sexta-feira, 21 de junho de 2013

Judeus americanos podem ajudar no conflito Israel-Palestina

Novas ideias são escassas na questão de Israel e Palestina, mas o secretário de Estado americano, John Kerry, pode ter um vislumbre de uma: se as grandes organizações judaicas americanas estão entre os principais eleitorados do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, talvez esses mesmos grupos possam exercer pressão sobre a política israelense em relação aos palestinos.

Era um tiro no escuro –essas organizações demonstraram profunda relutância em criticar Israel–, mas então veio o trunfo de Kerry, na forma de Naftali Bennett, o ministro da Economia israelense. Esse nacionalista neófito prestou um serviço público ao esclarecer o objetivo inerente na expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia: "A tentativa de estabelecer um Estado palestino em nossas terras acabou", ele disse nesta semana.

Ao falar em uma conferência de colonos, Bennett pediu a Israel que "construa, construa, construa" visando estabelecer "uma presença israelense em toda parte", pediu pela rápida anexação de mais de 60% da Cisjordânia, declarou que as terras são de Israel há três mil anos e caracterizou a busca por uma solução de dois Estados de um exercício colossal de futilidade.

Resumindo, dois Estados? Pode esquecer.

Seus comentários foram feitos após os igualmente desdenhosos feitos neste mês por Danny Danon, o vice-ministro da Defesa. Ele disse que a maioria dos israelenses "desistiu da ideia de trocar as terras pela paz" e pediu a Israel que anexasse grande parte da Cisjordânia.

Bennett e Danon foram explícitos sobre a meta implícita das ações israelenses –diferente das palavras– desde a vitória relâmpago na guerra de 1967 ter lhes dado todas as terras entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, provocando uma forte linha de nacionalismo religioso israelense. O "milagre" da anexação de Jerusalém Oriental e controle da Cisjordânia foi prova da missão de controlar todo o Eretz Israel –a "Terra de Israel" bíblica à qual Bennett se referia. (Com 41 anos, Bennett nunca viveu em um Israel que não exercesse domínio humilhante sobre os palestinos da Cisjordânia.)

Essa visão messiânica do destino do Estado judeu cresceu nos últimos 46 anos, apesar das ações de vários líderes, incluindo Netanyahu em 2009, visando uma paz de dois Estados. Se o número de colonos israelenses na Cisjordânia, fora de Jerusalém Oriental, quase dobrou nos últimos doze anos para mais de 350 mil (Bennett colocou o número em 400 mil), isso se deve ao aumento da noção de que toda a terra pertence a Israel por decreto divino e por um acordo ser cada vez mais visto como um déficit de fé. A construção expõe o que a política oficial do governo não diz: nós não temos planos de partir.

É neste sentido que a declaração de Bennett é um verdadeiro serviço público. É muito melhor ser claro sobre o significado das ações de Israel na Cisjordânia do que ter um fato consumado –a crescente presença de colonos– encoberto pela opacidade do governo a respeito de seu objetivo. Se a meta é conhecida, é possível fazer um julgamento, pelo menos pelas organizações judaicas americanas.

Kerry, em um discurso neste mês para o Comitê Judaico Americano (AJC, na sigla em inglês), expôs o que o controle das terras significa: "Restará a Israel escolher entre ser um Estado judeu ou um Estado democrático, mas não será capaz de cumprir a visão dos fundadores de ser ambos." Isso não é menos verdadeiro por ser um velho refrão. Então, após evocar um futuro ameaçador na ausência de paz, ele apresentou sua proposta: "Ninguém tem uma voz mais forte nisto do que a comunidade judaica americana. Vocês podem exercer um papel crítico em assegurar a segurança de longo prazo de Israel. E como o presidente Obama disse em Jerusalém, os líderes só darão passos ousados se a população os pressionar."

O diretor-executivo do AJC, David Harris, decidiu pressionar –com uma forte condenação a Bennett. Os comentários do ministro, ele disse, foram "espantosamente míopes", devem ser "repudiados pelos principais líderes do país" e oferecem "apenas a perspectiva de uma estratégia sem saída de um conflito sem fim, assim como o crescente isolamento de Israel". Dizer que o emprego de uma linguagem dessas é incomum pelas grandes organizações judaicas americanas é uma grande atenuação: Israel contava quase com carta branca por elas, mas com consequências negativas.

É claro que a visão de um só Estado não é exclusiva de Bennett. Muitos palestinos, com seu movimento nacional dividido, ainda sonham com todas as terras, com a destruição de Israel, com as fronteiras de 1948 em vez do acordo das fronteiras de 1967, ou opções inviáveis de um só Estado que são um código para a eliminação do Estado judeu.

Nada promoveria mais rapidamente a causa justa do Estado palestino do que a renúncia irrevogável da violência por todas as facções e a reconciliação entre elas, com base em um acordo territorial com Israel. Mas Israel precisa se decidir. Netanyahu se distanciou de Bennett, dizendo que ele determina a política externa. Mas o fato é que Bennett articulou a política em vigor. Ele não é uma voz dissonante.

Harris merece aplauso por sua posição. As organizações judaicas americanas devem ir além caso desejem que Israel algum dia dê as costas à tentação territorial maximalista, que impõe aos palestinos marginalizados a mesma exclusão que os judeus sentiram na pele por séculos.

Os irlandeses-americanos tiveram um papel significativo na paz na Irlanda do Norte. Os judeus americanos podem ter uma influência semelhante sobre Israel e a Palestina.


Roger Cohen para o International Herald Tribune, reproduzido no UOLTradutor: George El Khouri Andolfato

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