terça-feira, 18 de outubro de 2011

Luta social vai se ampliar, diz professor

Luta social vai se ampliar, diz professor

Indústria se sustenta na precarização do trabalho, diz Ricardo Antunes, que escreveu 'O Continente do Labor'

Bancários mostraram que, mesmo em mundo de máquinas, é possível parar um banco para negociar, afirma autor


ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

A terceirização reduz salários, aumenta a intensidade do trabalho e desorganiza os sindicatos. É nela que a indústria se sustenta. A visão é do sociólogo Ricardo Antunes, 58, que prevê aumento nas lutas sociais no mundo. Professor de sociologia do trabalho na Unicamp, ele está lançando o livro "O Continente do Labor". Nesta entrevista, ele fala das greves dos bancários e dos Correios.
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Folha - Como analisar greves como a dos bancários e dos Correios?
Ricardo Antunes -
Diziam que não iria haver mais greve bancária. Chegamos a ter 1 milhão de bancários. Hoje são 490 mil, mas há milhares nos call centers que realizam trabalho de bancários. Até a compensação é terceirizada. A terceirização é a porta da precarização e da informalidade. Os bancários mostram que é possível fazer greve.

Qual é a novidade nesse movimento?
Para extrair um aumento um pouco maior do que a inflação do setor mais rentável da economia é preciso fazer greve. Mesmo nesse mundo cheio de máquinas, com pelo menos um terço do trabalho bancário sendo realizado por terceirizados, é possível parar um banco e exigir negociações. Já os Correios querem se tornar uma transnacional da correspondência, mas tratam os seus trabalhadores como um nível de intensificação da força de trabalho.

Como é essa nova morfologia produtiva e como ela afeta o sindicalismo?
Reestruturação produtiva, desregulamentação do trabalho, informalização. Chegamos a ter quase 60% na informalidade. Os sindicatos não sabem representar a classe trabalhadora informalizada.

O sindicalismo hoje não é muito atrelado ao Estado e ficou anestesiado?
Sim. O sindicalismo autônomo dos anos 70 desapareceu. Na CUT houve processo gradativo estatização das cúpulas. A briga é para ver quem fica com o ministério, a previdência, a secretaria.

Historicamente como isso se situa?
O sindicalismo está vivendo um processo semelhante ao que houve na virada do século 19 para o 20, quando o sindicalismo de ofício foi alterado porque nasceu a indústria fordista e foi criado o sindicalismo de massa. Agora, a tendência da indústria é ser liofilizada, enxuta. Assim, as empresas esparramam a produção e nasceram pequenas fábricas chamadas de "outsourcing". Qual é o sindicato hoje capaz de enfrentar isso? Os sindicatos, como no século 19 para o 20, estão passando por um tsunami e desse tsunami vão nascer formas novas.

A Zara se enquadra nisso?
Terceirização é isso. A indústria de ponta hoje se sustenta no trabalho precário. A terceirização reduz salários e aumenta a intensidade do trabalho, o adoecimento, as horas de trabalho, a desorganização sindical, a rotatividade. A Zara utilizou de trabalho de bolivianos e peruanos, que trabalham 16 horas por dia na indústria de confecção. Isso tem que ser coibido.

O sr. diz que Lula foi o paladino do capital. O que acha de Dilma?
É uma incógnita. Num período de crescimento de 4%, a incógnita não aflora. Quando a coisa esquentar e as lutas sociais se ampliarem...

O sr. acha que isso vai acontecer?
Não tenho dúvida. Tem havido em todo o cenário global uma amplificação das lutas sociais.


Entrevista publicada na Folha de São Paulo, de 13 de outubro de 2011

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