PARQUE NACIONAL DOS SAGUAROS, Arizona - Quando Steve Bolyard verificou a denúncia de que havia tinta preta em alguns dos majestosos cactos saguaros do parque -cujos troncos enormes e braços levantados são um símbolo do oeste americano-, não esperava ver pichações cobrindo um grande número deles.
"Foi demais", disse Bolyard, patrulheiro do parque. Afinal, os funcionários encontraram pelo menos 45 pichações no parque, incluindo 16 em saguaros, plantas de crescimento lento.
Foi a última amostra de uma tendência que tem irritado as autoridades de parques desde o Parque Nacional das Montanhas Rochosas, em Colorado, até o de Arches, em Utah, e o de Joshua Tree, na Califórnia. O lado mais selvagem da vida urbana -vandalismo, grafite e lixo- já chegou às áreas naturais.
A causa desse recente aumento das pichações em terras públicas não é clara, mas alguns funcionários de parques dizem que há motivo para acreditar que o fenômeno coincide com a ascensão da mídia social. "Antigamente", disse Lorna Lange, porta-voz do parque Joshua Tree, "as pessoas pintavam coisas nas rochas -só quando alguém falasse sobre isso outros saberiam do fato." Ela acrescentou: "Com as redes sociais, as pessoas tiram fotos do que fizeram ou viram. É imediato". A gratificação instantânea pode estimular a depredação.
Embora já existissem pichações nas áreas dos parques nacionais antes que eles se tornassem parques -os pioneiros com carroças já gravavam seus nomes em rochedos enquanto avançavam para o oeste-, isso é algo novo, dizem as autoridades.
Os vândalos pintaram com spray sobre antigas gravuras rupestres e deixaram frases em conhecidas formações rochosas. Cortaram espécimes de plantas preciosas, derrubaram estalactites e jogaram praticamente todo tipo de lixo perto dos rios.
Gannon Frain, 28, visitante habitual dos parques do oeste americano, tem acumulado fotos que documentam a destruição. "Muita gente se considera especial, acha que as regras não se aplicam a ela e tem uma sensação exagerada de seu valor quando chega a um lugar remoto", disse. "Uma coisa é ver a inscrição de um pioneiro em uma parede. Outra é ver a assinatura de um visitante."
Poucos vândalos são apanhados. Os custos de limpeza chegam a centenas de milhares de dólares. "Com os orçamentos tão apertados", disse Andy Fisher, chefe de interpretação e recepção no parque dos Saguaros, "não temos verba para limpar o vandalismo. Tratar disso significa que não vamos cuidar de outra coisa."
Se a mídia social pode ser um dos motivos para o recente aumento dos incidentes, a tecnologia pode funcionar nos dois sentidos. Lange disse que a mídia social poderá ser útil para identificar a origem de um surto de pichação que marcou antigos sítios arqueológicos em Joshua Tree.
Entre outros parques que contam a pichação entre seus problemas, estão a Área Recreativa Nacional de Glen Canyon, no limite de Utah e Arizona, e o Parque Nacional das Montanhas Rochosas.
Nem todos os infratores se safam. Em 2011, no Monumento Nacional El Morro, no Novo México, dois estudantes de intercâmbio sul-coreanos acrescentaram suas contribuições à Rocha da Inscrição, um precioso painel onde soldados e pioneiros do século 19 gravaram seus nomes. Um deles escreveu "Super Duper Dana" e o outro, "Gabriel".
Os patrulheiros mais tarde verificaram o livro de visitantes e viram o nome "Dana Choi" seguido de "Super Duper Dana Choi".
Choi e outro estudante, Seung Hoon Oh, mais tarde postaram fotos de sua viagem em suas páginas no Facebook.
Quando contatados por autoridades, eles admitiram seus atos e acabaram se confessando culpados de violar a lei federal de proteção a recursos arqueológicos. Tiveram de pagar multas de quase US$ 15 mil cada.
Quando vândalos em Saguaros cortaram cactos, os patrulheiros recuperaram fotos de dois homens tiradas por uma câmera de vigilância da vida silvestre.
As imagens foram divulgadas em noticiários de Tucson e em sites de jornais. No dia seguinte, Beau Campbell e Colton Salazar se entregaram. Foram acusados de violação de regulamentos federais que protegem recursos de parques, segundo Fisher.
"Tucson ama suas florestas de saguaros", disse Kevin Dahl, um membro da Associação para a Conservação de Parques Nacionais, entidade sem fins lucrativos. "É muito mais visceral do que se tivessem atirado uma pedra em uma janela. É como se tivessem ferido um membro da família."
Reportagem de Felicity Barringer, para o The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo.
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