Scott Fitzgerald viveu até a última gota. Bebeu, amou, escreveu e sucumbiu à própria falta de controle. Contou nos seus livros os desatinos do estilo de vida americano num tempo delirante. Ele passou a sua vida disputando com Ernest Hemingway o título de melhor escritor. É impossível desempatar.
Em “O grande Gatsby”, que só vendeu 25 mil exemplares durante a existência do autor, embora hoje figure em segundo lugar numa lista dos cem maiores romances do século XX, ele narra a explosão dos novos ricos na era do jazz e da lei seca nos Estados Unidos. Ficou paradoxalmente mais barato beber e abriu-se uma espetacular via de enriquecimento pelo crime organizado.
Nas grandes festas, jorrava álcool.
Jay Gatsby, interpretado por Leonardo DiCaprio no filme atualmente em cartaz, dirigido por Bar Luhrmann, corrompe para subir materialmente, mas é incorruptível no seu amor por Daisy, a esposa aparentemente pura de um rico de berço do sonho americano. Ao final, o escritor Nick Carraway (Tobey Maguire), alter-ego de Fitzgerald, reverencia Gatsby. Só ele presta. Os demais tudo corrompem em função do apego desmesurado ao dinheiro.
O filme é espetacular.
Embora criticado pelo esteticismo excessivo, mostra as entranhas da podridão de um tempo, o mau gosto dos novos ricos, a hipocrisia dos velhos donos do dinheiro, o cinismo pós-Primeira Guerra Mundial, os efeitos perversos da proibição do comércio de bebidas alcoólicas, uma medida tão estúpida quanto as que hoje apostam sempre mais na repressão acentuada para acabar com o consumo de drogas, e a estranha força de um amor sem medidas em meio a um mundo de aparências, materialismo, consumismo e indiferença absoluta pela vida dos outros, os excluídos, os coadjuvantes, os desinteressantes.
Quem leu Scott Fitzgerald aos 20 anos nunca esquece. Passa a vida relendo-o. E vai ao cinema para ver o que se faz dos seus livros. Quem quiser saber um pouco mais do imaginário americano do século XX deve ler Fitzgerald.
O universo de Gatsby ainda não acabou.
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