quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fortaleza, mas nem tanto


JAMAIS HAVIA ido a uma praça esportiva em minha vida sob tanta tensão.
Dizer que não estava com medo dentro do ônibus disponibilizado pela Fifa para levar os jornalistas seria provocação e de provocadores estamos cheios.
Mas pensei em alguns caros amigos que cobriram guerras pelo mundo afora como José Hamilton Ribeiro, o Zé Palmito, que perdeu uma perna no Vietnã, e em seu genro, Sérgio Dávila, além de Fernando Valeika de Barros, filho do inesquecível cavalheiro e editor de moda, Fernando de Barros, sem esquecer de Leão Serva e do xará Varella.
Deve mesmo ser uma experiência e tanto.
Porque ver rostos raivosos, sofridos, aos berros, e ouvir bombas e vê-las, não é coisa para quem está com o espírito de ir cobrir um simples jogo de futebol. Pobre Fifa.
Imagine o arrependimento pela escolha deste complexo Brasil. Imagine o Lula, apesar de alertado para o risco de que suas duas vitórias ao trazer Copa e Olimpíada para o país poderiam se transformar em tiros no pé. Pois é.
Curiosa e comovente a reação de quem estava dentro do Castelão, cantando o hino à capela e plenos pulmões.
Impressionante a reação do time, que saiu mordendo o México com volúpia que poderia ter resultado, no mínimo em dois, talvez três gols nos primeiros 20 minutos.
Ficou só em um, mais um, novo golaço de Neymar.
Passada a pressão inicial, os mexicanos equilibraram, assustaram e terminaram o primeiro tempo com 52% de posse de bola, situação invertida ao fim dos 90 minutos, com 51% de posse brasileira.
O segundo tempo foi mais tenso porque o México rondou a área nacional com a picardia de Giovani dos Santos e David Luiz teve de ser, atrás, o leão que Hulk é na frente.
O time de Felipão dá mais um passo, ganha corpo, bobeia ainda, seja em gestos impensados dos dois laterais, um que dá chapéu na área, outro que deixa a mão no rosto do rival, seja na dificuldade em sair jogando com mais qualidade, o que explica parte do predomínio asteca.
Verdade que o jogo dos mexicanos encaixa com o nosso e o nosso encaixa menos com o deles.
Verdade também que Neymar, inspirado, resolve os problemas não só ao fazer o gol que fez como ao dar o passe que deu para Jô ampliar nos acréscimos. Melhor ainda: os dribles que aplicou em dois adversários antes de dar o passe. Ou o chapéu que deu num zagueiro e no árbitro inglês ao mesmo tempo.
Fortaleza viveu o que temos de melhor e pior no mesmo dia. Para mim, deu.


Texto de Juca Kfouri, na Folha de São Paulo

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