quinta-feira, 13 de junho de 2013

Casa Branca tenta minimizar o caso Snowden


Será que Edward Snowden ainda tem revelações a fazer? As autoridades americanas deram início àquilo que a imprensa descreve como uma "caçada" para tentar encontrar o autor dos vazamentos mais graves da história da Agência de Segurança Nacional (NSA).
Vinte e quatro horas depois de ter reivindicado seu gesto em uma entrevista ao "The Guardian", o jovem deixou seu hotel em Hong Kong e não apareceu mais publicamente. O jornalista Glenn Greenwald, que o acompanhou em Hong Kong, afirmou à CNN que sabia onde ele se encontrava. E disse, "ainda temos grandes revelações a fazer".
O Ministério da Justiça americano abriu uma investigação preliminar. Policiais foram até a casa da mãe do "whistleblower" [denunciante], uma funcionária do tribunal de Baltimore no Estado de Maryland, perto da sede da NSA, e de seu pai, um ex-guarda costeiro, na Pensilvânia.

Discrição essencial

No Havaí, onde Ed Snowden trabalhava para a consultoria Booz Allen Hamilton e foi enviado para a NSA como administrador de sistemas encarregado de detectar as ameaças contra os computadores do governo, a polícia só encontrou uma casa para alugar. Sua companheira também havia partido. Os investigadores a localizaram na Costa Oeste e a interrogaram por duas vezes.
A Casa Branca mal se manifestou, alegando que no Ministério da Justiça já há uma "investigação em andamento". O presidente Obama, que havia feito uma declaração, no dia 5 de junho, para enfatizar a legalidade das atividades dos serviços de inteligência, dessa vez se esquivou das perguntas. Manter discrição é essencial, como se a presidência não quisesse entrar em uma polêmica que só daria status ao autor dos vazamentos.

Autorização

O governo americano está tentando entender como um funcionário como Edward Snowden, morando no Havaí, pode ter obtido documentos provenientes de uma instância tão fechada quanto o tribunal FISA – que decide sobre questões de inteligência externa. Segundo o "Washington Post", somente 30 a 40 pessoas têm acesso aos processos do tribunal FISA.
Edward Snowden tinha autorização para informações ultrasigilosas, depois de ter trabalhado por dez anos no setor de inteligência e em segurança informática. Os investigadores estão tentando estabelecer se, antes de deixar os Estados Unidos no dia 20 de maio, ele não copiou outros documentos que poderiam interessar a um governo estrangeiro, como o da China.
Ao mesmo tempo, eles duvidam da veracidade de algumas de suas declarações. O jovem analista alegou ter acesso ao registro de todos os funcionários da NSA e à lista dos equipamentos clandestinos e de todas as estações da CIA no mundo. Outra declaração que não os convence é o fato de ele conseguir monitorar quem ele quiser, desde "um juiz federal até o presidente".

Exigências de processo exemplar

Grande parte das autoridades políticas exigiu que ele fosse processado exemplarmente e extraditado o mais rápido possível. "Os verdadeiros 'whistleblowers' não deixam o país", afirmou Ari Fleischer, ex-porta-voz do presidente George Bush. A senadora democrata Dianne Feinstein condenou um "ato de traição". Nesse sentido, é lembrado que a classificação de "whistleblower" comporta uma definição muito precisa. O funcionário deve ter revelado uma infração. Só que no caso da NSA, os dois programas que o jovem revelou foram aprovados – e reaprovados – pelo Congresso.
Diferentemente da discrição da Casa Branca, ex-oficiais da segurança nacional – tanto democratas quanto republicanos – apareceram na TV para defender a legalidade do programa e explicar que somente os estrangeiros podem ser submetidos a escutas eletrônicas sem mandado judicial. Jeremy Bash, o ex-chefe de gabinete de Leon Panetta, então diretor da CIA, explicou que ele era o autor da emenda 702, que autoriza o FBI a espionar as comunicações no Facebook, no Google etc. "Nenhum americano é visado por esse programa", ele afirmou. "Os esforços para fazer de Snowden um herói cairão por terra".
O próprio diretor nacional da inteligência, James Clapper, que supervisiona as 17 agências americanas de inteligência, discursou para tranquilizar os cidadãos americanos sobre a constitucionalidade do monitoramento em massa. Mas sua credibilidade – e a da administração de Obama, de acordo com o "New York Times" – foi afetada desde que os canais de TV passaram continuamente sua conversa do dia 14 de setembro com o senador democrata Ron Wyden. "A NSA coleta informações sobre milhões ou centenas de milhões de americanos?", perguntou o parlamentar. James Clapper não ergueu os olhos. "Não senhor", ele garantiu.

Reportagem de Corine Lesles, para o Le Monde, reproduzido no UOL.

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