terça-feira, 18 de outubro de 2011

Apesar de militante, livro contribui para história do trabalho (sobre o livro "O Continente do Labor")

Apesar de militante, livro contribui para história do trabalho

DE SÃO PAULO

Uma história latino-americana a partir da perspectiva do trabalho. Mostrar como as mudanças na política, na economia e na sociedade afetaram as maneiras de trabalhar e as organizações sindicais. Com essa ideia, o sociólogo Ricardo Antunes escreve "O Continente do Labor".
O autor concentra sua análise no século 20. Rememora revoluções no México, na Bolívia e em Cuba. Lembra dos golpes militares na região. Trata do getulismo, do peronismo e do lulismo. Faz interessante análise da ascensão do PT e do declínio do PCB. Em alguns períodos, faz referência à atuação dos sindicatos, de que forma se conectaram com governos, partidos e com suas bases de trabalhadores. Não é um trabalho exaustivo. Tem características de coletânea de ensaios. Não abrange de forma regular os principais países da América Latina.
Seu foco principal é o Brasil e o período que ele classifica como "desertificação neoliberal", nos anos 90, quando foi desmontado o tripé produtivo que integrava estatais, empresas privadas nacionais e estrangeiras. Com a privatização da mineração, da siderurgia, da telefonia, do setor elétrico e outros, "cerca de 25% do PIB brasileiro transferiu-se do setor produtivo estatal para o capital transnacional, redesenhando e internacionalizando ainda mais o capitalismo no Brasil", diz Antunes.
Desse ponto de vista, ele mostra a desregulamentação do mercado de trabalho e sua precarização, com o avanço da terceirização da mão de obra. Descreve processos de "downsizing" nas empresas, que "reduziram o número de trabalhadores e aumentaram as formas de superexploração da força de trabalho".
Crítico do PT, Antunes ataca a CUT, que enxerga como uma central "cada vez mais burocratizada, institucionalizada e negocial". Talvez por conta dessa análise, o livro quase não trata das possíveis alterações mais recentes do mercado de trabalho provocadas pela ascensão de contingentes para a classe média e pela descoberta do pré-sal. A própria política de reajuste do salário mínimo não ganha relevo.
O livro tem esse viés. É contra tucanos e petistas. Defende o socialismo. É militante. Mas não deixa de agregar pontos relevantes para a elaboração de uma história do trabalho. (EL)

O CONTINENTE DO LABOR
AUTOR Ricardo Antunes
EDITORA Boitempo Editorial
QUANTO R$ 35
AVALIAÇÃO Bom


Texto publicado na Folha de São Paulo, de 13 de outubro de 2011.

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