quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Irã abre caminho para processar EUA por golpe de 1953

Irã abre caminho para processar EUA por golpe de 1953
Parlamento aprova criação de comissão que terá como tarefa apresentar opções jurídicas para ação legal
SAMY ADGHIRNIDE TEERÃ

O Parlamento do Irã deu ontem o primeiro passo rumo a uma ação judicial contra os EUA pelo golpe de Estado que derrubou, há 60 anos, o governo democraticamente eleito do premiê Mohamed Mossadegh.
A medida surge uma semana após a divulgação de documentos que provam a autoria de Washington no golpe tido como ato fundador do sentimento antiamericano no Irã.
Dos 196 deputados presentes na sessão, 167 aprovaram a criação de uma comissão que deverá apresentar, até fevereiro, relatório sugerindo opções jurídicas para processar o Estado americano.
Não está claro se a ação visa compensação financeira.
"O comportamento opressivo dos EUA [em 1953] mostra que a nação iraniana dever erguer-se e buscar os seus direitos", disse o deputado Mahdi Mousavinejad.
Já o deputado Mohammad Mahdi Rahbari votou contra a comissão alegando que ela "não trará benefícios" ao Irã.
O papel da CIA no golpe contra Mossadegh foi confirmado em documentos oficiais divulgados pelo Arquivo de Segurança Nacional dos EUA.
"O golpe militar que derrubou Mossadegh [...] foi realizado sob direção da CIA como um ato de política externa americana concebido e aprovado pelas mais altas instâncias do governo", diz o texto, liberado em virtude da lei de acesso à informação.
Americanos e britânicos derrubaram Mossadegh em agosto de 1953 em represália à decisão do premiê de nacionalizar a indústria de petróleo do Irã. A nacionalização visava equilibrar o lucro obtido com a commodity, já que iranianos recebiam apenas 17% das receitas.
EUA e Reino Unido também temiam que, em plena Guerra Fria, Mossadegh planejasse adotar o comunismo no Irã.
Espiões americanos infiltrados no país conseguiram criar caos financiando ações de vandalismo e corrompendo clérigos e políticos. A operação, conhecida como Ajax, também teve campanha de difamação na mídia iraniana.
Mossadegh foi preso e o xá Mohamed Reza Pahlavi, alinhado ao Ocidente, recuperou plenos poderes. Ele reinou até ser varrido do poder pela revolução de 1979.
O atual regime iraniano, embora desconfortável com a figura de Mossadegh, que não era religioso, cita o golpe como prova definitiva das supostas más intenções do Ocidente em relação ao Irã.


Reprodução da Folha de São Paulo.

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