segunda-feira, 31 de outubro de 2011

EUA cortam repasse de recursos à Unesco após reconhecimento do Estado Palestino


EUA cortam repasse de recursos à Unesco após reconhecimento do Estado Palestino

Órgão que fomenta educação, ciência e cultura perde US$ 60 milhões só em novembro
O governo dos Estados Unidos confirmou nesta segunda-feira (31/10) que cancelará o envio de recursos para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) depois de o órgão ter admitido a entrada do Estado Palestino como membro pleno.
“A aceitação da Palestina como Estado na Unesco inicia restrições legislativas existentes há muito tempo que obrigam os EUA a se absterem de fazer contribuições", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland. O governo de Israel promete tomar atitude semelhante.
Com o anúncio, o governo de Barack Obama cumpre a estratégia de ameaça aos órgãos multilaterais das Nações Unidas para impedir o avanço do pleito do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, que no mês passado solicitou a adesão da Palestina como membro permanente da ONU. O pedido aguarda votação no Conselho de Segurança, onde os norte-americanos já anunciaram que pretendem utilizar seu direito a veto.
A suspensão dos repasses tem efeito imediato e, dessa maneira, os EUA deixarão de entregar à organização US$ 60 milhões que deveriam ter desembolsado em novembro, parte do total de US$ 80 milhões que destina anualmente à Unesco.
A porta-voz ressaltou que, apesar de tudo, o país manterá sua participação e seu compromisso na organização internacional.
"Consultaremos o Congresso para garantir que os interesses e a influência dos EUA sejam mantidos", afirmou Victoria, acrescentando que "o envolvimento dos EUA na Unesco beneficia uma ampla gama de nossos interesses nacionais, em matéria de educação, ciência, cultura e comunicações".
No entanto, a porta-voz classificou a adesão da Palestina como "lamentável” e “prematura”. “Os EUA mantêm seu firme apoio ao estabelecimento de um Estado palestino independente e soberano, mas um Estado assim só pode ser alcançado por negociações diretas entre israelenses e palestinos", disse.
A votação
A Conferência Geral da Unesco aprovou hoje - por 107 votos a favor e 14 contra - a admissão da Autoridade Nacional Palestina como membro de pleno direito em uma votação realizada em sua sede em Paris.
O pedido foi aprovado com os votos favoráveis de Índia, China e vários países latino-americanos, entre eles o Brasil. Contra se pronunciaram EUA, Alemanha e Canadá, entre outros.
O presidente de EUA, Barack Obama, se reuniu hoje a portas fechadas na Casa Branca com o ex-primeiro-ministro do Reino Unido e atual enviado do Quarteto para o Oriente Médio, Tony Blair, para estudar possíveis vias que permitam a retomada das negociações diretas entre israelenses e palestinos.

Texto do Opera Mundi

Grécia: "Estamos nos tornando uma colônia de Bruxelas"


Grécia: "Estamos nos tornando uma colônia de Bruxelas"

Alain Salles
Em Atenas

“Acham que somos preguiçosos?” Mal começara o encontro com Chris Bossinikis e Maria Sotiraki, um casal de funcionários públicos, e Chris lançou a pergunta.

Assim como muitos gregos, Chris se sentiu humilhado pela imagem de um país que tomava banho de Sol enquanto o Norte da Europa trabalhava no frio. O economista Patrick Artus mostrou que o clichê não tinha fundamento, e que os países mediterrâneos trabalhavam até mais do que outros países europeus, mas a imagem ficou.

Chris é jardineiro no principal centro de reciclagem de Atenas, onde ele cuida dos entornos e planta. Quando suas horas de trabalho terminam e não há nenhuma manifestação – é muito difícil ele perder uma - , ele trabalha na casa de famílias ou em empresas. Sua mulher também trabalha no centro de reciclagem, no escritório.

São funcionários públicos sem estabilidade. Há oito anos trabalham sob contrato e nunca foram efetivados. E, desde o outono de 2010, o governo, intimado pela “troika” dos financiadores de Atenas – o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia – a fazer economia, vem tentando terminar seu contrato. Mas a cada seis meses Chris e Maria recorrem à Justiça, que invalida a decisão administrativa.

Assim como 16% da população ativa, eles correm o risco de se verem desempregados. “Desde setembro, um em cada dois pacientes perdeu seu trabalho durante o ano”, constata o psiquiatra Dimitris Ploumidis, que atende no subúrbio de Atenas.

A Grécia está doente. O número de casos de depressão vem aumentando, bem como o de suicídios, sendo que o país por muito tempo se orgulhou de ser o lanterninha da Europa nesse domínio. Uma espécie de depressão coletiva, nascida nesse túnel da recessão que não tem fim.

Manifestantes regulares ou ocasionais, candidatos a partirem para a Austrália ou outros destinos menos distantes, todos eles falam nesse mal-estar: “Não há futuro na Grécia”.

O governo socialista de Georges Papandreou se esgotou. Dentro do país ele é criticado pelo radicalismo de suas medidas de austeridade, e fora dele é criticado pela demora em colocá-las em prática. A oposição tem avançado nas pesquisas, mas a rejeição aos políticos afeta os dois partidos que se alternam no poder desde 1974. O memorando e as medidas de austeridade haviam sido aceitos em maio de 2010. Estas últimas são consideradas dolorosas demais – e ineficazes – pela maioria dos gregos, de todas as classes sociais, desde o desempregado até o diretor de empresa. Eles estão apertando o cinto e não veem resultados.

A “troika” acaba de reconhecer isso implicitamente, estabelecendo para 2021 uma volta aos mercados para o Estado grego, o que significa mais dez anos de subsídios monetários e de privações. As manifestações, marcadas por violência, como mostram as imagens que passam continuamente em todas as televisões do mundo, servem para extravasar a raiva. Elas não impediram nenhuma medida de austeridade.

Do lado da Europa, cujas cúpulas anunciadas como decisivas resultaram em uma decepção após a outra, as esperanças também parecem vãs. Desde a queda da ditadura, o horizonte político grego se voltou para a Europa. A marcha na direção da União Europeia e a entrada na zona do euro eram sinônimos de modernidade e de prosperidade. “É a primeira vez que os gregos têm tantas reservas quanto à maturidade da liderança europeia”, constata o cientista político Georges Sefertzis.

Segundo as pesquisas, ainda existe uma maioria de defensores da moeda única e da construção europeia. Mas as dúvidas se instalam. E se exprimem. Iannis Mavris, do instituto de pesquisa Public Issue, falou em maio sobre “a erosão gradual do sentimento pró-europeu na Grécia”.

“Não queremos ser os pobres dessa comunidade europeia”, explica Maria. Os fundos europeus – tão mal utilizados e muitas vezes desviados na Grécia – deveriam, no entanto, ajudar a diminuir a diferença com os países mais ricos. A História mostrou que o crescimento grego dos anos 2000 se dava sobre a areia do endividamento.

Os atrasos acumulados pelo governo para realizar as privatizações e outras reformas prometidas levaram a um reforço dos controles e das iniciativas da Europa ou da “troika”. “Sinto-me humilhado como grego quando ouço que a venda do patrimônio do país poderá ser feita em Bruxelas. Nós nos tornamos uma colônia”, se revolta Dimitris Ploumidis.

“A Europa não vai dar certo. O Norte quer se separar do Sul. Não temos a mesma mentalidade”, explica Savvas Lazos. Esse garagista de Salônica, no norte do país, quer ir embora para a Austrália; ele não consegue mais vender seus veículos 4 x 4, que eram mania na década de prosperidade dos anos 2000.

Georges Karambelis faz muito sucesso nas manifestações com seu cartaz “Wanted” [“Procura-se”] e a imagem de Georges Papandreou e de seu ministro das Finanças, Evangelos Venizélos, esses “fantoches da troika”. Recompensa prometida: “uma vida livre”. Karambelis, que é diretor da revista de extrema esquerda nacionalista “Ardin”, é favor da Europa, indispensável para Atenas diante da ascensão da Turquia. Mas, para ele, a Europa e a Grécia estão em “um impasse”: “A União Europeia está sendo irresponsável ao obrigar o governo a continuar com as medidas de austeridade. Isso cria uma dinâmica da crise em toda a Europa”.

A relação entre a Grécia e a Europa é complexa. Sem o apoio financeiro e militar das grandes potências europeias, o país helênico teria tido dificuldades para se libertar do jugo otomano menos de duzentos anos atrás e tornar-se independente.

Paris, Londres e outros, que então falavam do passado prestigioso da Grécia antiga, berço da democracia, hoje lembram Atenas de sua dívida.

Em seu romance “Le Dicôlon” (publicado em 1995 na Grécia e traduzido em 2011 pela Ed. Verdier), Yannis Kiourtsakis menciona essa difícil relação com a Europa e o peso desse legado de antiguidade: “Essa admiração transformava nosso sentimento de inferioridade permanente em relação à Europa e aos europeus em sentimento de superioridade inabalável, uma vez que agora nada poderia tirar a pequena Grécia do pedestal sobre o qual, há muitos séculos, a História a havia colocado para sempre na consciência universal!”

A entrada na União Europeia, e depois no euro, assim como os Jogos Olímpicos de 2004, fizeram pensar que a Grécia chegara à igualdade. O dinheiro era tão fácil de gastar quanto de se emprestar para os cidadãos gregos e ainda mais para os governos. A crise chegou, e a Grécia teve de descer brutal e dolorosamente de seu pedestal.

Tradução: Lana Lim



sábado, 29 de outubro de 2011

Fabricantes terão de reduzir substância cancerígena em refrigerantes


Fabricantes de refrigerantes de baixas calorias ou dietéticos cítricos vão reduzir a quantidade de benzeno (substância cancerígena) das bebidas no prazo de até cinco anos, conforme acordo fechado com Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF/MG). As informações são da Proteste Associação de Consumidores.
O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com a Ambev, a Coca-Cola e a Schincariol prevê que a quantidade máxima deverá ficar em cinco microgramas por litro.
A presença do benzeno nas bebidas foi detectada em 2009 pela Proteste ao realizar exames em 24 amostras de diferentes marcas. O Termo de Ajustamento de Conduta foi assinado agora, dois após o MPF instaurar inquérito civil público para apurar o caso.
Ao analisar 24 amostras de diferentes marcas, a Associação detectou a presença do benzeno em sete delas: Fanta laranja, Fanta Laranja light, Sukita, Sukita Zero, Sprite Zero, Dolly Guaraná e Dolly Guaraná diet. Em duas das amostras – Fanta laranja light e Sukita Zero – a concentração estava acima dos limites considerados aceitáveis para a saúde humana. Foram encontrados limites aceitáveis de benzeno no Dolly guaraná tradicional e light, na Fanta laranja tradicional, Sukita tradicional e no Sprite Zero.
De acordo com o MPF, a legislação brasileira, em especial o Código de Defesa do Consumidor, estabelece que os produtos colocados à venda no mercado não poderão trazer riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a fornecer as informações necessárias e adequadas a respeito.
Já que as bebidas testadas traziam ácido benzoico, era possível que algumas também tivessem benzeno, uma substância cancerígena que resulta da combinação dos ácidos benzoico e ascórbico, mais conhecido como vitamina C.Estas duas substâncias juntas, sob certas condições de exposição à luz e ao calor, podem reagir e formar o benzeno.
Como não existe um limite fixado pela Anvisa para refrigerantes, a Proteste utilizou  o  parâmetro de água potável que é de 5 micrograma por litro. Como a OMS e as autoridades sanitárias estrangeiras e nacionais não estabeleceram um limite de benzeno para refrigerantes e sucos, considera-se que, no mínimo, deve ser adotado o mesmo limite utilizado para a água potável. As marcas reprovadas estavam acima desse limite.
O MPF também expediu recomendação para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária realizasse os estudos necessários para determinar a concentração máxima, tolerável, da substância nos refrigerantes comercializados no país.
Enquanto isso, o MPF reuniu-se com os fabricantes para tentar uma solução amigável e definitiva, que pudesse proteger os consumidores. Desde o início, três deles, que representam quase 90% do mercado, dispuseram-se a acatar as orientações do Ministério Público.

Os fabricantes informaram que a formação do benzeno decorre de um processo químico geralmente desencadeado nos refrigerantes light/diet, já que a presença do açúcar inibe a formação da substância. Disseram ainda que “a eventual identificação de traços mínimos de benzeno em determinado produto pode se dar por razões diversas e alheias aos esforços da empresa, como, por exemplo, em decorrência da quantidade de benzeno pré-existente na água”.

Polícia reprime anticapitalistas nos EUA


Polícia reprime anticapitalistas nos EUA

Centenas de manifestantes do movimento 'Ocupe Wall Street' são presos em conflitos com as autoridades locais

Foram feitas detenções em Atlanta, Oakland e outras cidades; houve violência durante as prisões, dizem ativistas

VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK

A resistência de manifestantes do movimento "Ocupe Wall Street" à ordem da polícia de desocupar parques e praças motivou centenas de prisões nos EUA. Em Atlanta, ontem de madrugada, cerca de 50 ativistas foram detidos.
Polícia e manifestantes entraram em confronto também em Oakland, na Califórnia, após oficiais determinarem a desocupação da praça onde manifestantes acampavam havia duas semanas. A prefeitura da cidade afirmou que as condições sanitárias no local haviam se deteriorado.
Cerca de cem pessoas foram presas na cidade californiana. Depois da desocupação, os ativistas fizeram marcha para pedir a praça de volta para o movimento. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
Segundo relatos da mídia local, o enfrentamento começou na noite de terça-feira e durou aproximadamente seis horas. Os ativistas afirmam que houve violência durante as prisões e argumentam que o movimento é pacífico.
"Nossos companheiros americanos foram vítimas de violência nas mãos de seu próprio governo enquanto exerciam liberdades constitucionais", diz nota divulgada no site do movimento.
Segundo a nota, um dos ativistas em Oakland, Scott Olson, que seria veterano da Marinha e teria servido no Iraque, sofreu fratura no crânio no confronto e está internado em estado grave.
Também na terça-feira, em Albuquerque, no Novo México, ativistas foram detidos. Em Tucson, no Arizona, e em Sacramento, na Califórnia, outras prisões foram feitas.
Em Nova York, o barulho feito pelos manifestantes, que tocam tambores no Zuccotti Park, agravou a pressão sobre os ativistas do "Ocupe Wall Street". Segundo carta anônima de um dos ativistas que circula pela internet, o barulho dividiu os organizadores, que tentam diminuir a tensão com os moradores.
Iniciado com um acampamento no Zuccotti Park, perto do centro financeiro de Nova York, em setembro, o movimento atingiu outras cidades do país e do mundo. Sem líderes ou demandas claras, ganhou apoio de intelectuais, sindicatos e políticos.
Um apoiador do "Ocupe Wall Street" criou um aplicativo para celular chamado "Estou Sendo Preso", que permite que o manifestante avise rapidamente familiares e amigos sobre a detenção.
De acordo com agências de notícias, até a manhã de segunda 9.000 pessoas haviam instalado o aplicativo.
Com agências de notícias


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tranquila e infalível como Bruce Lee


Tranquila e infalível como Bruce Lee

Os primeiros nove meses do governo Dilma, na segurança pública, foram decepcionantes.
A decepção decorre do contraste entre as expectativas suscitadas pelos excelentes nomes escalados para enfrentar o desafio e a postura da presidente, que prefiro descrever a qualificar, por respeito ao cargo e à sua biografia.
O começo foi alvissareiro, com a nomeação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que encheu de esperança até os céticos.
O primeiro ato do novo ministro justificou o otimismo. Foram convidados Regina Mikki e Pedro Abramovay para as secretarias de segurança e de políticas para as drogas.
Escolhas irretocáveis, cujos significados prenunciavam avanços. Some-se a isso uma vitória do ministro ao obter o deslocamento da secretaria responsável pela política sobre drogas para o Ministério da Justiça. Ainda que o ideal fosse inseri-la no Ministério da Saúde, tratava-se de um passo positivo da maior importância.
Na sequência, mais um alento: em entrevista ao "O Globo", Pedro mostrava quão perversa vinha sendo a escalada do encarceramento no Brasil, cujas taxas de crescimento já eram campeãs mundiais: desde 2006, o tipo penal que concentrava o foco das ações repressivas correspondia à prática da comercialização de drogas ilícitas sem armas, sem violência, sem envolvimento com organizações criminosas.
De meados dos anos 90 até hoje, passamos de 140 mil a mais de 500 mil presos. Em termos absolutos, só perdemos para a China e para os Estados Unidos. Era preciso mudar a abordagem do problema.
Por aí ficou Pedro, mas já era suficiente para disseminar o entusiasmo em tantos de nós.
Enquanto a taxa média nacional de esclarecimento de homicídios dolosos é de 8% (92% dos homicidas permanecem impunes, nem sequer são identificados nas investigações policiais), o país entope penitenciárias de jovens pobres, com baixa escolaridade, não violentos, que negociavam drogas no varejo.
Ao condená-los à privação de liberdade em convívio com grupos profissionais e organizados, que futuro estamos preparando para eles e para a sociedade?
Não há uso mais inteligente para os R$ 1.500 mensais gastos com cada jovem preso que não cometeu violência? É preciso impor limites, mas também ampará-los na construção de alternativas.
Veio a primeira frustração: a presidente ordenou ao ministro que desconvidasse Pedro Abramovay. A ordem presidencial caiu como um raio, fulminando a confiança que se consolidava e expandia.
Enquanto isso, o Brasil continua sendo o segundo país do mundo em números absolutos de homicídios dolosos -em torno de 50 mil por ano-, atrás apenas da Rússia.
Para reverter essa realidade dramática, uma equipe qualificada do ministério trabalhou todo o primeiro semestre na elaboração de um plano de articulação nacional para a redução dos homicídios dolosos, valorizando a prevenção mas com ênfase no aprimoramento das investigações.
Um plano consistente e promissor, que não transferia responsabilidades à União, mas a levava a compartilhar responsabilidades práticas. Em meados de julho, chegou a data tão esperada: o encontro com a presidente. O ministro passou-lhe o documento, enquanto o técnico preparava-se para expô-lo.
Rápida e eficaz, tranquila e infalível como Bruce Lee, a presidente antecipou-se: homicídios? Isso é com os Estados. Pôs de lado o documento e ordenou que se passasse ao próximo ponto da pauta.



Morre pioneiro da inteligência artificial


Morre pioneiro da inteligência artificial

Americano John McCarthy, morto aos 84, cunhou o termo em 1955 e desenvolveu linguagem-chave de programação

Pesquisador via como objetivo a criação de computadores com capacidade humana, mas reconhecia limites


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/d2610201101.jpg
John McCarthy em foto sem data

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

Quando você usar apenas o som da sua voz para ligar para alguém usando o celular, ou quando empregar um tradutor automático para enfrentar uma língua desconhecida, agradeça ao tio John.
"Tio John" era o apelido dado por alunos do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) a John McCarthy, morto aos 84 anos em Stanford, na Califórnia. Cientista da computação e professor emérito da Universidade Stanford, McCarthy foi o responsável por cunhar o termo "inteligência artificial".
Isso foi em 1955, e a expressão virou o lema de uma conferência científica nos EUA, realizada no ano seguinte, que acabaria fazendo deslanchar o ramo das máquinas inteligentes nas décadas posteriores. Mas McCarthy fez mais do que inventar uma expressão grudenta. Ele também desenvolveu e publicou, em 1960, a linguagem de programação Lisp, que logo se tornou a mais empregada em projetos de inteligência artificial (IA).
De lá para cá, o cientista sofreu uma grande tragédia pessoal (a morte de sua mulher, a programadora Vera Watson, escalando uma montanha do Nepal), mas continuou sua atividade de pesquisa, chegou a propor um projeto de elevador espacial e escreveu contos bem-humorados de ficção científica.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Em seu site pessoal, ele organizou um conjunto de perguntas e respostas sobre a IA para o público em geral, tentando explicar por que robôs com características humanas ainda não dirigem carros ou limpam casas.
"Os programas de computador têm velocidade e memória de sobra, mas suas habilidades correspondem aos mecanismos intelectuais que os programadores entendem a ponto de transformar em linguagem de computador", escreve McCarthy. Como há muitos mecanismos da mente que ainda são misteriosos, em algumas coisas os computadores superam as pessoas de longe, mas em outras apanham feio de crianças de dois anos, diz.
Esse é também o consenso entre outros especialistas. Para o filósofo Daniel Dennett, da Universidade Tufts (EUA), as formas mais "light" de IA hoje fazem parte das nossas vidas, nos sistemas de reconhecimento de voz ou de planejamento de reservas. "Mas o sonho de construir um robô consciente sempre foi loucamente ambicioso", diz Dennett. "Acho que nunca faremos isso. Custaria mais do que pisar na Lua."
A opinião de McCarthy era um pouco mais nuançada. Ele admitia que reproduzir "todas as peculiaridades" da mente humana seria muito difícil, mas para ele o objetivo da IA era criar computadores tão capazes de resolver problemas quanto pessoas. "Precisaremos de novas ideias para conseguir isso."


Folha de São Paulo, 26/10/2011 - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2610201101.htm  (para assinantes)

Falta de unidade é maior ameaça à Europa


Falta de unidade é maior ameaça à Europa

Para professor de Cambridge, bloco precisa aprofundar integração para conseguir sair da crise da dívida pública

Economista defende que governos europeus aumentem os gastos para suprir o recuo da demanda privada

GABRIELA MANZINI
EM LONDRES

É falta de unidade política, e não endividamento, a principal ameaça para o crescimento da zona do euro.
É o que pensa o economista sul-coreano Ha-Joon Chang, professor de Cambridge que ganhou fama no mundo todo, inclusive no Brasil, por ser o autor de "Chutando a Escada", livro em que acusa os países desenvolvidos de terem sabotado o crescimento dos demais negando-lhes estratégias das quais eles mesmos utilizaram.
Ele defende que a criação da moeda europeia foi precipitada e ignorou, por exemplo, a necessidade de criar mecanismos formais para a quebra de países.
O remédio, diz, não são as medidas recessivas que vêm sendo adotadas, mas o aprofundamento da integração.
Leia abaixo a entrevista concedida por Ha-Joon, por telefone, de Cambridge.
 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif

Folha - Qual é a extensão da crise na Europa? A zona do euro está em risco?
Ha-Joon Chang - Quando falamos de um país, a estrutura federal mantém a unidade porque há a possibilidade de transferir recursos e mão de obra. Mas a União Europeia possui uma pequena margem de manobra, o que a deixa em apuros.
Se a Grécia fosse um Estado brasileiro, como Mato Grosso, e algo saísse muito mal lá, São Paulo ajudaria. Mas quantos gregos podem arranjar um emprego na Alemanha?
Quando há esse tipo de situação, fica exposta a falta de unidade política dentro do projeto europeu de unidade monetária. E a tendência é a de que essa crise de identidade se arraste, porque alemães e holandeses, por exemplo, que poderiam salvar Grécia, Espanha e Portugal, não querem fazê-lo.
Mas é preciso deixar claro que a zona do euro, como um todo, não está em crise financeira grave. Seu déficit total é de 6% do PIB, menos do que o dos EUA e o do Reino Unido, que têm 10%, 11%.

Há legitimidade na hesitação?
Quando criaram a unidade monetária, eles [europeus] não imaginaram viver isso. E um sistema projetado com base na previsão de que não haveria crise, quando confrontado com uma, entra em impasse.
Muita gente vê, sim, legitimidade quando os alemães dizem: 'Por que nós deveríamos pagar?'. Ao que os gregos respondem: 'Somos uma economia única, vocês têm de pagar'. Não existe certo ou errado porque eles nunca tinham discutido isso.

Essa crise pode levar à saída de algum país do bloco?
Minha visão é a de que Grécia, Portugal e a Espanha estariam melhores se nunca tivessem entrado na zona do euro. Mas, uma vez dentro, é melhor que fiquem.
Os líderes europeus têm de aceitar que, uma vez que acordaram com a união monetária, precisam preservá-la, e que o único meio de fazê-lo, no momento, é aprofundando a integração.
Precisam aceitar o projeto político, a criação de mecanismos como o eurobônus -um título apoiado por todos os membros do bloco- e o fortalecimento do Banco Central Europeu.

A presidente Dilma Rousseff disse que a crise da dívida latino-americana "demonstra que ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundam o processo de estagnação e de desemprego". O sr. concorda? Sim. Quando se tenta resolver esse tipo de problema com medidas recessivas, com frequência, só se consegue agravá-lo, porque a receita não para de cair.
No momento, a principal causa da crise é a falta de demanda por parte do setor privado, muito endividado.
Como há grande incerteza, ninguém está investindo, e as pessoas estão com medo de gastar e perder seus empregos. Em uma situação dessa, a única entidade que poderia gastar é o governo, mas ele está cortando investimento.



Fundamentos da moral


Fundamentos da moral

Num belo dia de 1760 ou por aí, Denis Diderot recebe a notícia de que Jean-Jacques Rousseau desistiu de escrever o verbete "Moral" da grande Enciclopédia, da qual Diderot é um dos editores-chefes. A impressão do décimo volume da obra está parada na espera do texto. A solução é Diderot escrevê-lo, na hora, ao longo de uma tarde durante a qual várias circunstâncias colocam à prova, justamente, a moralidade do filósofo.
Essa é a situação apresentada na peça "O Libertino", de Eric-Emmanuel Schmitt, em cartaz até 27 de novembro no teatro Cultura Artística Itaim, em São Paulo. A peça foi adaptada e é dirigida por Jô Soares, com o brio alegre de uma farsa de Feydeau ou de uma comédia de Goldoni, e com um elenco particularmente feliz (a começar por Cassio Scapin, que é Diderot). Um provérbio latim diz que, rindo, a comédia critica os costumes. "O Libertino" nos leva não só a criticar nossos costumes, mas a examinar os frágeis fundamentos de nossas normas morais. Vamos com calma.
O evento apresentado na peça é uma ficção. O verbete "Moral", como quase um terço da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert, foi escrito pelo cavalheiro Jaucourt, que redigiu sozinho mais de 17.000 verbetes, até merecer o apelido de "escravo da Enciclopédia". O cavalheiro era culto e sem brilho: o verbete "Moral" é um texto chato, com uma ou outra afirmação ousada -por exemplo, Jaucourt escreve que a moral é um investimento mais seguro do que a fé, porque um ateu virtuoso pode se salvar, enquanto não há salvação para um crente vicioso. Mas o que é virtuoso e o que é vicioso?
É fácil responder, se acreditarmos numa revelação divina. Mais complicado é fundar uma moral laica, inspirada pela razão. Jaucourt sugere apostar no número, notando que os povos civilizados concordam quanto aos pontos essenciais da moral, ao passo que podem discordar totalmente em matéria de fé religiosa. Talvez o aprimoramento mais recente do argumento de Jaucourt seja o de John Rawls. Em "Justiça como Equidade" (Martins Ed.), Rawls propõe que a gente aceite como normas sociais morais aquelas que aprovaríamos por unanimidade, caso todos nos esquecêssemos completamente de nossa etnia, de nosso status, de nosso gênero e de nossa concepção do bem. Essa amnésia fundaria nossa moral, pois, graças a ela, seriam aprovadas só as normas que servissem ao bem de todos. Laborioso, hein? Seja como for, as sugestões de Jaucourt e de Rawls valem sobretudo para a moral pública. Mas como se fundamenta a moral privada, que nos orienta na escolha do bem e do mal no dia a dia? Essa é a questão com a qual "O Libertino" nos faz rir e pensar. Na peça, Diderot está hospedado na casa do barão d'Holbach, por cuja filha (ótima Luiza Lemmertz) ele é seriamente tentado. D'Holbach era ele mesmo um contribuidor da Enciclopédia.
No seu "Sistema da Natureza", o barão avançava a ideia de que a virtude moral deveria estar ao serviço de nossa felicidade. Na peça, Diderot, escrevendo seu verbete, tenta adotar esse argumento, que d'Holbach desenvolvera até ao paradoxo: se um homem for feliz no vício (e não na virtude), de repente, o vício seria legitimamente sua moral. Problema.
O barão d'Holbach era ateu e materialista. Questão: se o homem é uma máquina sem alma, ele não tem liberdade de escolha, e, se ele não é livre, a própria ideia de moral perde seu sentido. Mais um problema.
Enfim, se você puder, assista à peça e se divirta. Se não puder, divirta-se imaginando como você escreveria o verbete "Moral" de sua enciclopédia pessoal -e lembre-se: você não tem o conforto de acreditar numa revelação divina e nem está convencido de que saibamos resistir livremente a nossos impulsos e desejos.
Lembre-se também de escrever seu verbete numa tarde em que, como Diderot, 1) você é tentado pelo adultério, embora ame sua mulher, 2) você gostaria de seduzir a filha de um amigo, a qual tem a idade de sua filha, 3) você professa opiniões "avançadas", mas não quer que elas valham no caso de sua filha, 4) você é seduzido pelo charme de uma criminosa, a ponto de se perguntar se, no fundo, os valores estéticos não deveriam ser mais importantes que os valores morais (não se escandalize: há românticos e modernos para pensar exatamente isso).
Mais uma coisa: se você for mulher ou tiver preferências diferentes das de Diderot, apenas mude o gênero no parágrafo acima.



"Ferida não vai fechar nunca"



Em votação simbólica, o Plenário do Senado aprovou na quarta-feira 26, por unanimidade, o Projeto de Lei da Câmara que cria a Comissão Nacional da Verdade, grupo responsável por examinar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas no período de 1946 até a data da promulgação da Constituição de 1988. A matéria segue agora a sanção presidencial.
A abrangência do período é uma das principais críticas dos grupos de direitos humanos e familiares de vítimas, que defendiam que a comissão se concentrasse nos crimes cometidos durante a ditadura militar que vigorou entre 1964 e 1985. Na tribuna, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), relator do projeto na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), alertou que “a comissão só vai se legitimar se mantiver seu foco” neste período, quando, segundo ele, “a ação experimental de um grupo de energúmenos violentos acabou assumindo uma escalada, até se transformar em uma política de Estado de extermínio de adversários”.
O foco temporal, acrescentou o senador, deverá ser o da vigência do Ato Institucional nº 5, entre 1968 e 1979, quando este foi revogado pela Lei da Anistia.
“A comissão não vai produzir a verdade oficial. Há de trabalhar formulando as boas questões, exercendo o senso crítico, cotejando fontes, numa investigação isenta, objetiva, e não na interpretação, que é sempre sujeita ao anacronismo de quem olha o passado a luz de suas convicções presentes”, afirmou Aloysio Nunes.
De acordo com o relator, além de mostrar a autoria de torturas, assassinatos, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres, ainda que tenham sido cometidos no exterior, a comissão terá “uma tarefa mais ampla: identificar e tornar público o funcionamento da estrutura repressiva montada no tempo da ditadura”. Mas ele avisou que a comissão irá explorar “uma ferida que não vai se fechar nunca, qualquer que seja o resultado”.
“Ela não dará a última palavra sobre os fatos, porque muitos deles continuarão encobertos, não nos iludamos”, afirmou.
A Comissão Nacional da Verdade terá prazo de dois anos, contados da data de sua instalação, para a conclusão dos trabalhos. Terá uma equipe e dotação orçamentárias próprias. Poderá pedir informações, dados e documentos de quaisquer órgãos e entidades do poder público, mesmo se classificados com o mais alto grau de sigilo. Poderá também determinar a realização de perícias e diligências para coleta ou recuperação de informações, documentos e dados.
Será composta por sete membros, designados pela Presidência da República, dentre brasileiros de reconhecida idoneidade e conduta ética, identificados com a defesa da democracia e com o respeito aos direitos humanos. Esses membros não poderão ter cargos executivos em agremiações partidárias ou cargo em comissão ou função de confiança em quaisquer esferas do poder público. Receberão remuneração mensal de 11.179,36 de reais.
A sessão do Senado foi presenciada pela ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e pelo relator da proposta na Câmara dos Deputados, deputado federal Edinho Araújo (PMDB-SP).

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Modelo que quer virar freira fala sobre vocação crescente entre jovens britânicas

A cada ano na Grã-Bretanha, um número pequeno mas cada vez maior de jovens mulheres está deixando para trás suas carreiras, namorados e posses para se dedicar totalmente à religião.

Catherine disse à BBC que se considera uma típica menina britânica, que gosta de ser mimada. Com muitas das suas amigas, a jovem de 25 anos passou os últimos anos viajando, fazendo festas e estudando para ganhar um diploma em Letras pela universidade King's College de Londres.

Ela também trabalhou como modelo, mas esse tipo de experiência, segundo ela, não trouxe a satisfação que buscava. Catherine decidiu dedicar sua vida a Deus e virar freira, um desejo que ela tinha desde os quatro anos de idade.

"Eu fui a castings e eles sempre queriam que eu fizesse desfiles de passarela", afirma Catherine. "Eu lembro que depois de receber meu primeiro cachê eu fui para casa e me senti muito vazia. Eu pensava: 'é só isso?' Não era tão bom quanto eu imaginava que seria."
"Eu adoro as pessoas e adoro me divertir, mas isso não é tudo na vida."

Matrimônio e maternidade
Catherine tem frequentado o mosteiro de St. Dominic, em New Forest, no sul da Inglaterra, que recebe visitantes e oferece retiros espirituais. Ela pensa em virar freira, mas está tendo dificuldades para conseguir tomar a decisão de se entregar totalmente à vocação.

No ano passado, apenas 20 mulheres estavam se preparando para virar freiras na Grã-Bretanha, segundo a entidade Conference of Religious, que representa a maioria das comunidades religiosas do país. Destas, 14 tinham entre 20 e 40 anos.

Nos últimos cinco anos, o número de mulheres com menos de 40 anos se preparando para virar freiras aumentou de 42% para 70%, segundo dados oficiais.

As irmãs dominicanas em St. Dominic passam a maior parte dos seus dias rezando. Elas também saem do convento para espalhar a palavra de Deus.

O principal fator que tem impedido Catherine de se dedicar totalmente à vocação é o sentimento de que ela terá de abrir mão do prazer do matrimônio e da maternidade.

"Se você é romântica e realmente gosta do sexo oposto, você gostaria de casar, e isso é um sacrifício de verdade", afirma Catherine.

"Eu me sinto dividida, puxada em duas direções opostas. Me disseram que eu seria uma boa esposa e mãe, e eu adoraria isso, se for isso que Deus quer. Eu tenho rezado pedindo: 'me dê mais desejo para uma coisa do que a outra, para eu entender qual é o meu chamado'."

'Bebedeiras, namorados e festas'
O priorado de St. Dominic recebe novas irmãs uma vez por ano, e a organização precisa se certificar de que todas as novatas se adaptarão bem à sua comunidade.

A irmã Hyacinthe cuida das jovens que estão interessadas em virar freiras.

"Não existem parâmetros definidos para pessoas que querem virar freiras e se encaixam na vocação", diz ela. "As jovens que vêm aqui vivem uma vida normal, com bebedeiras, namorados e festas. Elas geralmente já tiveram isso, ou ainda estão vivendo isso, e ainda assim elas buscam algo a mais."

Catherine tinha esperanças de se juntar à organização ainda neste ano, mas as irmãs de St. Dominic recomendaram que ela espere mais um tempo, até ter certeza absoluta da sua vocação.

"Nós esperamos e rezamos para que ela volte", diz a irmã Hyacinthe. "Também é um teste. Ela realmente quer se juntar a nós, mas será que ela vai querer isso daqui a seis meses? Se não quiser, isso será um bom sinal para nós de que não era para ser. Precisa ser uma decisão que venha acima de todas as outras opções que o mundo oferece."

Por ora, Catherine está estudando na escola católica de evangelização de Londres e diz estar "gostando da viagem".

"Pode ser frustrante não saber sempre o que o futuro trará", diz ela. "Mas não se pode entrar se não estiver com 100% de certeza. Nunca fui uma pessoa paciente, e Deus está me ensinando a ser paciente."





Notícia da BBC, reproduzida no UOL

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ver pornô na Internet está acabando com a minha libido


Que droga. Então é isto que a minha ex-namorada quis dizer quando falou que sexo comigo era como “relações carnais com algo oco.” É o excesso de pornô de internet! Isso está matando nossa libido, camaradas, um clique com a mão ruim de cada vez. Ou pelo menos é o que diz um estudo da Universidade de Pádua na Itália.
A pesquisa descobriu que os distintos rapazes com uma queda por pornô na net  eram mais propensos a sofrer disfunção erétil na hora da ação de verdade. O estudo focou em homens na casa dos 20 anos, e o centro das conclusões é que a maior quantidade e diversidade de pornô online têm levado à diminuição de sensibilidade dos receptáculos de prazer masculino, especialmente os que ativam a dopamina (o neurotransmissor que ativa a “recompensa”).
Por ativar vezes demais e tão frequentemente o botão de recompensa, e com tanta variedade, o pornô da internet na prática acaba diminuindo ou eliminando totalmente a noção fisiológica de felicidade e recompensa que o sexo provém de maneira tão natural e maravilhosa.
Então, dizem os cientistas, quando ela está lá nua na cama esperando você, você percebe que toda a situação é até normal (quantas delas você já viu na net?), não tão excitante e você fica inconscientemente com medo. E as coisas param de funcionar. Meio embaraçoso.
O pior de tudo é que o estudo aparentemente descobriu que abandonar o vício do pornô online criou uma série de sintomas de viciados em drogas que largam a coisa, como insônia e uma condição parecida com resfriado. Mas são coisas menores em comparação com o mal que o vício dos sites .xxx podem causar.
Então, quem aí vai largar o xvideos? [ANSA via CNET]

Texto visto no Gizmodo Brasil

Mundo pacífico


Mundo nunca foi tão pacífico, diz cientista

Livro de psicólogo evolucionista afirma que todas as formas de violência, inclusive o terrorismo, estão em queda

Homicídios, guerras e crueldade com animais também estão em queda e isso ocorre desde o século 16, segundo obra 

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

Faz pelo menos 500 anos que o mundo está se tornando um lugar cada vez mais seguro para se viver, e a raça humana nunca foi tão pouco violenta. Ataques terroristas e guerras civis são meros soluços estatísticos numa paz que nossos ancestrais achariam quase impensável.
Duro de engolir, certo? Pois os números reunidos por Steven Pinker, 57, psicólogo evolucionista da Universidade Harvard, são difíceis de refutar. Todas as formas de violência estão em declínio, das guerras à crueldade com animais, e em alguns casos a queda já dura séculos, diz ele.
Pinker, pop star científico que aprecia os temas polêmicos, apresenta um resumo de seus argumentos em artigo de opinião na edição de hoje na revista científica "Nature". São ideias tiradas de seu novo livro, "The Better Angels of Our Nature" (ainda sem edição no Brasil).

ANJO BOM
Conforme o título do livro sugere, Pinker argumenta que os "anjos bons [literalmente, melhores] da nossa natureza" estão vencendo a disputa pela alma humana.
"As histórias da Antiguidade estão cheias de conquistas gloriosas que hoje seriam classificadas como genocídios. Fulano, o Grande e Sicrano, o Grande seriam processados como criminosos de guerra", brinca o cientista. E não se trata só da Antiguidade. O registro arqueológico e os estudos sobre povos indígenas atuais mostram que esse negócio de bom selvagem não existe, diz Pinker.
Mais precisamente, esses povos cometem centenas de vezes mais homicídios do que os europeus do século 21, e cerca de 20% das pessoas nessas sociedades morrem em guerras, afirma ele. O bioantropólogo Walter Neves, especialista da USP que estuda os primeiros habitantes da América, concorda. "A guerra, seja entre caçadores-coletores, seja entre horticultores [agricultores primitivos], é crônica e endêmica", afirma ele. No caso de povos pré-históricos, "é preciso tomar um pouco de cuidado porque a agressão entre eles, como bordoadas, deixa marcas no esqueleto que a nossa muitas vezes não deixa, então é difícil fazer a comparação", diz.

BRAÇO FORTE
A primeira queda na pancadaria teria vindo com o fortalecimento dos Estados, em especial as monarquias europeias, a partir do século 16.
Com o rei abarcando o poder absoluto e os nobres (que costumavam guerrear entre si) na coleira, a violência desregrada saiu de cena, já que atrapalhava a centralização de poder e riqueza desejada pelo monarca. Segundo motivo de queda da violência, segundo Pinker: a invenção da imprensa, barateando a circulação de ideias, e o Iluminismo resultante desse processo.
Os pensadores iluministas, com sua ênfase no debate racional e sua redescoberta das ideias democráticas, dominaram o universo intelectual europeu, debatendo todos os temas tabus e defendendo os direitos de plebeus, minorias, mulheres e até animais. O debate iluminista acabou levando ao lento porém crescente predomínio da democracia como regime de governo, o que também diminuiu guerras -é muito raro que uma democracia declare guerra contra outra. E o avanço do comércio internacional tornou os países cada vez menos interessados em guerrear por riquezas, diz ele.

"THE BETTER ANGELS OF OUR NATURE"
AUTOR Steven Pinker
EDITORA Viking
QUANTO US$ 19,99 (como livro eletrônico no site Amazon)
CLASSIFICAÇÃO ótimo



Os doidos e os sábios


Os doidos sábios e os sábios doidos


O ZUCCOTTI Park, a dois quarteirões de Wall Street, é pouco menor que um campo de futebol. Há três semanas, quem passava por lá, via a fauna das causas perdidas.
Colchões no chão, batuque e até uma vuvuzela. Um cabeludo flanava no seu skate e uma jovem vestia camiseta e calcinha de flores (um biquíni de vovó, se comparado aos fios dentais). Havia uma estranha ordem naquele caos. Os canteiros de flores, intocados, e jovens (uma de luvas) recolhiam o lixo.
Os doidos do "Ocupe Wall Street" espalharam-se por 82 países, de Roma a Taiwan. Em todos os lugares, a pergunta é uma só: qual é a agenda dessa gente?
Nesta semana o ilustrador Barry Blitt (aquele que durante a campanha eleitoral de 2008 desenhou um Obama muçulmano e Michelle com uma metralhadora a tiracolo) matou a charada na capa da revista "The New Yorker". Cinco banqueiros de cartola empunham cartazes, e um deles pede: "Deixe as coisas precisamente como estão".
E elas estão assim: com o país tecnicamente fora da recessão, a taxa de desemprego americana está em 9%, a maior desde os anos 40, excetuado um breve repique nos anos 80. Os lucros das corporações estão no maior nível dos últimos 70 anos, mas os salários bateram no mais baixo patamar desde 1960.
Todos os indicadores de renda do andar de cima vão bem, mas querem mandar a conta da ruína para o andar de baixo, cortando políticas sociais, tanto nos Estados Unidos como na Europa.
A patuleia do parque é o novo personagem da crise. Não tem agenda? Em 1967, numa marcha contra a Guerra do Vietnã, o poeta Allen Guinsberg propôs que as energias dos manifestantes fossem concentradas para fazer levitar o prédio do Pentágono. O Pentágono não levitou, mas o presidente Lyndon Johnson desistiu de concorrer à reeleição. Em 1989, os tchecos manifestavam-se chacoalhando chaveiros.
Nem os doidos do parque acham que o companheiro Obama desistirá da reeleição, mas ele parece não ter entendido o ronco da rua.
No domingo, inaugurando o monumento a Martin Luther King (outro doido), disse que não se deve satanizar "todos aqueles que trabalham" em Wall Street. Blá-blá-blá, pois ninguém está protestando contra todos os operadores do papelório, mas contra o que a turma do papelório fez à economia mundial, emprestando dinheiro a quem não podia pagar, na certeza de que a parolagem do "risco sistêmico" impediria que fossem à garra. Nos anos 80, salvou-se a ciranda dos sábios da banca quebrando-se a América Latina, inclusive o Brasil.
Agora os Estados Unidos e a Europa estão provando o velho veneno e não gostam dos seus efeitos. À época, a mágica foi praticada por Paul Volcker, o presidente do Banco Central americano.
Em 2008, aos 81 anos, ele assessorava Obama. Não havia por que passar a conta adiante, e ele propunha que se baixasse o chanfalho na banca. A certa altura, tratava-se de deixar que o Citibank quebrasse. Obama vacilou, Volcker foi-se embora, e o resultado está aí. A sabedoria dos sábios tornou-se maluquice e entraram em cena os doidos, como sábios.
 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif

Serviço: saiu nos Estados Unidos um excelente livro expondo as brigas e a falta de rumo da Casa Branca durante o governo Obama. Chama-se "Confidence Men" ("Homens de Confiança - Wall Street, Washington e a Educação de um Presidente"). Seu autor é o premiado jornalista Ron Suskind. O e-book, em inglês, custa US$ 12,99.



A nova corrida aérea


A nova corrida aérea
Por SCOTT SHANE 

WASHINGTON - Na exposição aérea de Zhuhai, no sudeste da China, em novembro passado, companhias chinesas assustaram alguns americanos ao revelar 25 modelos diferentes de aeronaves com controle remoto e mostrar uma animação em vídeo de um "drone" (avião não tripulado, Vant) eliminando um veículo blindado e atacando um porta-aviões dos Estados Unidos.
A apresentação parecia ser mais uma jogada de marketing do que uma ameaça militar; o evento é a maior feira de aviação da China, e atrai tanto compradores militares chineses quanto estrangeiros.
Mas foi uma clara evidência de que o quase monopólio dos EUA em Vants estava chegando ao fim, com amplas consequências para a segurança americana, o direito internacional e o futuro da prática de guerra.
Em breve, os EUA vão enfrentar um adversário militar ou grupo terrorista armado de Vants, dizem analistas.
Mas o que os especialistas em riscos preveem não é um ataque contra os EUA, e sim os desafios políticos e jurídicos que se apresentam quando outro país segue o exemplo americano. O governo Bush, e ainda mais agressivamente a administração Obama, adotou um princípio extraordinário: o de que os EUA podem enviar essa arma robótica além de suas fronteiras para matar supostos inimigos e até cidadãos americanos que sejam considerados uma ameaça.
"É esse o mundo em que queremos viver?", pergunta Micah Zenko, membro do Conselho de Relações Exteriores. "Porque nós o estamos criando."
No Iraque e no Afeganistão, Vants militares tornaram-se uma parte rotineira do arsenal. No Paquistão, segundo oficiais americanos, ataques de Predators e Reapers operados pela CIA mataram mais de 2 mil militantes; o número de baixas civis é muito discutido.
Quando Anwar al Awlaki, o estrategista da Al Qaeda, foi morto em 30 de setembro com Samir Khan, pela primeira vez um cidadão americano foi o alvo intencional de um ataque de um avião não tripulado.
Se a China, por exemplo, enviar Vants mortais para o Cazaquistão para caçar os muçulmanos da minoria uigur, que ela acusa de planejar o terrorismo, o que dirão os EUA?
E se a Índia usar aeronaves com controle remoto para atingir os suspeitos de terrorismo na Caxemira, ou a Rússia enviar teleguiados atrás de militantes no Cáucaso? As autoridades americanas que protestarem provavelmente terão seu próprio exemplo atirado de volta. O feitiço contra o feiticeiro, como no ditado. "O problema é que estamos criando uma norma internacional" -garantindo o direito de atacar preventivamente aqueles que suspeitamos de planejar ataques, argumenta Dennis M. Gormley, um pesquisador sênior na Universidade de Pittsburgh e autor de Missile Contagion [Contágio de mísseis], que pediu controles mais duros na exportação de tecnologia de Vants americana. "O que mais me preocupa são as imitações."
Até hoje, somente os EUA, Israel (contra o Hizbollah, no Líbano, e o Hamas, em Gaza) e o Reino Unido (no Afeganistão) usaram Vants em ataques.
Mas analistas da Defesa americana contam mais de 50 países que construíram ou compraram veículos aéreos não tripulados, ou UAV na sigla em inglês, e o número está aumentando a cada mês.
"A virtude da maioria dos UAVs é que eles têm asas longas e você pode prender qualquer coisa nelas", diz Gormley. Isso inclui câmeras de vídeo, equipamento de vigilância e munições, ele diz. "Está se espalhando como um incêndio."
Até agora os EUA têm uma enorme vantagem no número e na sofisticação dos UAVs, cerca de 7 mil, segundo uma estimativa oficial, a maioria deles desarmada.
Philip Finnegan, diretor de análise corporativa para o Teal Group, uma empresa que acompanha os mercados de defesa e aeroespacial, diz que os gastos globais em pesquisa e encomendas de Vants na próxima década deverão superar os US$ 94 bilhões, incluindo US$ 9 bilhões em aeronaves de combate remotamente controladas.
Israel e China estão desenvolvendo e comercializando agressivamente os teleguiados, e Rússia, Irã, Índia, Paquistão e vários outros países não estão muito atrás.
O Serviço de Segurança da Defesa, que protege o Pentágono e seus fornecedores de espionagem, advertiu em um relatório no ano passado que a tecnologia de teleguiados americana tornou-se um alvo importante de espiões estrangeiros.
Em dezembro passado um Vant de vigilância caiu em um bairro de El Paso, no Texas. Ele tinha sido lançado pela polícia mexicana, estacionada do outro lado da fronteira.
Até o grupo militante libanês Hizbollah empregou teleguiados, um projeto iraniano capaz de carregar munições e mergulhar até o alvo, segundo P. W. Singer, autor de Wired for War [Equipados para a Guerra].
"Se eles estiverem voando perto dos telhados e das árvores, é quase impossível derrubá-los", disse John Villasenor, professor de engenharia elétrica na Universidade da Califórnia em Los Angeles.
É fácil imaginar Vants terroristas preparados para espalhar antraz ou armas radioativas.
Especulações de que a Al Qaeda poderia usar armas exóticas até agora não passaram de rumores infundados.
No entanto, a curva tecnológica ascendente dos Vants significa que a ameaça não pode mais ser ignorada.



O alto preço do controle de imigração


O alto preço do controle de imigração

Por NINA BERNSTEIN

Um punhado de companhias de segurança multinacionais vem transformando o controle da imigração em uma indústria global.
Especialmente no Reino Unido nos Estados Unidos e na Austrália, os governos têm procurado essas companhias para expandir a detenção e mostrar aos eleitores que estão aplicando leis de imigração mais duras.
Mas o crescimento da detenção privatizada é acompanhado por graves relatórios de inspeção, processos legais e a documentação de abusos e negligência generalizados, às vezes mortais.
"Eles são muito bons nos folhetos coloridos", disse Kaye Bernard, chefe do sindicato de trabalhadores na detenção no território australiano de Christmas Island, onde houve tumultos este ano. "No local, é quase ridículo, o caos e a incapacidade de funcionar."
Nos EUA -com quase 400 mil detenções anuais em 2010, contra 280 mil em 2005- as empresas privadas hoje controlam quase a metade de todos os leitos de detenção. No Reino Unido, sete dos 11 centros de detenção e a maioria dos locais de detenção de curto prazo para imigrantes são operados por empreiteiras comerciais.
Mas nenhum país terceirizou mais completamente o policiamento da imigração, com resultados mais perturbadores, que a Austrália. Na metade da última década, depois que filhos de refugiados costuraram seus lábios durante greves de fome e cidadãos australianos e residentes legais foram detidos e deportados por engano, o governo desmontou partes do sistema.
Mas, depois de prometer devolver o trabalho ao setor público, um governo trabalhista concedeu em 2009 um contrato de cinco anos e US$ 370 milhões para a Serco, um dos três grandes atores globais no negócio de detenção privada.
O valor do contrato aumentou desde então para mais de US$ 756 milhões, pois os locais de detenção quadruplicaram, chegando a 24, e o número de detidos inchou de 1 .000 para 6.700. No último ano, rebeliões, incêndios e protestos suicidas causaram milhões de dólares de prejuízos em centros da Serco, e a autoagressão pelos detidos aumentou 12 vezes.
No centro de detenção da Serco em Villawood, perto de Sydney, imigrantes falaram sobre detenções prolongadas e sem prazo que os enlouquecem. Alwy Fadhel, 33, um indonésio, estava com o cabelo caindo em chumaços depois de mais de três anos entrando e saindo do confinamento solitário. "Nós falamos conosco mesmos", disse ele. "Falamos com o espelho e com a parede."
Naomi Leong, 9 anos, que nasceu no campo de detenção, estava crescendo muda e batendo a cabeça nas paredes enquanto sua mãe, Virginia Leong, da Malásia, entrou em depressão. As duas ficaram famosas em protestos contra o sistema, que levaram a sua libertação em 2005, graças a um visto humanitário.
No Reino Unido, no último outono, outra multinacional, a G4S, esteve sob investigação criminal por causa do sufocamento de um angolano que morreu enquanto três escoltas da empresa o seguravam em um voo da British Airways. Também em 2007 a Comissão de Direitos Humanos da Austrália Ocidental descobriu que motoristas da G4S tinham ignorado os gritos de detidos trancados em uma van sufocante, deixando-os tão desidratados que um bebeu a própria urina.
Houve uma revolta pública quando um aborígene morreu em outra van da G4S em circunstâncias semelhantes no ano passado. A empresa admitiu sua culpa de negligência na morte na van este ano e foi multada em US$ 285 mil. Porém, a companhia mais tarde recebeu um contrato de transporte de prisioneiros por cinco anos e US$ 70 milhões em outro estado australiano, Victoria.
"Se uma área ou território desacelera, podemos mudar para onde está o crescimento", afirmou a investidores no ano passado o executivo-chefe da Serco, Christopher Hyman. A carteira de US$ 10 bilhões da Serco inclui outros negócios, de controle de tráfego aéreo e processamento de vistos nos EUA a manutenção de armas nucleares e vigilância de vídeo.
Nick Buckles, executivo-chefe da G4S, disse a analistas no ano passado como sua empresa floresceu na Holanda em uma semana, depois do assassinato em 2002 de um político com uma agenda contra a imigração.
No Reino Unido, a G4S tem mais de US$ 1,1 bilhão em contratos. A G4S faz entregas de dinheiro para bancos na maioria dos continentes, realiza segurança em aeroportos em 80 países e tem 1.500 empregados na imigração no Reino Unido, Holanda e EUA.
Em março, em um campo da Serco na Austrália, um afegão de 19 anos de um grupo perseguido pelos Taleban se enforcou -é o quinto suicídio no sistema em sete meses. Uma dúzia de guardas da Serco se viram lutando contra centenas de detidos irritados, por causa do corpo do adolescente.
"Perdemos o controle", disse Richard Harding, que serviu como inspetor-chefe de prisões na Austrália.
Ele disse que o que aconteceu no campo da Serco foi emblemático de "um acordo defeituoso". Ele acrescentou: "Essas grandes companhias globais, em relação a atividades específicas, são mais poderosas que governos".
Matt Siegel contribuiu com reportagem de Sydney, Austrália


O direito ao crime


O direito ao crime


Mais de mil páginas de acusações contra um acusado não são coisa excepcional no mundo do crime. Nos crimes do mundo, são. E ainda mais se o personagem do histórico é ex-presidente, mas não um dos saídos dos Bálcãs ou da África para o Tribunal Internacional de Justiça, o que faria das mil páginas mais um fácil dossiê de derrotados. No Tribunal de Nuremberg, que ao fim da Segunda Guerra distribuiu penas de enforcamento a altos criminosos do nazismo, processos enciclopédicos foram o comum: os acusados eram vencidos.
O histórico de mais de mil documentos entregue à Procuradoria-Geral do Canadá ocupa-se de crimes de tortura autorizados, ou consentidos, ou acobertados por uma autoridade sem contraste na condução do seu país. Com múltiplos efeitos mundiais. A excepcionalidade aí existente consiste em que o acusado é um ex-presidente ainda poderoso por sua representação política, louvado por muitos outros poderosos e por massas de compatriotas, e no gozo pleno da rica liberdade e incontáveis privilégios. É George W. Bush, invasor do Iraque e do Afeganistão.
Elaborado com vídeos, fotos, testemunhos, trechos de manuais militares, justificativas de generais e trechos da autobiografia do acusado, o dossiê dá motivo a uma expectativa a ser respondida, conforme agendas oficiais, na quinta-feira desta semana. É a data prevista para a chegada de Bush ao Canadá.
Se aceita pela Procuradoria-Geral a ação denunciatória, a prisão de Bush estaria determinada nos termos da legislação aprovada pela ONU e denominada Convenção Internacional Contra a Tortura.
O destino determinado pela história para o dossiê, porém, é o arquivo da Anistia Internacional. Levar-se a excepcionalidade do dossiê e da prisão ao extremo de ser realidade, exigiria uma transgressão sem precedente de fundamentos essenciais da chamada civilização ocidental (por décadas, chamada de civilização ocidental e cristã, um louvor à discriminação religiosa).
Não é próprio desta civilização aplicar suas leis punitivas aos vitoriosos e aos que se mantenham de algum modo poderosos. O que tem o mesmo significado de proclamar a liberdade para o crime, por hediondo que seja, a depender de quem tenha sido mandante, protetor ou executor.
Com este princípio em vigência desde os primórdios do Ocidente político, os seus povos não tinham mesmo a esperar mais do que os poucos e pequenos passos, século a século, que obtiveram e sobretudo não obtiveram em nome da Justiça.



sábado, 22 de outubro de 2011

Junto há 72 anos, casal americano morre de mãos dadas


Um casal do Estado de Iowa, nos Estados Unidos, que viveu junto durante 72 anos, morreu de mãos dadas em um hospital na semana passada, com um intervalo de apenas uma hora. Norma Stock, 90 anos, e Gordon Yeager, 94, casaram-se em 1939 e tiveram quatro filhos.
Na última quarta-feira, quando iam ao centro da cidade de Des Moines, eles sofreram um acidente de carro. No hospital, foram levados para a unidade de terapia intensiva e os enfermeiros entenderam que não podiam separá-los. "Eles foram colocados no mesmo quarto e ficaram de mãos dadas", disse Dennis Yeager, filho do casal.

Gordon morreu segurando a mão de sua mulher e rodeado por seus familiares. "Foi estranho, eles estavam de mãos dadas e meu pai parou de respirar, mas eu não consegui perceber o que estava acontecendo porque o monitor do coração continuava funcionando", disse Dennis. Uma hora depois, Norma também se foi. "Nenhum deles sobreviveria sem o outro", disse Donna Sheets, outra filha do casal.

No funeral, Norma e Gordon continuaram de mãos dadas. Segundo a família, o casal seria cremado e suas cinzas seriam misturadas. “Eles eram um casal à moda antiga. Acreditavam na frase ‘até que a morte os separe’”, resumiu o filho Dennis.
As informações são do MSNBC.

Notícia vista no UOL

Kadhafi, desafiador e combativo até o fim


Kadhafi, desafiador e combativo até o fim

Líder líbio ignorou apelos da comunidade internacional para rendição


O coronel Muamar Kadhafi, fiel a sua reputação de indivíduo combativo e desafiador, ignorou até o fim os chamados da comunidade internacional e dos rebeldes para se render. Após governar a Líbia com mão de ferro por 42 anos, o o ditador terminou deposto em meio à chamada "Primavera Árabe", seguindo os passos do tunisiano Zine al Abidine Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak. Perseguido pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade cometidos em seu país desde o início da rebelião, no dia 15 de fevereiro, o coronel havia chamado os rebeldes líbios de "ratos" durante todo o conflito.

Kadhafi, o veterano entre os líderes árabes e africanos, nasceu – segundo sua própria lenda – em uma tenda beduína no deserto de Sirte em 1942 em uma família de pastores da tribo dos Gadafa. Recebeu uma educação religiosa rigorosa e ingressou no exército em 1965. No dia 1º de setembro de 1969, aos 27 anos, liderou o golpe de Estado que depôs, sem derramamento de sangue, o velho rei Idris.

Trajes tradicionais

Em 1977, proclamou a "Jamahiriya", que definiu como uma "República de Massas" governada por meio de comitês populares eleitos, e concedeu a si mesmo o título de "Guia da Revolução". Seu estilo de vida, seus trajes tradicionais, sua maneira caprichosa de exercer o poder neste imenso e rico país petroleiro, pouco povoado, resultaram inconsistentes e imprevisíveis para os ocidentais e também para os árabes.

Com a saariana cáqui, um uniforme militar adornado com dourados, ou com a "gandura", a túnica dos beduínos, Kadhafi gostava de receber autoridades em uma tenda, em Sirte ou no pátio de sua residência-quartel de Bab el Aziziya, no centro de Trípoli. Este sedutor apreciava a companhia feminina e com frequência se apresentava rodeado de mulheres com uniforme militar, suas "amazonas". Alimentava-se de forma frugal, sobretudo com leite de camelo.

Personagem teatral, costumava se distinguir por atos e palavras que divertiam as pessoas, mas também lançou insultos contra seus homólogos árabes e elaborou teorias muito pessoais sobre a história e os homens. Em uma cúpula árabe, em 1988, utilizou uma luva branca apenas na mão direita e explicou que queria deste modo evitar apertar "mãos manchadas de sangue".





Texto do Correio do Povo