Mil vozes
RIO DE JANEIRO - Ele tinha mil vozes na cabeça.
Locutores de rádio famosos, narradores de futebol, de turfe e de cinejornais, cantores de qualquer nacionalidade, astros de Hollywood e dos cinemas francês e italiano -não havia ninguém que José Vasconcellos não conseguisse imitar. Seu ídolo era o americano Danny Kaye, que fazia aquilo tudo e muito mais. Mas, sem patriotada, José Vasconcellos fazia tudo que Danny Kaye fizesse e mais ainda -e provava isso ao imitá-lo, inclusive na sua especialidade: cantar em altíssima velocidade.
Era capaz de reproduzir qualquer sotaque regional brasileiro, sete ou oito acentos estrangeiros e fazer a voz de pessoas de qualquer idade ou nível social. Era também craque em gagos -seu monólogo do narrador gago de futebol era uma pequena obra-prima.
E não havia som emitido pelo corpo, por mais heterodoxo, que ele não reproduzisse. O mesmo quanto a vozes de animais, ruídos de máquinas e toda espécie de sonoplastia urbana ou rural. Guardava de cor monólogos enormes, em linguagem normal, inventada ou em falas nonsense. Além de poemas, como uma longa seção de "Os Lusíadas", que ele parodiava em várias línguas.
José Vasconcellos escrevia os próprios textos e era engraçado sem usar palavrões ou grosserias. Ao contrário, abusava de referências sofisticadas. Sua plateia tinha de ficar esperta para acompanhá-lo e, mesmo assim, ele lotava teatros de terça a domingo, no Rio e em SP, nos anos 50 e 60. Foi o primeiro cômico stand-up do Brasil, inspirador direto de Chico Anysio e Jô Soares.
Morreu nesta terça-feira, aos 85 anos. Pelo que li num obituário, nos últimos anos sofria da doença de Alzheimer. É cruel. Como se sentiria vendo fugir todos os esquetes, monólogos, vozes e sons que sua cabeça privilegiada abrigava?
RIO DE JANEIRO - Ele tinha mil vozes na cabeça.
Locutores de rádio famosos, narradores de futebol, de turfe e de cinejornais, cantores de qualquer nacionalidade, astros de Hollywood e dos cinemas francês e italiano -não havia ninguém que José Vasconcellos não conseguisse imitar. Seu ídolo era o americano Danny Kaye, que fazia aquilo tudo e muito mais. Mas, sem patriotada, José Vasconcellos fazia tudo que Danny Kaye fizesse e mais ainda -e provava isso ao imitá-lo, inclusive na sua especialidade: cantar em altíssima velocidade.
Era capaz de reproduzir qualquer sotaque regional brasileiro, sete ou oito acentos estrangeiros e fazer a voz de pessoas de qualquer idade ou nível social. Era também craque em gagos -seu monólogo do narrador gago de futebol era uma pequena obra-prima.
E não havia som emitido pelo corpo, por mais heterodoxo, que ele não reproduzisse. O mesmo quanto a vozes de animais, ruídos de máquinas e toda espécie de sonoplastia urbana ou rural. Guardava de cor monólogos enormes, em linguagem normal, inventada ou em falas nonsense. Além de poemas, como uma longa seção de "Os Lusíadas", que ele parodiava em várias línguas.
José Vasconcellos escrevia os próprios textos e era engraçado sem usar palavrões ou grosserias. Ao contrário, abusava de referências sofisticadas. Sua plateia tinha de ficar esperta para acompanhá-lo e, mesmo assim, ele lotava teatros de terça a domingo, no Rio e em SP, nos anos 50 e 60. Foi o primeiro cômico stand-up do Brasil, inspirador direto de Chico Anysio e Jô Soares.
Morreu nesta terça-feira, aos 85 anos. Pelo que li num obituário, nos últimos anos sofria da doença de Alzheimer. É cruel. Como se sentiria vendo fugir todos os esquetes, monólogos, vozes e sons que sua cabeça privilegiada abrigava?
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