinta-feira, 20 de junho de 2013

Hipóteses sobre as manifestações


O pensamento radical – aquele que busca chegar à raiz das coisas – precisa andar na contramão e ousar algumas hipóteses e perguntas incômodas.
1) A ideia de que algo inexplicável está acontecendo e que “ninguém está entendendo nada” é tipicamente midiática. Uma “novidade” espetacular no espaço hiperespetacular da necessidade diária de algo extraordinário.
2) As manifestações são muito compreensíveis, inserem-se no contexto do imaginário internacional atual das redes sociais e da internet e foram inspiradas nos indignados europeus, turcos e americanos.
3) Os protestos, que incluem manifestantes sem partido e adesões, espontâneas, são organizados, fomentados e articulados, principalmente, pelo PSOL. No desgaste atual dos partidos, é estratégico negar isso e sustentar que não há líderes nem organizações indutoras ou organizadoras.
4) Sustentar que o PSOL é o principal fomentador não significa negar a sua legitimidade, mas identificar um protagonista que procura se dissimular.
5)  Parte da grande mídia, com seus formadores de opinião conservadores, é outro fomentador dos protestos que agora a engolfam. Durante uma década, tem dito que está tudo errado no país. A mensagem chegou ao destino.
6) E se extrema-esquerda e extrema-direita estiverem, por razões obviamente opostas, unidas nessas manifestações contra a “roubalheira geral”, contra a política do “todos no mesmo saco” e da falência completa do sistema?
7) E o se o PSOL e seus jovens justamente indignados forem usados pela direita que só deseja tirar Dilma, Lula e o PT do poder para liquidar o bolsa-família, as cotas e outras políticas ditas assistencialistas?
8) E se, como em 1964, há quase 50 anos, a explosão social for canalizada para Marchas da Família com Deus pela Liberdade em nome do conservadorismo?
9) O PT, com sua política cínica de governabilidade, é o grande fomentador involuntário dos protestos, pois, ao ir para a cama com o inimigo, parir,  acobertar seus mensaleiros e abandonar o seu discurso pretensamente ético, abriu caminho para a insatisfação geral e para um substituto apto a retomar os melhores slogans, ao menos, enquanto não estiver no poder, o PSOL.
10) A desigualdade social num país de colossal desigualdade social é o grande fomentador direto dos protestos. O discurso neoliberal desandou. A promessa, jamais cumprida, de igualdade de oportunidades não engana mais. Contemplar as imagens da miséria esperando que, um dia, tudo se arranjará por força da “mão invisível” do mercado não convence nem os tolos, ainda mais que os empresários falidos pedem ajuda à mão visível do Estado.
11) Os políticos e seus partidos cínicos, infames, filisteus, claro, lideram o ranking dos fomentadores indiretos da indignação geral. Só eles não entenderam ainda que a opinião pública está de volta para cobrar a conta. Mas será ela capaz de puni-los não os reelegendo em 2014?
12) Empresários corruptores e agentes públicos corrompidos, de braços dados nas articulações consagradas do tipo “eu financio a tua campanha e tu me descolas uma obra pública”, atraem o ódio dos sacaneados cotidianos.
13) A farra da copa do mundo e o aumento das passagens de ônibus serviram de bons estopins para a explosão da indignação contida por muito tempo. Até que ponto isso poderá sustentar uma revolta de longo prazo?
14) Os lacerdinhas da mídia, com a revista Veja à frente, ajudaram, voluntária ou involuntariamente, a criar grande parte da indignação de direita e de esquerda. Poderão capitalizar a explosão de indignação, com vêm tentando fazer, ou serão esmagados pela fúria libertária das manifestações?
Uma única coisa não é hipótese: as manifestações juntam jovens anarquistas ou esquerdistas. A direita, que não sai de casa, quer parasitar os protestos, embora se sinta obrigada a condenar o vandalismo e o trânsito trancado.



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